(actualizado) Memorial Benfica, Glórias

ednilson

Minervino José Lopes Pietra. Lisboa. 1 de Março de 1954. Defesa.
Épocas no Benfica: 10 (76/86). Jogos: 314. Golos: 26. Títulos: 4 (Campeonato Nacional), 5 (Taça de Portugal) e 2 (Supertaça).
Outros clubes: Belenenses. Internacionalizações: 28.




Equipa 1981/1982

Era o Minervas para os companheiros de equipa. Talvez fizesse mais sentido que o fosse para os adversários. É que os enervava a valer. Pela sua pose, sempre de cabeça levantada. Pela sua técnica, colando a bola aos pés. Pela sua velocidade, galgando espaços amplos. Pela sua tenacidade, incapaz de fazer gazeta. Minervino Pietra não era um jogador naif. Pietra era um jogador de eleição. Que adorava desafios. Para vencer.

Ganhou expressão e tarimba no Belenenses. Esteve na equipa de Scopelli que foi vice-campeã nacional, em 72/73, a 18 pontos de distância do Benfica. Chegou, meritoriamente, a internacional A. Na Luz, a partir de 76/77, com John Mortimore, disparou para campanhas fulgurantes. Deve ter actuado em todas as posições, com excepção de ponta-de-lança ou de guarda-redes, tão vincada era a sua polivalência e beneficiado pelo facto de ser ambidextro.

No seu tempo, o Benfica não hegemonizava já se forma absoluta o futebol português. Daí que a tarefa fosse mais ingente ainda. Pietra saiu-se bem. Numa década exacta em tons de vermelho, ganhou quatro Campeonatos, cinco Taças e duas Supertaças, ultrapassando as três centenas de jogos oficiais. Enquanto isso, na Selecção, evoluiu em 28 circunstâncias, lamentando-se "por não ter ido ao Europeu de França, numa altura em que estava com as faculdades intactas" e muita experiência acumulada.

Porque os palcos europeus foram outros, de Pietra fica a grata recordação de uma eliminatória da Taça dos Campeões, em 77/78, frente ao B 1903 Copenhaga. O Benfica venceu as duas mãos pelo mesmo resultado (1-0). Os golos, esses, foram ambos assinados por Pietra. Também participou na espectacular campanha da Taça UEFA, em 82/83. Fez o pleno, 12 jogos foram. Ficou o amargo de boca, frente ao Anderlecht, vencedor da competição.

Concluiu a carreira, em Abril de 1986, num jogo com o Belenenses, no Restelo. Viu o cartão vermelho na partida, talvez crispado por ter chegado ao fim da rota. Nesse dia, cresceu-lhe como por encanto a alma benfiquista.

ednilson

Karel Poborsky. Jindinchuv/Hadec, República Checa. 30 de Março de 1972. Avançado.
Épocas no Benfica: 4 (1997/2001). Jogos: 112. Golos: 17. Outros clubes: Budejovice, V. Zizkov, Slavia Praga, Manchester United, Lazio e Sparta Praga. Internacionalizações: República Checa.




Equipa 1999/2000

A seu respeito, espera a família benfiquista que tenha sido o último dos abencerragens. O último dos grandes jogadores que, sarcasticamente, nada ganharam no clube. Karel Poborsky participou em quatro temporadas de luto competitivo. Mesmo com aqueles pés chamejantes. Mesmo com aquele jeito de máquina de costura, do tempo das avozinhas, mas dotada de inteligência, com que furava o pano defensivo dos oponentes. No seu ar de artista, combinação de jogador efusivo e profano, parecendo dizer, tal como um dia Michael Laudrup, que "no futebol não há nada pior do que correr atrás de uma bola". Com ela, então sim, tínhamos homem.

Poborsky havia entrado, em 1996, para a história do futebol português. Melhor, para a contra-história. Com aquele chapéu de aba larga, trocista, que liquidou Vítor Baia e as esperanças de Portugal no Euro da Inglaterra. A mal da Nação. A bem da sua República Checa, cujas cores defendeu ao longo dos anos, através de grandes desempenhos, atingindo a excelsitude da centena de internacionalizações.



Proveniente do Manchester United, chegou ao Benfica, na presidência de João Vale e Azevedo, decorria a época de 96/97. Na mesma semana, quase sem se treinar, apresentou-se na Antas, frente ao FC Porto. Perdeu o Benfica (2-0), mas o treinador Graeme Souness ficou agradado e o checo tornou-se num dos inapeáveis do onze. Ainda na primeira temporada, já em plena segunda volta do Campeonato, participou com golos nos triunfos perante o Sporting e o FC Porto, dando mostras de uma especial queda para as jornadas mais mediáticas.

Fez 112 encontros com a camisola garrida, apontando 17 tentos. Depois de Souness, trabalhou sob o comando de Shéu, Jupp Heynckes, José Mourinho e Toni. Em ano de final de contrato, despediu-se no Algarve, num embate da Taça de Portugal, com o Louletano. Três dias tinha apenas o novo século.



Karel Poborsky chegou a ser a imagem de marca do Benfica. Exemplo da qualidade, virtuosismo. Os adeptos dele se enamoraram, imputando-lhe a responsabilidade de construir a diferença. Por norma, não defraudou. Pena que o edifício colectivo acusasse insuficiências várias. Por isso, no Benfica só espreitou à janela do sucesso, que para mais não davam os frágeis alicerces. Assim percorreu sem glória a estrada vermelha, mas numa condução que deixou resquícios de beleza.

Covenant


ednilson

#168
Michel G. J. G. Preud'homme. Ougrée, Bélgica. 24 de Janeiro de 1959. Guarda-redes.
Épocas no Benfica: 5 (94/99). Jogos: 199. Títulos: 1 (Taça de Portugal).
Outros clubes: S. Liège e Malines. Internacionalizações: Bélgica.




Equipa 1995/1996

No calendário benfiquista, 1 de Julho de 1978 significa o corte com a mais conhecida das suas tradições. Em reunião magna, agendada para o efeito, os associados autorizaram, maioritariamente, a contratação de jogadores estrangeiros para a equipa de futebol. É que encerrado estava o trânsito das ex-colónias, com a consequente perda da liderança. O brasileiro Jorge Gomes abriria espaço a um vasto contingente. Michel Preud'homme, por sua vez, foi o primeiro guarda-redes estrangeiro do Benfica.

Na pré-época de 1994, laureado com o titulo de melhor guardião do Mundial dos Estados Unidos, o prémio Yashin, doado pela FIFA, o belga chega a Lisboa, ingressando na equipa de Artur Jorge, campeão nacional da pretérita temporada. Tinha 35 anos, factor que gerou alguma controvérsia, mas que o tempo se encarregou de corrigir. Num ápice, Preud'homme virou o mais-que-tudo do universo benfiquista.



Era um guarda-redes fenomenal. Com tarimba, escola, dominava altos e baixos, o céu e a terra, exibindo tenazes que íman pareciam esconder por dentro das luvas. Elástico também, de reflexos ultra-apurados. Mais parecia um certificado de segurança. Terá ingressado no Benfica fora de horas. O colectivo, com algumas excepções, não estava na sua bitola. Momento houve confrangedores, que quase só ele conseguia disfarçar.

Preud'homme, em cinco temporadas, disputou 199 jogos oficiais, consentindo 184 golos. Apenas garantindo um titulo, a vitória na Taça de Portugal, versão 95/96. Com Calado, Hélder, Ricardo Gomes, Dimas, Valdo, Paulo Bento, Bruno Caíres, Kenedy, João Pinto e Mauro Airez. Foi naquela vitória (3-1) sobre o rival Sporting, manchada pela morte de um jovem adepto leonino, atingido por um estúpido very light.



Com 40 anos e carisma a rodos, Michel Preud'homme escolheu o Benfica para selar a carreira, após ter representado o Standard Liège e o Malines, somando 58 internacionalizações com o uniforme da equipa nacional belga. Na Luz, onde trabalhou durante mais alguns meses, deixou marca inestimável. Recordado será para sempre.

Red skin

Saint-Michel... o melhor GR q já vi actuar!!!!! E jogava no glorioso!!!!!  :clap1:

Preacher

Eu estive no jogo de despedida contra o Bayern. Estou perfeitamente recordado do estádio em pé a aplaudir a volta que ele deu ao estádio. Infelizmente, também estou lembrado das frangas que o Bossio deu nesse jogo  ;D

Dandy

Citação de: Preacher em 24 de Março de 2008, 09:44
Eu estive no jogo de despedida contra o Bayern. Estou perfeitamente recordado do estádio em pé a aplaudir a volta que ele deu ao estádio. Infelizmente, também estou lembrado das frangas que o Bossio deu nesse jogo  ;D


   Saberias dizer-me, por favor, qual foi o resultado desse jogo? Obrigado... :)

   Será que a ficha do encontro está disponível no arquivo?  ::)



VanBasten

Benfica 1-2 Bayern

Golo do Chano, livre directo à entrada da area.

O jogo não deve estar disponivel, porque foi um particular de apresentação aos sócios.

Dandy

Citação de: VanBasten em 24 de Março de 2008, 15:54
Benfica 1-2 Bayern

Golo do Chano, livre directo à entrada da area.

O jogo não deve estar disponivel, porque foi um particular de apresentação aos sócios.


   Muito obrigado.    O0

   Nunca, na História do clube, derrotámos o Bayern...nem mesmo em particulares. E temos levado com cada goleada no Olímpico de Munique... :ashamed:

   Veremos se no "Allianz Arena" a balança inicia nova orientação.

   "Um novo ciclo"... ;)





ednilson

Raul Soares Figueiredo. Lisboa. 22 de Janeiro de 1903-1941. Médio.
Épocas no Benfica: 2 (26/28). Jogos: 34. Golos: 4.
Outros clubes: Olhanense e Académico do Porto. Internacionalizações: 17.




Equipa 1927/1928

Definitivamente, Tamanqueiro não é alcunha de jogador de futebol. Quanto muito atribuível a algum desajeitado, a algum tosco. Nunca por nunca a Raul Figueiredo, o Tamanqueiro, menção talvez ao uso de tamancos, tão em voga nos anos 20, anos de penúria, anos de indigência. Como que desmentindo o impropério, foi um dos grandes jogadores, para alguns estudiosos o melhor jogador português da sua geração.

No Olhanense, era o contra-regra da famosa equipa que venceu o Campeonato de Portugal, em 1924. Era homem-de-sete-instrumentos. Marcava livres, cantos e penaltis. Jogava a defesa, a médio, a avançado. Jogava muito. Jogava sempre. Era o dono da bola.

A expedição vermelha durou três anos. De 1925 a 1928. Com Vítor Gonçalves, Vítor Hugo, Eugénio Salvador. Já nas Amoreiras, o novo repositório do orgulho benfiquista. Após curso intensivo, com disciplinas múltiplas e estágios vários, especializou-se a médio. A posição rimava com ele. Estava no centro nevrálgico, comandava as operações.

"Era um jogador de improvisos, de imprevistos. Fazia de tudo um pouco e... bem. Defendia com segurança, atacava com firmeza, rematava com pujança. Era um futebolista de inspiração: 90% de inspiração, 10% de conhecimentos adquiridos". Fica o retrato, rubricado por Alfredo Farinha.

Raul Figueiredo foi 17 vezes internacional, em nove das ocasiões representando o Benfica. Notável para a época, já que os compromissos internacionais eram muito espaçados no tempo. Participou no primeiro triunfo das cores nacionais, perante a Itália, a 18 de Junho de 1925. Na condição de património benfiquista, presença marcou nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, em 1928. Teve ensejo de exibir a sua prodigiosa intuição. Estava ali o anúncio do novo jogador, do jogador do futuro.

Mergulhado no desassossego, Tamanqueiro optou por regressar ao Algarve, na defesa reiterada da divisa do Olhanense. Ainda jogou na capital nortenha, no Académico do Porto. Morreu, brutalmente, com uma doença incurável, nem tinha sequer 40 anos de vida.

Apagava-se o tornado. Misto de generosidade e audácia. Fez-se meia-luz. Sobrevivem os registos. Sobrevivem, melhor ainda, para uns quantos, só que cada vez menos. Para que conste, Raul Figueiredo, o Tamanqueiro, merece a perpetuidade benfiquista.

Preacher

Karel Poborsky.. Nunca irei esquecer uma tarde soalheira de domingo aqui no Funchal, em que colado ao rádio ouvi o relato do fantástico golo que marcou ao Braga, golo de antologia diziam no rádio..inclusive que era um dos melhores golos que o estádio da luz alguma vez tinha visto! Depois, foi uma espera tremenda para ver o jogo passar na SIC, para ver se era tão bonito como diziam na rádio..

Tempos de uma juventude que já lá vai..Mas as recordações deste fabuloso mago do futebol, vão perdurar pela vida..

KAREL POBORSKYYYYYYYYYYYY


ednilson

Raul Martins Machado. Matosinhos. 22 de Setembro de 1937. Defesa.
Épocas no Benfica: 7 (62/69). Jogos: 197. Golos: 5. Títulos: 6 (Campeonato Nacional) e 2 (Taça de Portugal).
Outros clubes: Leixões. Internacionalizações: 11.




Equipa 1963/1964

Quando uma militância de sete anos no Benfica representa a conquista de seis Campeonatos, só se poderia estar na presença de um privilegiado e, sem reservas, de um grande jogador, num grande colectivo. Está então feito o retrato de Raul Machado e da equipa do seu tempo.

Corria o Verão de 1962. Béla Guttmann abandonava o Benfica bicampeão europeu, abrindo a porta ao ingresso do chileno Fernando Riera. Ao mesmo tempo, em Matosinhos, no histórico Leixões, sinais havia já daquela que alguém, mais tarde, chamaria de máquina reprodutora de bebés, futuros craques da bola. Como Raul, exemplo maior, à Luz chegado, com 24 anos.

Esplendeceu logo na primeira temporada. Não menos substimável, assumiu-se responsável por disfarçar a ausência do grande Germano, apoquentado por uma séria lesão. Ao titulo nacional chegou e o europeu esteve perto, naquele cínico embate, frente ao AC Milan, com um Benfica algo apavonado a desperdiçar o ensejo da terceira vitória consecutiva na prova garantir.



Ao longo da estupenda década de 60, Raul actuou em quase duas centenas de jogos. Ironicamente, só perdeu o Nacional de 66, no ano da safra dos Magriços, na Inglaterra, com uma inimitável quota vermelha. Jogava de forma serena, pelo menos na aparência. Até porque era valente e determinado. Cultivava o sentido prático, rejeitava floreados estéreis. Tinha um remate poderoso, fazia golos de fora da área. Viveu os últimos suspiros do WM e adaptou-se bem ao desabrochante 4-2-4. Passou com alta nota o exame da condução táctica.

Em 64/65, perante o Inter de Milão, voltou a descartar a hipótese de ser campeão da Europa, fazendo dupla com Germano, até ao minuto 57, altura em que o seu companheiro da retaguarda substituiu Costa Pereira, lesionado, na defesa das redes. Um guardião improvisado e apenas um defesa-central, mas nem por isso os italianos somaram mais golos ao pífio de Jair, obtido por entre as pernas do infeliz keeper benfiquista. Nessa noite, dia se não fez para Eusébio e seus pares da ofensiva.

Na temporada 68/69, com 11 presenças na equipa nacional, Raul abandonou a Luz. O tempo obrigava a mudanças no quadro de efectivos. Saiu campeão, tal como entrou campeão. Em sete anos, assistiu à despedida de Germano e à estreia de Humberto Coelho. Na condição de protagonista. A ponte, essa, fê-la com mestria.


Bola7


fish

Desculpem-me todos os users mas quanto a mim este é melhor post deste forum.

Que grande trabalho amigo.

Continua.

Ver este post faz-me sentir pele de galinha.