Estádio da Luz

OclassicoNº10

Spoiler
Citação de: Lux Rubra em 26 de Fevereiro de 2024, 19:37Boa tarde a todos, benfiquistas.


Esta será a minha primeira e última mensagem aqui no fórum, que acompanho desde a meninice dos meus 13 anos, encontrando aqui um reduto devotado ao Benfica, que muita companhia me fez em horas de tristeza e langor. Hoje, ver um jogo do Glorioso sem acompanhar os comentários (que muito me divertem) dos membros desta assembleia.


Há dias, eu e os meus pais arrumámos a garagem do nosso apartamento de Lisboa, nos Olivais, onde o meu pai cresceu. Cresci em Viseu, mas guardo muitas raízes na capital. O meu pai foi fundador dos Diabos Vermelhos, o Sr. Rui Paixão, que criou o grupo com o meu Padrinho, o meu Tio (o seu irmão) , o Silvio (que trabalha na Pastelaria Suiça), João Matias, Irmãos Bulhosa, o Vilela  o Cambalhota (de Campo de Ourique) na antiga Quelimane, cuja ideia nasceu na Rua Via Catió, apesar de os Diabos terem sido fundados oficialmente por 11 membros na sede da antiga Rua Jardim do Regedor). A História é, muitas vezes, fria aos nomes.

A fundação é atribuída a Jorge França, que  privou e conheceu o meu pai, e que teve muitos méritos incontestáveis, mas, talvez por cansaço em explicar, assumiu esse título. O Jorge França entrou nos Diabos muito depois da fundação original, com 13 ou 14 anos de idade. O meu pai até pergunta, em jeito de desafio para quem duvida, quem era o chefe da delegação dos DV do Norte e em que cidade estava; qual era o chefe da delegação do centro e em que cidade; qual o nome do banco onde os DV tinham conta e movimentavam os seus dinheiros para pagamentos de bandeiras, camisolas, autocarros; qual o primeiro patrocinador dos DV e onde foi negociado; qual o nome da pessoa da direcção da Jerónimo Martins que servia de ponto de contacto entre o presidente Fernando Martins e a direcção dos Diabos e ainda onde é que esse senhor se reuniam regularmente para jantar. O meu pai diz que se alguém conseguir responder, assume a perda do título !


Na garagem, encontrámos estas fotos, que convosco partilho, numa forma de agradecimento pela companhia que o fórum me faz.


Partilho convosco algumas curiosidades, saídas da boca do meu pai:


- Um dos nomes estudados para a claque foi "Piretes com Varizes", proposta pelo meu Tio, que nunca renunciou ao humor.

- No começo das hostilidades nortenhas do Pinto da Costa e com a crescente violência feita contra equipas e adeptos do Benfica nas deslocações ao Porto, o meu pai estudou a hipótese de juntar seguranças, ex-membros de discotecas e gente problemática para uma ala, digamos, miliciana, que responderia aos Super Dragões: A Legião Condor. Se tivesse levado isso a cabo, talvez os SD nunca seriam o que são hoje.

- Num jogo nas Antas, membros dos Diabos roubaram a cabeça de um porco num restaurante e abriraram as portas da caravana onde viajavam, exibindo a cabeça aos andrades.

- Os Diabos foram convidados, nos anos 80, para participarem no Carnaval de Torres Vedras.


O meu pai não ficou milionário porque quis respeitar o seu legado e dos seus companheiros. Não faltaram propostas chorudas de portugueses da Suiça ou de França, que visavam o lucro que poderia advir de um grupo consideravelmente grande. O meu pai não quis mercantilizar a coisa. Os pobres dos meus avós, modestos agricultores do Douro que se mudaram para Lisboa, recebiam centenas de telefonemas, sem saber muito bem o que estava a acontecer. A minha avó, que se tornou costureira, corria pela casa fora a cada golo do Benfica, bracejando já com poucas forças e, poucos dias antes de partir para Deus e já acamada, perguntou pelo último resultado do Benfica. Isto em 2002.


Digo muitas vezes que a minha mãe deu-me à luz, mas o meu pai deu-me a Luz.Sou um homem de fé, católico fervoroso, e ainda assim, em contraste com a minha religião, mantenho uma só superstição: o peluche da águia do Benfica que comprei na antiga Luz. Serviu de amuleto da sorte para jogos, exames, entrevistas de emprego e tantas outras efemérides. Confortava-me. Acredito que nunca abandonamos o benfiquismo mais inocente, que é uma memória afectiva.


O Benfica é isto. Um conforto, um tesouro de lembranças, ecos de rostos familiares, experiências, gargalhadas, traumas. É o clube que jogando no nosso dia de casamento ou do nascimento de um filho, impele-nos a espreitar matreiramente o resultado. É um símbolo popular do nosso Portugal, omnipresente em qualquer tasca do interior, ladeado de Nossa Senhora ou de um calendário deslavado da selecção.


Perdoem-me a extensão do texto e a qualidade das imagens. Não tive ainda tempo de digitalizar.


Um abraço a todos. Viva o Glorioso Benfica!!


Jogos na Luz, jogo no Porto (Boavista), Coro do Benfica, a antiga águia e jantar de aniversário do clube, deslocação a Portimão












[fechar]
Ainda me lembro de idade tenra assistir aos treinos do meu irmão de rugby no unico campo que havia sem ser o do estádio, onde era dividido com outras modalidades.
A chuva torrencial a bater no vidro, eu e o meu pai no carro com o rádio ligado e o volume a meio gás.
Olhava à volta e já sabia de quem gostava, quem torcia e quem queria bem.

Foi uma das memórias que me trouxeste ao ler o teu post.

Obrigado! Benfica é isto! É um misto de experiências, paixão e muita muita garra e crença em fazer o clube do povo o clube da Nação e arredores.

Não há palavras para este Amor.

Bethoven

Grande testemunho!

Obrigado, Obrigao, Obrigado.

Viva o nosso BENFICA.

daniii95

Citação de: Lux Rubra em 26 de Fevereiro de 2024, 19:37Boa tarde a todos, benfiquistas.


Esta será a minha primeira e última mensagem aqui no fórum, que acompanho desde a meninice dos meus 13 anos, encontrando aqui um reduto devotado ao Benfica, que muita companhia me fez em horas de tristeza e langor. Hoje, ver um jogo do Glorioso sem acompanhar os comentários (que muito me divertem) dos membros desta assembleia.


Há dias, eu e os meus pais arrumámos a garagem do nosso apartamento de Lisboa, nos Olivais, onde o meu pai cresceu. Cresci em Viseu, mas guardo muitas raízes na capital. O meu pai foi fundador dos Diabos Vermelhos, o Sr. Rui Paixão, que criou o grupo com o meu Padrinho, o meu Tio (o seu irmão) , o Silvio (que trabalha na Pastelaria Suiça), João Matias, Irmãos Bulhosa, o Vilela  o Cambalhota (de Campo de Ourique) na antiga Quelimane, cuja ideia nasceu na Rua Via Catió, apesar de os Diabos terem sido fundados oficialmente por 11 membros na sede da antiga Rua Jardim do Regedor). A História é, muitas vezes, fria aos nomes.

A fundação é atribuída a Jorge França, que  privou e conheceu o meu pai, e que teve muitos méritos incontestáveis, mas, talvez por cansaço em explicar, assumiu esse título. O Jorge França entrou nos Diabos muito depois da fundação original, com 13 ou 14 anos de idade. O meu pai até pergunta, em jeito de desafio para quem duvida, quem era o chefe da delegação dos DV do Norte e em que cidade estava; qual era o chefe da delegação do centro e em que cidade; qual o nome do banco onde os DV tinham conta e movimentavam os seus dinheiros para pagamentos de bandeiras, camisolas, autocarros; qual o primeiro patrocinador dos DV e onde foi negociado; qual o nome da pessoa da direcção da Jerónimo Martins que servia de ponto de contacto entre o presidente Fernando Martins e a direcção dos Diabos e ainda onde é que esse senhor se reuniam regularmente para jantar. O meu pai diz que se alguém conseguir responder, assume a perda do título !


Na garagem, encontrámos estas fotos, que convosco partilho, numa forma de agradecimento pela companhia que o fórum me faz.


Partilho convosco algumas curiosidades, saídas da boca do meu pai:


- Um dos nomes estudados para a claque foi "Piretes com Varizes", proposta pelo meu Tio, que nunca renunciou ao humor.

- No começo das hostilidades nortenhas do Pinto da Costa e com a crescente violência feita contra equipas e adeptos do Benfica nas deslocações ao Porto, o meu pai estudou a hipótese de juntar seguranças, ex-membros de discotecas e gente problemática para uma ala, digamos, miliciana, que responderia aos Super Dragões: A Legião Condor. Se tivesse levado isso a cabo, talvez os SD nunca seriam o que são hoje.

- Num jogo nas Antas, membros dos Diabos roubaram a cabeça de um porco num restaurante e abriraram as portas da caravana onde viajavam, exibindo a cabeça aos andrades.

- Os Diabos foram convidados, nos anos 80, para participarem no Carnaval de Torres Vedras.


O meu pai não ficou milionário porque quis respeitar o seu legado e dos seus companheiros. Não faltaram propostas chorudas de portugueses da Suiça ou de França, que visavam o lucro que poderia advir de um grupo consideravelmente grande. O meu pai não quis mercantilizar a coisa. Os pobres dos meus avós, modestos agricultores do Douro que se mudaram para Lisboa, recebiam centenas de telefonemas, sem saber muito bem o que estava a acontecer. A minha avó, que se tornou costureira, corria pela casa fora a cada golo do Benfica, bracejando já com poucas forças e, poucos dias antes de partir para Deus e já acamada, perguntou pelo último resultado do Benfica. Isto em 2002.


Digo muitas vezes que a minha mãe deu-me à luz, mas o meu pai deu-me a Luz.Sou um homem de fé, católico fervoroso, e ainda assim, em contraste com a minha religião, mantenho uma só superstição: o peluche da águia do Benfica que comprei na antiga Luz. Serviu de amuleto da sorte para jogos, exames, entrevistas de emprego e tantas outras efemérides. Confortava-me. Acredito que nunca abandonamos o benfiquismo mais inocente, que é uma memória afectiva.


O Benfica é isto. Um conforto, um tesouro de lembranças, ecos de rostos familiares, experiências, gargalhadas, traumas. É o clube que jogando no nosso dia de casamento ou do nascimento de um filho, impele-nos a espreitar matreiramente o resultado. É um símbolo popular do nosso Portugal, omnipresente em qualquer tasca do interior, ladeado de Nossa Senhora ou de um calendário deslavado da selecção.


Perdoem-me a extensão do texto e a qualidade das imagens. Não tive ainda tempo de digitalizar.


Um abraço a todos. Viva o Glorioso Benfica!!


Jogos na Luz, jogo no Porto (Boavista), Coro do Benfica, a antiga águia e jantar de aniversário do clube, deslocação a Portimão













Se for o mesmo Vilela, poderá ser o meu pai.

Ele também viveu nos Olivais até 1984.

Também esteve na fundação dos diabos vermelhos. Se disseres o teu nome vou ver se ele se lembra de ti!

Tenho aqui muitas fotos do período do Barotti e Eriksson no Benfica. Com calma mando para aqui

O meu pai, e outros e talvez este user conhecessem dos diabos, e dos jogos

Só para terem noção da maluqueira. Nas época de 82/83 a 83/84. O meu pai falhou 5 jogos na luz: Chaves, Campinense, Boavista, Marítimo, Real Betis. Para além disso foi sempre a Alvalade, Bessa, Antas, Campo pelado do salgueiros uma vez, Ginásio de Alcobaça, Guimarães uma vez 4-1, Portimão, Estoril uma vez 0-1, Espinho e acho que é tudo. Isto para não falar de que ir de Lisboa ao Porto demorava muito tempo e as estradas eram uma merda

Foi também aos dois jogos com o Anderlecht e tenho fotos disso guardadas.

Teve a conversa mais rápida de sempre com a minha avó depois de tirar a carta de condução: "Sim mãe já sei que o Benfica ganhou ao Bétis... Só por causa disso vou ver o jogo a Espanha... Ah já agora passei no exame"

GamaUno

Citação de: Lux Rubra em 26 de Fevereiro de 2024, 19:37Boa tarde a todos, benfiquistas.


Esta será a minha primeira e última mensagem aqui no fórum, que acompanho desde a meninice dos meus 13 anos, encontrando aqui um reduto devotado ao Benfica, que muita companhia me fez em horas de tristeza e langor. Hoje, ver um jogo do Glorioso sem acompanhar os comentários (que muito me divertem) dos membros desta assembleia.


Há dias, eu e os meus pais arrumámos a garagem do nosso apartamento de Lisboa, nos Olivais, onde o meu pai cresceu. Cresci em Viseu, mas guardo muitas raízes na capital. O meu pai foi fundador dos Diabos Vermelhos, o Sr. Rui Paixão, que criou o grupo com o meu Padrinho, o meu Tio (o seu irmão) , o Silvio (que trabalha na Pastelaria Suiça), João Matias, Irmãos Bulhosa, o Vilela  o Cambalhota (de Campo de Ourique) na antiga Quelimane, cuja ideia nasceu na Rua Via Catió, apesar de os Diabos terem sido fundados oficialmente por 11 membros na sede da antiga Rua Jardim do Regedor). A História é, muitas vezes, fria aos nomes.

A fundação é atribuída a Jorge França, que  privou e conheceu o meu pai, e que teve muitos méritos incontestáveis, mas, talvez por cansaço em explicar, assumiu esse título. O Jorge França entrou nos Diabos muito depois da fundação original, com 13 ou 14 anos de idade. O meu pai até pergunta, em jeito de desafio para quem duvida, quem era o chefe da delegação dos DV do Norte e em que cidade estava; qual era o chefe da delegação do centro e em que cidade; qual o nome do banco onde os DV tinham conta e movimentavam os seus dinheiros para pagamentos de bandeiras, camisolas, autocarros; qual o primeiro patrocinador dos DV e onde foi negociado; qual o nome da pessoa da direcção da Jerónimo Martins que servia de ponto de contacto entre o presidente Fernando Martins e a direcção dos Diabos e ainda onde é que esse senhor se reuniam regularmente para jantar. O meu pai diz que se alguém conseguir responder, assume a perda do título !


Na garagem, encontrámos estas fotos, que convosco partilho, numa forma de agradecimento pela companhia que o fórum me faz.


Partilho convosco algumas curiosidades, saídas da boca do meu pai:


- Um dos nomes estudados para a claque foi "Piretes com Varizes", proposta pelo meu Tio, que nunca renunciou ao humor.

- No começo das hostilidades nortenhas do Pinto da Costa e com a crescente violência feita contra equipas e adeptos do Benfica nas deslocações ao Porto, o meu pai estudou a hipótese de juntar seguranças, ex-membros de discotecas e gente problemática para uma ala, digamos, miliciana, que responderia aos Super Dragões: A Legião Condor. Se tivesse levado isso a cabo, talvez os SD nunca seriam o que são hoje.

- Num jogo nas Antas, membros dos Diabos roubaram a cabeça de um porco num restaurante e abriraram as portas da caravana onde viajavam, exibindo a cabeça aos andrades.

- Os Diabos foram convidados, nos anos 80, para participarem no Carnaval de Torres Vedras.


O meu pai não ficou milionário porque quis respeitar o seu legado e dos seus companheiros. Não faltaram propostas chorudas de portugueses da Suiça ou de França, que visavam o lucro que poderia advir de um grupo consideravelmente grande. O meu pai não quis mercantilizar a coisa. Os pobres dos meus avós, modestos agricultores do Douro que se mudaram para Lisboa, recebiam centenas de telefonemas, sem saber muito bem o que estava a acontecer. A minha avó, que se tornou costureira, corria pela casa fora a cada golo do Benfica, bracejando já com poucas forças e, poucos dias antes de partir para Deus e já acamada, perguntou pelo último resultado do Benfica. Isto em 2002.


Digo muitas vezes que a minha mãe deu-me à luz, mas o meu pai deu-me a Luz.Sou um homem de fé, católico fervoroso, e ainda assim, em contraste com a minha religião, mantenho uma só superstição: o peluche da águia do Benfica que comprei na antiga Luz. Serviu de amuleto da sorte para jogos, exames, entrevistas de emprego e tantas outras efemérides. Confortava-me. Acredito que nunca abandonamos o benfiquismo mais inocente, que é uma memória afectiva.


O Benfica é isto. Um conforto, um tesouro de lembranças, ecos de rostos familiares, experiências, gargalhadas, traumas. É o clube que jogando no nosso dia de casamento ou do nascimento de um filho, impele-nos a espreitar matreiramente o resultado. É um símbolo popular do nosso Portugal, omnipresente em qualquer tasca do interior, ladeado de Nossa Senhora ou de um calendário deslavado da selecção.


Perdoem-me a extensão do texto e a qualidade das imagens. Não tive ainda tempo de digitalizar.


Um abraço a todos. Viva o Glorioso Benfica!!


Jogos na Luz, jogo no Porto (Boavista), Coro do Benfica, a antiga águia e jantar de aniversário do clube, deslocação a Portimão













Saudades desses tempos.
Recordo com enorme carinho a bela tshirt dos Diabos com o patrocionio da Shell e o respetivo lenço a acompanhar.
Os rolos de papel higienico e da maquinas resgistadoras enviados para o terceiro anel de forma a melhorar ainda mais o efeito visual quando o Benfica ( sozinho ) pisava o solo sagrado.
Infelizmente perdi essas reliquias , mas jamais me esquecerei do numero do meu cartão de socio dos Diabos : 213
Obrigado pelas enormes recordaçoes desses tempos que nunca mais voltarão.

daniii95

Citação de: Lux Rubra em 26 de Fevereiro de 2024, 19:37Boa tarde a todos, benfiquistas.


Esta será a minha primeira e última mensagem aqui no fórum, que acompanho desde a meninice dos meus 13 anos, encontrando aqui um reduto devotado ao Benfica, que muita companhia me fez em horas de tristeza e langor. Hoje, ver um jogo do Glorioso sem acompanhar os comentários (que muito me divertem) dos membros desta assembleia.


Há dias, eu e os meus pais arrumámos a garagem do nosso apartamento de Lisboa, nos Olivais, onde o meu pai cresceu. Cresci em Viseu, mas guardo muitas raízes na capital. O meu pai foi fundador dos Diabos Vermelhos, o Sr. Rui Paixão, que criou o grupo com o meu Padrinho, o meu Tio (o seu irmão) , o Silvio (que trabalha na Pastelaria Suiça), João Matias, Irmãos Bulhosa, o Vilela  o Cambalhota (de Campo de Ourique) na antiga Quelimane, cuja ideia nasceu na Rua Via Catió, apesar de os Diabos terem sido fundados oficialmente por 11 membros na sede da antiga Rua Jardim do Regedor). A História é, muitas vezes, fria aos nomes.

A fundação é atribuída a Jorge França, que  privou e conheceu o meu pai, e que teve muitos méritos incontestáveis, mas, talvez por cansaço em explicar, assumiu esse título. O Jorge França entrou nos Diabos muito depois da fundação original, com 13 ou 14 anos de idade. O meu pai até pergunta, em jeito de desafio para quem duvida, quem era o chefe da delegação dos DV do Norte e em que cidade estava; qual era o chefe da delegação do centro e em que cidade; qual o nome do banco onde os DV tinham conta e movimentavam os seus dinheiros para pagamentos de bandeiras, camisolas, autocarros; qual o primeiro patrocinador dos DV e onde foi negociado; qual o nome da pessoa da direcção da Jerónimo Martins que servia de ponto de contacto entre o presidente Fernando Martins e a direcção dos Diabos e ainda onde é que esse senhor se reuniam regularmente para jantar. O meu pai diz que se alguém conseguir responder, assume a perda do título !


Na garagem, encontrámos estas fotos, que convosco partilho, numa forma de agradecimento pela companhia que o fórum me faz.


Partilho convosco algumas curiosidades, saídas da boca do meu pai:


- Um dos nomes estudados para a claque foi "Piretes com Varizes", proposta pelo meu Tio, que nunca renunciou ao humor.

- No começo das hostilidades nortenhas do Pinto da Costa e com a crescente violência feita contra equipas e adeptos do Benfica nas deslocações ao Porto, o meu pai estudou a hipótese de juntar seguranças, ex-membros de discotecas e gente problemática para uma ala, digamos, miliciana, que responderia aos Super Dragões: A Legião Condor. Se tivesse levado isso a cabo, talvez os SD nunca seriam o que são hoje.

- Num jogo nas Antas, membros dos Diabos roubaram a cabeça de um porco num restaurante e abriraram as portas da caravana onde viajavam, exibindo a cabeça aos andrades.

- Os Diabos foram convidados, nos anos 80, para participarem no Carnaval de Torres Vedras.


O meu pai não ficou milionário porque quis respeitar o seu legado e dos seus companheiros. Não faltaram propostas chorudas de portugueses da Suiça ou de França, que visavam o lucro que poderia advir de um grupo consideravelmente grande. O meu pai não quis mercantilizar a coisa. Os pobres dos meus avós, modestos agricultores do Douro que se mudaram para Lisboa, recebiam centenas de telefonemas, sem saber muito bem o que estava a acontecer. A minha avó, que se tornou costureira, corria pela casa fora a cada golo do Benfica, bracejando já com poucas forças e, poucos dias antes de partir para Deus e já acamada, perguntou pelo último resultado do Benfica. Isto em 2002.


Digo muitas vezes que a minha mãe deu-me à luz, mas o meu pai deu-me a Luz.Sou um homem de fé, católico fervoroso, e ainda assim, em contraste com a minha religião, mantenho uma só superstição: o peluche da águia do Benfica que comprei na antiga Luz. Serviu de amuleto da sorte para jogos, exames, entrevistas de emprego e tantas outras efemérides. Confortava-me. Acredito que nunca abandonamos o benfiquismo mais inocente, que é uma memória afectiva.


O Benfica é isto. Um conforto, um tesouro de lembranças, ecos de rostos familiares, experiências, gargalhadas, traumas. É o clube que jogando no nosso dia de casamento ou do nascimento de um filho, impele-nos a espreitar matreiramente o resultado. É um símbolo popular do nosso Portugal, omnipresente em qualquer tasca do interior, ladeado de Nossa Senhora ou de um calendário deslavado da selecção.


Perdoem-me a extensão do texto e a qualidade das imagens. Não tive ainda tempo de digitalizar.


Um abraço a todos. Viva o Glorioso Benfica!!


Jogos na Luz, jogo no Porto (Boavista), Coro do Benfica, a antiga águia e jantar de aniversário do clube, deslocação a Portimão













EDIT:

Falei agora com o meu pai.

O Sr. Rui Paixão (pai deste user) e o seu irmão (tio deste user) foram a Bruxelas com o meu pai e com os diabos ver o jogo! Alias numa das fotografias está o jogo com o Anderlecht em 83

O Vilela referido aqui é o meu pai. Devem ter sido vizinhos, porque o meu pai vivia nos olivais.

daniii95

Citação de: Lux Rubra em 26 de Fevereiro de 2024, 19:37Boa tarde a todos, benfiquistas.


Esta será a minha primeira e última mensagem aqui no fórum, que acompanho desde a meninice dos meus 13 anos, encontrando aqui um reduto devotado ao Benfica, que muita companhia me fez em horas de tristeza e langor. Hoje, ver um jogo do Glorioso sem acompanhar os comentários (que muito me divertem) dos membros desta assembleia.


Há dias, eu e os meus pais arrumámos a garagem do nosso apartamento de Lisboa, nos Olivais, onde o meu pai cresceu. Cresci em Viseu, mas guardo muitas raízes na capital. O meu pai foi fundador dos Diabos Vermelhos, o Sr. Rui Paixão, que criou o grupo com o meu Padrinho, o meu Tio (o seu irmão) , o Silvio (que trabalha na Pastelaria Suiça), João Matias, Irmãos Bulhosa, o Vilela  o Cambalhota (de Campo de Ourique) na antiga Quelimane, cuja ideia nasceu na Rua Via Catió, apesar de os Diabos terem sido fundados oficialmente por 11 membros na sede da antiga Rua Jardim do Regedor). A História é, muitas vezes, fria aos nomes.

A fundação é atribuída a Jorge França, que  privou e conheceu o meu pai, e que teve muitos méritos incontestáveis, mas, talvez por cansaço em explicar, assumiu esse título. O Jorge França entrou nos Diabos muito depois da fundação original, com 13 ou 14 anos de idade. O meu pai até pergunta, em jeito de desafio para quem duvida, quem era o chefe da delegação dos DV do Norte e em que cidade estava; qual era o chefe da delegação do centro e em que cidade; qual o nome do banco onde os DV tinham conta e movimentavam os seus dinheiros para pagamentos de bandeiras, camisolas, autocarros; qual o primeiro patrocinador dos DV e onde foi negociado; qual o nome da pessoa da direcção da Jerónimo Martins que servia de ponto de contacto entre o presidente Fernando Martins e a direcção dos Diabos e ainda onde é que esse senhor se reuniam regularmente para jantar. O meu pai diz que se alguém conseguir responder, assume a perda do título !


Na garagem, encontrámos estas fotos, que convosco partilho, numa forma de agradecimento pela companhia que o fórum me faz.


Partilho convosco algumas curiosidades, saídas da boca do meu pai:


- Um dos nomes estudados para a claque foi "Piretes com Varizes", proposta pelo meu Tio, que nunca renunciou ao humor.

- No começo das hostilidades nortenhas do Pinto da Costa e com a crescente violência feita contra equipas e adeptos do Benfica nas deslocações ao Porto, o meu pai estudou a hipótese de juntar seguranças, ex-membros de discotecas e gente problemática para uma ala, digamos, miliciana, que responderia aos Super Dragões: A Legião Condor. Se tivesse levado isso a cabo, talvez os SD nunca seriam o que são hoje.

- Num jogo nas Antas, membros dos Diabos roubaram a cabeça de um porco num restaurante e abriraram as portas da caravana onde viajavam, exibindo a cabeça aos andrades.

- Os Diabos foram convidados, nos anos 80, para participarem no Carnaval de Torres Vedras.


O meu pai não ficou milionário porque quis respeitar o seu legado e dos seus companheiros. Não faltaram propostas chorudas de portugueses da Suiça ou de França, que visavam o lucro que poderia advir de um grupo consideravelmente grande. O meu pai não quis mercantilizar a coisa. Os pobres dos meus avós, modestos agricultores do Douro que se mudaram para Lisboa, recebiam centenas de telefonemas, sem saber muito bem o que estava a acontecer. A minha avó, que se tornou costureira, corria pela casa fora a cada golo do Benfica, bracejando já com poucas forças e, poucos dias antes de partir para Deus e já acamada, perguntou pelo último resultado do Benfica. Isto em 2002.


Digo muitas vezes que a minha mãe deu-me à luz, mas o meu pai deu-me a Luz.Sou um homem de fé, católico fervoroso, e ainda assim, em contraste com a minha religião, mantenho uma só superstição: o peluche da águia do Benfica que comprei na antiga Luz. Serviu de amuleto da sorte para jogos, exames, entrevistas de emprego e tantas outras efemérides. Confortava-me. Acredito que nunca abandonamos o benfiquismo mais inocente, que é uma memória afectiva.


O Benfica é isto. Um conforto, um tesouro de lembranças, ecos de rostos familiares, experiências, gargalhadas, traumas. É o clube que jogando no nosso dia de casamento ou do nascimento de um filho, impele-nos a espreitar matreiramente o resultado. É um símbolo popular do nosso Portugal, omnipresente em qualquer tasca do interior, ladeado de Nossa Senhora ou de um calendário deslavado da selecção.


Perdoem-me a extensão do texto e a qualidade das imagens. Não tive ainda tempo de digitalizar.


Um abraço a todos. Viva o Glorioso Benfica!!


Jogos na Luz, jogo no Porto (Boavista), Coro do Benfica, a antiga águia e jantar de aniversário do clube, deslocação a Portimão













Carago, o mundo é pequeno

O Vilela que refere aqui é o meu pai! Fez parte do crescimento dos DV e também conhece essa malta toda e foram a vários jogos em lisboa e fora!

O meu pai perdeu o contacto do teu infelizmente... mandei-te Mensagem pessoal

Ele diz que tem uma foto dele com o teu pai num jogo nas antas do golo do Carlos Manuel

Aaa.1994

Citação de: Lux Rubra em 26 de Fevereiro de 2024, 19:37Boa tarde a todos, benfiquistas.


Esta será a minha primeira e última mensagem aqui no fórum, que acompanho desde a meninice dos meus 13 anos, encontrando aqui um reduto devotado ao Benfica, que muita companhia me fez em horas de tristeza e langor. Hoje, ver um jogo do Glorioso sem acompanhar os comentários (que muito me divertem) dos membros desta assembleia.


Há dias, eu e os meus pais arrumámos a garagem do nosso apartamento de Lisboa, nos Olivais, onde o meu pai cresceu. Cresci em Viseu, mas guardo muitas raízes na capital. O meu pai foi fundador dos Diabos Vermelhos, o Sr. Rui Paixão, que criou o grupo com o meu Padrinho, o meu Tio (o seu irmão) , o Silvio (que trabalha na Pastelaria Suiça), João Matias, Irmãos Bulhosa, o Vilela  o Cambalhota (de Campo de Ourique) na antiga Quelimane, cuja ideia nasceu na Rua Via Catió, apesar de os Diabos terem sido fundados oficialmente por 11 membros na sede da antiga Rua Jardim do Regedor). A História é, muitas vezes, fria aos nomes.

A fundação é atribuída a Jorge França, que  privou e conheceu o meu pai, e que teve muitos méritos incontestáveis, mas, talvez por cansaço em explicar, assumiu esse título. O Jorge França entrou nos Diabos muito depois da fundação original, com 13 ou 14 anos de idade. O meu pai até pergunta, em jeito de desafio para quem duvida, quem era o chefe da delegação dos DV do Norte e em que cidade estava; qual era o chefe da delegação do centro e em que cidade; qual o nome do banco onde os DV tinham conta e movimentavam os seus dinheiros para pagamentos de bandeiras, camisolas, autocarros; qual o primeiro patrocinador dos DV e onde foi negociado; qual o nome da pessoa da direcção da Jerónimo Martins que servia de ponto de contacto entre o presidente Fernando Martins e a direcção dos Diabos e ainda onde é que esse senhor se reuniam regularmente para jantar. O meu pai diz que se alguém conseguir responder, assume a perda do título !


Na garagem, encontrámos estas fotos, que convosco partilho, numa forma de agradecimento pela companhia que o fórum me faz.


Partilho convosco algumas curiosidades, saídas da boca do meu pai:


- Um dos nomes estudados para a claque foi "Piretes com Varizes", proposta pelo meu Tio, que nunca renunciou ao humor.

- No começo das hostilidades nortenhas do Pinto da Costa e com a crescente violência feita contra equipas e adeptos do Benfica nas deslocações ao Porto, o meu pai estudou a hipótese de juntar seguranças, ex-membros de discotecas e gente problemática para uma ala, digamos, miliciana, que responderia aos Super Dragões: A Legião Condor. Se tivesse levado isso a cabo, talvez os SD nunca seriam o que são hoje.

- Num jogo nas Antas, membros dos Diabos roubaram a cabeça de um porco num restaurante e abriraram as portas da caravana onde viajavam, exibindo a cabeça aos andrades.

- Os Diabos foram convidados, nos anos 80, para participarem no Carnaval de Torres Vedras.


O meu pai não ficou milionário porque quis respeitar o seu legado e dos seus companheiros. Não faltaram propostas chorudas de portugueses da Suiça ou de França, que visavam o lucro que poderia advir de um grupo consideravelmente grande. O meu pai não quis mercantilizar a coisa. Os pobres dos meus avós, modestos agricultores do Douro que se mudaram para Lisboa, recebiam centenas de telefonemas, sem saber muito bem o que estava a acontecer. A minha avó, que se tornou costureira, corria pela casa fora a cada golo do Benfica, bracejando já com poucas forças e, poucos dias antes de partir para Deus e já acamada, perguntou pelo último resultado do Benfica. Isto em 2002.


Digo muitas vezes que a minha mãe deu-me à luz, mas o meu pai deu-me a Luz.Sou um homem de fé, católico fervoroso, e ainda assim, em contraste com a minha religião, mantenho uma só superstição: o peluche da águia do Benfica que comprei na antiga Luz. Serviu de amuleto da sorte para jogos, exames, entrevistas de emprego e tantas outras efemérides. Confortava-me. Acredito que nunca abandonamos o benfiquismo mais inocente, que é uma memória afectiva.


O Benfica é isto. Um conforto, um tesouro de lembranças, ecos de rostos familiares, experiências, gargalhadas, traumas. É o clube que jogando no nosso dia de casamento ou do nascimento de um filho, impele-nos a espreitar matreiramente o resultado. É um símbolo popular do nosso Portugal, omnipresente em qualquer tasca do interior, ladeado de Nossa Senhora ou de um calendário deslavado da selecção.


Perdoem-me a extensão do texto e a qualidade das imagens. Não tive ainda tempo de digitalizar.


Um abraço a todos. Viva o Glorioso Benfica!!


Jogos na Luz, jogo no Porto (Boavista), Coro do Benfica, a antiga águia e jantar de aniversário do clube, deslocação a Portimão












Muito obrigado pela partilha! Correram-me lágrimas pelo rosto. Não tive oportunidade de entrar no antigo estádio, nem tão pouco viver in loco os maiores anos dos Diabos, mas o testemunho de Benfica e militância benfiquista que deixas é incrível.

120 anos de grandeza. Viva o Sport Lisboa e Benfica❤️

bruno cardoso


OclassicoNº10

Num post, revive-se a história, encontra-se familiares e partilha-se a paixão.

Foda-se Benfica! Não há palavras para ti ❤️

tiagomachado18


zzcreative

@LuxRubra ainda bem que caí neste tópico de para quedas.

Também participo pouco.
Mas leio um pouco mais.

É por posts como o teu que passarei por cá mais x para encontrar outros anónimos como tu com tanto para contar.

O nosso Benfica que esteja à altura de nós, os verdadeiros adeptos que só perdem € e saúde com o nosso clube, mas que também nos proporciona tantos e bons momentos.

emulate

Saudades de passarem um "Cheira Bem, Cheira a Lisboa" contra os Porcos.

Uma coisa muito bonita que acontecia e que se perdeu, e que metia o estádio todo animado e a gritar.


maior que portugal


goliath2k

Citação de: emulate em 29 de Fevereiro de 2024, 09:37Saudades de passarem um "Cheira Bem, Cheira a Lisboa" contra os Porcos.

Uma coisa muito bonita que acontecia e que se perdeu, e que metia o estádio todo animado e a gritar.
Bastava as claques fazerem isso, mas já nem isso temos decente.

Também excelentes recordações no antigo pavilhão da luz de ver o Carlos Lisboa a brilhar e a malta a cantar isso espontaneamente.