Simões
1961-1975
Quem diria que um jogador de futebol, pelas suas qualidade intrínsecas, a tantos heróis de banda desenhada pudesse ser comparado? Quem? Simões, António Simões, o genial extremo-esquerdo, que emergiu no começo da década de 60 e até meados da seguinte pontificou no Benfica. Ele era o Rato Mickey, na sua principal alcunha, imagem da agilidade em corpo minguado. Ele poderia ser o Speedy Gonzalez, conceito de rapidez, de velocidade. Ele poderia ser também o Astérix, noção de combatente, de indomável. Ele poderia ser ainda o Lucky Luck, ideal de oportunidade, de precisão. E porque parecia driblar mais rápido que a própria sombra, ele só poderia ser o nosso Simões. Que ao poema chamava finta.
Deu os primeiros passos na casa de pasto do pai, em Corroios, sem acompanhado por Amílcar, o irmão gémeo. Também por lá, um e outro ouviram as primeiras das depois recorrentes invectivas. O futebol jamais daria sustento, advogavam os pais, assim com quem água deita ao fogo da paixão. Aos 14 anos, já sem os carinhos e as censuras do progenitor, o Almada insistiu com a viúva, a D. Palmira, para que os jovens se inscrevessem nas fileiras do clube. Ao projectar dois sorrisos de orelha a orelha, a mãe permissão deu. Mesmo assim, António começou a trabalhar numa empresa de máquinas de escrever, enquanto Amílcar tão-pouco ingressou no Almada, optando pelos estudos, ele que mais tarde atravessaria o Atlântico, fixando-se no Brasil, no negócio livreiro.
Pouco tempo depois, o Belenenses haveria de convidar António Simões. Prometeram-lhe 15 escudos por treino, depois dos primeiros testes em Belém, mas os dirigentes do seu clube fizeram abortar a transferência ao exigirem compensação de 50 contos. Apareceu o Sporting, com a oferta de 750 escudos mensais. Passou a treinar-se em Alvalade, embora ao domingo actuasse pelo Almada, que a época ainda não havia terminado e o dinheiro também não chegara à margem esquerda do Tejo.
Num desses jogos, o experiente Fernando Caiado foi ao Montijo. A intenção era observar Jorge e Moreira, mas os olhos derreteram-se-lhe com a exibição do miúdo António. O Benfica investiu célere. A Corroios chegaria um cheque de cinco mil escudos para Simões, outro de meia centena de contos para o Almada.
Começou pelos juniores, no começo de uma arrancada fulgurante. Ainda em 1960, jogou por Portugal, em Viena, terceiro classificado seria no então Torneio Internacional da UEFA, uma espécie de Campeonato Europeu. No ano imediato, debutava José Maria Pedroto como treinador, Simões venceu o troféu, em Lisboa, numa altura em que Guttmann o havia já chamado para trabalhar com os seniores.
De repente, tinha o mundo a seus pés. Campeão nacional e europeu se fez, titularidade garantida, passou a ser peça obrigatória no xadrez encarnado. Tinha um futebol virtuoso. Amava o drible. Actuava sempre com rapidez, versatilidade e alegria. Roçava a perfeição. Parecia gnomo contra titã. “Às vezes trocava os pés e até os dedos no auge do esforço”, confessava. Era verdade.
Momentos de volúpia foram mais que muitos. Sempre a serpentear pelos campos, ao longo de 14 anos no Benfica, coleccionou dez Campeonatos, cinco Taças de Portugal e uma dos Campeões Europeus. Rico palmarés esse, a que se soma o terceiro lugar no Mundial de Inglaterra. Sem pasmo que “Simões é, sem discussão também, o melhor extremo-esquerdo da Europa”. O panegírico foi da autoria de Hermann Eppenhoff, treinador do Borússia de Dortmund. Tinha Simões 20 anos.
Em 1966, a campanha dos Magriços teve muito de Eusébio, mas dele também. De resto, ambos marcaram naquele alucinante jogo frente ao campeão Brasil de Pele. Ironicamente, o golo de Simões, que abriu o marcador, foi apontado com a cabeça. “Quando o Manga, guarda-redes brasileiro, de lágrimas nos olhos, me veio felicitar, mal a partida terminou, só sei que não consegui olhar para aquele gigante que estava a cumprimentar-me, depois de eu, quase um anão ao pé dele, lhe ter marcado um golo de cabeça”. A mão, essa, estendeu; os olhos projectou no relvado.
O know-how de Simões foi, por mais do que uma ocasião, de grande utilidade para o Benfica. No clube assumiu o cargo de director desportivo. Simões e Benfica merecem-se. O Benfica lançou Simões. Simões projectou o Benfica. Em muitas das mais belas liturgias de cem anos de memórias.
Épocas no Benfica: 14 (61/75)
Jogos: 448
Golos: 70
Títulos: 10 CN, 5TP, 1TC
Texto: Memorial Benfica, 100 Glórias
Copiado de Ednilson
Equipa Principal | Jogos | Minutos | Cartões (A./V.) | Golos | |
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1961/1962 | 24 | 2160 | 0 / 0 | 8 | |
Campeonato Nacional | 11 | 990 | 0 / 0 | 3 | |
Taça de Portugal | 7 | 630 | 0 / 0 | 4 | |
Taça dos Campeões Europeus | 5 | 450 | 0 / 0 | 1 | |
Taça Intercontinental | 1 | 90 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 6 | 0 | |||
1962/1963 | 39 | 3510 | 0 / 0 | 10 | |
Campeonato Nacional | 24 | 2160 | 0 / 0 | 10 | |
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão | 2 | 180 | 0 / 0 | 0 | |
Taça de Portugal | 5 | 450 | 0 / 0 | 0 | |
Taça dos Campeões Europeus | 6 | 540 | 0 / 0 | 0 | |
Taça Intercontinental | 2 | 180 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 10 | 3 | |||
1963/1964 | 38 | 3420 | 0 / 0 | 9 | |
Campeonato Nacional | 25 | 2250 | 0 / 0 | 5 | |
Taça de Portugal | 9 | 810 | 0 / 0 | 2 | |
Taça dos Campeões Europeus | 4 | 360 | 0 / 0 | 2 | |
Amigáveis | 8 | 1 | |||
1964/1965 | 34 | 2880 | 0 / 0 | 6 | |
Campeonato Nacional | 16 | 1440 | 0 / 0 | 0 | |
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão | 2 | 0 | 0 / 0 | 1 | |
Taça de Portugal | 7 | 630 | 0 / 0 | 3 | |
Taça dos Campeões Europeus | 9 | 810 | 0 / 0 | 2 | |
Amigáveis | 4 | 0 | |||
1965/1966 | 29 | 2610 | 0 / 0 | 7 | |
Campeonato Nacional | 24 | 2160 | 0 / 0 | 7 | |
Taça de Portugal | 1 | 90 | 0 / 0 | 0 | |
Taça dos Campeões Europeus | 4 | 360 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 4 | 0 | |||
1966/1967 | 28 | 2520 | 0 / 0 | 4 | |
Campeonato Nacional | 22 | 1980 | 0 / 0 | 3 | |
Taça de Portugal | 4 | 360 | 0 / 0 | 1 | |
Taça das Cidades com Feira | 2 | 180 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 11 | 2 | |||
1967/1968 | 33 | 2790 | 0 / 0 | 2 | |
Campeonato Nacional | 19 | 1710 | 0 / 0 | 1 | |
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão | 2 | 0 | 0 / 0 | 1 | |
Taça de Portugal | 5 | 450 | 0 / 0 | 0 | |
Taça dos Campeões Europeus | 7 | 630 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 9 | 1 | |||
1968/1969 | 36 | 3036 | 0 / 0 | 5 | |
Campeonato Nacional | 22 | 1884 | 0 / 0 | 2 | |
Taça de Portugal | 9 | 810 | 0 / 0 | 2 | |
Taça dos Campeões Europeus | 5 | 342 | 0 / 0 | 1 | |
Amigáveis | 11 | 1 | |||
1969/1970 | 34 | 2859 | 0 / 0 | 8 | |
Campeonato Nacional | 23 | 1959 | 0 / 0 | 3 | |
Taça de Portugal | 7 | 630 | 0 / 0 | 5 | |
Taça dos Campeões Europeus | 4 | 270 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 7 | 0 | |||
1970/1971 | 26 | 2273 | 0 / 0 | 1 | |
Campeonato Nacional | 19 | 1657 | 0 / 0 | 0 | |
Taça de Portugal | 5 | 436 | 0 / 0 | 1 | |
Taça das Taças | 2 | 180 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 13 | 3 | |||
1971/1972 | 28 | 2478 | 0 / 0 | 5 | |
Campeonato Nacional | 23 | 2045 | 0 / 0 | 4 | |
Taça dos Campeões Europeus | 5 | 433 | 0 / 0 | 1 | |
Amigáveis | 10 | 0 | |||
1972/1973 | 37 | 3076 | 0 / 0 | 6 | |
Campeonato Nacional | 29 | 2536 | 0 / 0 | 5 | |
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão | 2 | 0 | 0 / 0 | 0 | |
Taça de Portugal | 2 | 180 | 0 / 0 | 0 | |
Taça dos Campeões Europeus | 4 | 360 | 0 / 0 | 1 | |
Amigáveis | 13 | 0 | |||
1973/1974 | 36 | 3010 | 0 / 0 | 2 | |
Campeonato Nacional | 27 | 2244 | 0 / 0 | 2 | |
Taça de Portugal | 5 | 406 | 0 / 0 | 0 | |
Taça dos Campeões Europeus | 4 | 360 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 6 | 1 | |||
1974/1975 | 33 | 2576 | 0 / 0 | 0 | |
Campeonato Nacional | 26 | 2075 | 0 / 0 | 0 | |
Taça de Portugal | 1 | 90 | 0 / 0 | 0 | |
Taça das Taças | 6 | 411 | 0 / 0 | 0 | |
Amigáveis | 11 | 1 | |||
Total Jogos Amigáveis | 123 | 13 | |||
Total Jogos Oficiais | 455 | 39198 | 0 / 0 | 73 |
Na equipa principal |
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Primeiro jogo
SL Benfica 0 - 1 Sporting CP
Torneio Relâmpago
Último jogo
SL Benfica 3 - 1 UFCI Tomar
Campeonato Nacional
- administrador a Domingo, 28 Março 2021