Nelson Oliveira, entre desvios e atalhos

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Nelson Oliveira tem um plano de carreira definido. Ele já sabe qual é o objetivo de sua trajetória, disputar as grandes competições do futebol mundial, mas ainda não traçou no mapa o melhor roteiro para chegar lá. Por isso, aos 22 anos, o português do Rennes está aproveitando para explorar cada curva e pedaço de chão da estrada que leva ao sucesso. Isso depois de tê-la iniciado em excesso de velocidade.

O atacante tinha apenas 16 anos quando estreou como profissional e ainda por cima com a camisa do Benfica, um gigante do futebol mundial. Após ter sido chamado por Quique Flores, técnico da equipe na época, para disputar uma partida de pré-temporada em 2008, ele foi relacionado para um jogo da Copa da UEFA contra o Napoli.

Foi um período de aprendizado para o jovem Nelson, mas a reserva lhe dava poucas oportunidades para continuar progredindo e o passo seguinte foi adquirir experiência em sucessivos empréstimos a outros clubes. Começava um giro pela Península Ibérica, pontuado por quatro clubes diferentes ao longo de quatro anos. "Acho normal um jovem jogador rodar bastante", disse ao FIFA.com o atacante que defendeu Rio Ave, Paços de Ferreira e La Coruña. "Precisamos disso para amadurecer. Não vejo como um aspecto negativo da minha carreira."

Fosse um problema, Nelson não teria jogado e brilhado em todas as seleções de base de Portugal, a ponto de ser rapidamente considerado o futuro da equipe nacional lusa. Mas, embora a autoestrada seja o caminho mais rápido até o destino, é nas trilhas e veredas que se veem as mais belas paisagens. As da Bretanha, no noroeste da França, não deixavam nada a desejar às colinas de Lisboa e atraíram o jovem atacante. "É verdade que decidi me transferir para uma equipe mais modesta, mas era onde eu teria mais chances de jogar", explicou o ex-frequentador do Estádio da Luz. "O Benfica é um dos maiores clubes do mundo, mas no Rennes posso jogar, mostrar minhas qualidades e continuar evoluindo."

Engarrafamento ofensivo
O progresso é tão palpável que, em somente 11 partidas do Campeonato FrancêsNelson Oliveirajá marcou sete gols, número que já supera cada uma de suas quatro temporadas anteriores. "Estou aqui há apenas alguns meses, mas já aprimorei meu futebol", garantiu, antes de revelar o segredo do sucesso. "Estou conseguindo jogar regularmente, o que não aconteceu muito nos últimos tempos. Além de estar fazendo gols."

Preso ao engarrafamento do setor ofensivo do Benfica na temporada 2011/12, quando o paraguaio Óscar Cardozo e o argentino Javier Saviola gozavam da preferência do técnico, o atacante resolveu pegar carona no La Coruña na temporada seguinte. Apesar de alguns gols importantes no início de sua passagem pelo clube espanhol, no entanto, ele logo foi deixado à beira da estrada para dar lugar ao experiente Riki. Mas suas atuações não passaram despercebidas pelo então treinador do Real Sociedad, Philippe Montanier, que se apressou a contratá-lo ao assumir o comando do Rennesem meados deste ano. "Nelson era nossa prioridade", declarou o francês assim que o empréstimo foi oficializado. "Trata-se de um jogador promissor e completo, que tem velocidade e sabe preencher os espaços. Ele é muito habilidoso, mas também tem um ótimo preparo físico."

Para o jovem português, o interesse de Montanier teve importância fundamental na resolução de encarar as estradas francesas. "O treinador de fato queria que eu viesse jogar aqui e isso foi decisivo para a minha escolha", admitiu. "Após a temporada passada, em que não tive muitas oportunidades de mostrar meu valor, eu estava realmente precisando jogar com mais frequência. Tive a sensação de que eu precisava do clube e o clube precisava de mim."

Ainda que esse casamento não tenha rendido mais do que uma 11ª posição no Campeonato Francês até agora, o centroavante do Rennes prefere acreditar que o melhor está por vir. "Tudo vai muito bem e estou satisfeito com o que realizamos até aqui", comentou Nelson, que sempre sonhou em jogar na Inglaterra e acabou apaixonado pela outra margem do Canal da Mancha. "Confesso que não sabia muita coisa da França no início da carreira. A Premier League sempre foi meu campeonato preferido e meu objetivo, mas nos últimos anos comecei a acompanhar cada vez mais o futebol francês. Fiquei positivamente surpreso com o que descobri. Aqui estão alguns dos melhores atacantes do mundo."

Rumo ao palco principal
Zlatan Ibrahimovic, do Paris Saint-Germain, certamente é um dos craques cujo ritmo na tabela de artilheiros Nelson Oliveira tem tentado acompanhar. "Ele é um dos melhores atacantes que temos na França, ao lado de Edinson Cavani e Falcao, além de ser meu jogador preferido", confessou o português antes de acrescentar um comentário malicioso. "Mas estou muito contente que ele não tenha sido feliz na repescagem."

Afinal, no confronto de ida e volta entre Suécia e Portugal pelas eliminatórias da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a seleção lusa eliminou os escandinavos graças sobretudo a Cristiano Ronaldo, mas, curiosamente, sem Nelson Oliveira. "Curiosamente" porque, embora esteja atravessando a temporada mais prolífica da carreira, ele não foi convocado por Paulo Bento, que o havia levado para a UEFA Euro 2012 depois de ter ficado encantado com as fantásticas atuações da jovem promessa na Copa do Mundo Sub-20 da FIFA Colômbia 2011.

"Não sei explicar muito bem o início da minha carreira internacional", admitiu o Bola de Prata adidas do torneio colombiano, cujo título os portugueses deixaram escapar para o Brasil na final. "Quando estava no Benfica, não era fácil conquistar espaço em meio a tantos atacantes experientes, mas acho que poderia ter tido mais oportunidades na temporada 2012/13. Agora, a atual temporada pode ser ideal para recuperar o tempo perdido. Eu precisava jogar com regularidade para ser convocado para a seleção. E tenho certeza de que meus gols me ajudarão a chegar lá."

Em que pesem os tropeços, desvios e meias-voltas, Nelson Oliveira não desiste de percorrer o caminho que leva ao palco principal. "Claro que sonho disputar a Copa do Mundo, mas sei que será difícil", disse. "Todo jogador dará o máximo para estar lá e eu não serei exceção à regra. Tenho que ter paciência e acreditar que receberei uma chance." Afinal, o jovem e talentoso português já compreendeu que o mais importante é o destino final, não o trajeto para chegar lá.