Jaime Graça

Médio, (1942-01-30 - 2012-02-28),
Portugal
Equipa Principal: 9 épocas (1966-1974), 235 jogos (18851 minutos), 30 golos

Títulos: Campeonato Nacional (7), Taça de Portugal (3), AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão (3)

Messi87


Eddie_

Grande post, Holmesreis  :cry2:

Red skin

Bom descanso! Os pesames à família!

DEVILLICA

Descansa em Paz.  Todos os meus pensamentos a família.

Messi87

Funeral do ex-jogador do Benfica
Várias personalidades no último adeus a Jaime Graça

Realizou-se esta quarta-feira, em Setúbal, o funeral do ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica, Jaime Graça. O último adeus contou com a presença de várias personalidades, entre as quais a do presidente do Clube, Luís Filipe Vieira.

Além dos familiares de Jaime Graça, que actualmente era coordenador técnico-adjunto do Caixa Futebol Campus, a cerimónia fúnebre contou com a presença de vários amigos e antigos colegas.

Foi um adeus muito emocionado a um dos grandes jogadores que representou o Benfica.

http://aovivo.slbenfica.pt/Noticias/DetalhedeNoticia/tabid/790/ArticleId/21533/language/pt-PT/Varias-personalidades-no-ultimo-adeus-a-Jaime-Graca.aspx

joao12soares

Citação de: Holmesreis em 28 de Fevereiro de 2012, 20:05
Tal como Calvino defendia a teoria da predestinação pela Fé, assim eu acredito que são as forças divinas que definem à nascença quais as preferências clubísticas de cada ser humano. No meu caso pessoal, Deus foi irónico: numa família de dezenas de portistas, lá fez nascer a 16 de Fevereiro de 1975 um tímido benfiquista que, ainda por cima, viu a primeira Luz do Dia na mesma data em que o Benfica derrotou o FCP em pleno Estádio das Antas por 3-0.
Aprendi a ler pelos jornais, especialmente pelo extinto «Comércio do Porto». Com 5 anos, já sabia articular arrastadamente algumas sílabas e o meu pai não deve ter achado muita graça quando chegava a casa, exausto do trabalho braçal, e comprovava os progressos de leitura do seu benjamim: «Cha-la-na»!«Né-né»!«Ben-to» e assim por diante. E, nessa altura, o meu pai deve ter interiorizado a decisão de levar o seu filho mais novo ao baptismo das Antas, antes que manchasse o nome da família. Deu-me um trapo azul e branco amarrado a um pau de cotonete e lá fomos no Fiat 850 para as Antas sentarmo-nos na Superior Norte para assistir a um FCP-Académico de Viseu.
Ora, já falei aqui de Jean Calvino e, quatro séculos e meio depois, o insígne religioso deverá concordar comigo que em 1980, um miúdo de 5 anos que já conhecia Chalana-Alves-Nené e Reinaldo não poderia apaixonar-se por uma equipa cujas primeiras figuras eram um «brinca na areia» chamado Niromar e jogador banais como Albertino, Quinito ou um irlandês chamado Mike Walsh. Ainda por cima, desse primeiro jogo que vi ao vivo, só me lembro quase das costas dos ribeirenses e contumilenses que estavam de pé, tapando a visão a um micro-anão de cinco anos que abanava aquele pau de cotonete só para ouvir o som do pano esticado ao vento, imitando os efeitos sonoros dos filmes de kung-fu quando o lutador voa embalado pelo Vento do Noroeste com o pernil esticado apontado à queixada de outro oriental.
Ora, nessa tarde de Março de 1981, apenas conseguia ouvir os gritos de «Corre, Cenoura!», «Salta, Cenoura», pensando na minha febril infantilidade que o Bugs Bunny que via na televisão estava ali mesmo debaixo do meu nariz a ser invectivado por 20 mil almitas. Só depois ao intervalo é que o meu mano mais velho, na sabedoria eloquente dos seus 12 anitos me explicou que o Cenoura era o Romeu que, nessa tarde, tinha sido adaptado a ponta de lança pelo treinador Hermann Stessl, por lesão do goleador Walsh. Depois do zero a zero da primeira parte e enquanto aqueles traseiros gordos dos espectadores estavam sentados na laje gélida da Superior a mascar bifanas mais duras que a caspa de dois anos que ostentavam naquele couro cabeludo, o jogo reata com um brasileiro já velhote chamado Duda a desmarcar-se no seu meio campo, a dominar uma bola com o braço e a arrancar em direcção à baliza para marcar golo. Os festejos foram inaudíveis, já que o Académico de Viseu era um colosso das Beiras e um candidato ao título nessa época. Quando os festejos acabaram, só me lembro de perguntar ao meu pai:
-Pai, mão na bola não é falta?

Foi aí que o meu progenitor se consciencializou que a batalha não iria ser fácil.
Em Junho de 1981, o meu pai apareceu com uma revista colorida comemorativa dos 15 anos do Mundial de 1966. Era a sua derradeira oportunidade de converter o herege. Ao comigo folhear a revista, deparo-me com duas páginas com fotografias individuais dos jogadores da Selecção. Segundo a opinião do meu pai, o seleccionador Manuel Luz Afonso marginalizara determinados jogador do FCP por ser um treinador benfiquista dos sete costados.
-Pai, quem é este guarda-redes?
-José Pereira, era do Belenenses. O Américo era muito melhor que ele.
-E este preto? (não, não era racista, tinha apenas seis anitos).
-É o Vicente, também do Belenenses. Partiu a perna ao Pelé. O Festa era muito melhor que ele.
-E este com cara de novo?
-É o Simões. O Nóbrega era muito melhor que ele.
De repente, detenho-me num senhor com cara bolachuda (Aos seis anos, usam-se termos que os adultos perdoam devido à sua imbecilidade léxica).
-E este?
-É o Jaime Graça.
(Espero pela comparação do meu pai).
-...Jogava no Benfica. Ninguém passava por ele nem pelo Coluna.
-E não havia ninguém no Porto melhor que eles?
(O silêncio do meu pai foi confrangedor. Saiu da sala e adivinho que partiu o pau de cotonete em lágrimas).

Jaime Graça retirou-se dos relvados em 1978. Já não fui a tempo de assistir à sua grandeza. Mas assisti ao brilhante trabalho que fez na prospecção e formação do Benfica. Tal como Sócrates que morreu no dia de consagração do Corinthians, também estava escrito no firmamento celestial que Jaime Graça teria de partir, vítima dessa doença maldita que é o cancro, no mesmo dia do aniversário do Benfica. E há ainda alguém que se atreva a dizer que Deus não é do Glorioso?!
Excelente...Grande post.
:cry2:


Chefe

Citação de: Holmesreis em 28 de Fevereiro de 2012, 20:05
Tal como Calvino defendia a teoria da predestinação pela Fé, assim eu acredito que são as forças divinas que definem à nascença quais as preferências clubísticas de cada ser humano. No meu caso pessoal, Deus foi irónico: numa família de dezenas de portistas, lá fez nascer a 16 de Fevereiro de 1975 um tímido benfiquista que, ainda por cima, viu a primeira Luz do Dia na mesma data em que o Benfica derrotou o FCP em pleno Estádio das Antas por 3-0.
Aprendi a ler pelos jornais, especialmente pelo extinto «Comércio do Porto». Com 5 anos, já sabia articular arrastadamente algumas sílabas e o meu pai não deve ter achado muita graça quando chegava a casa, exausto do trabalho braçal, e comprovava os progressos de leitura do seu benjamim: «Cha-la-na»!«Né-né»!«Ben-to» e assim por diante. E, nessa altura, o meu pai deve ter interiorizado a decisão de levar o seu filho mais novo ao baptismo das Antas, antes que manchasse o nome da família. Deu-me um trapo azul e branco amarrado a um pau de cotonete e lá fomos no Fiat 850 para as Antas sentarmo-nos na Superior Norte para assistir a um FCP-Académico de Viseu.
Ora, já falei aqui de Jean Calvino e, quatro séculos e meio depois, o insígne religioso deverá concordar comigo que em 1980, um miúdo de 5 anos que já conhecia Chalana-Alves-Nené e Reinaldo não poderia apaixonar-se por uma equipa cujas primeiras figuras eram um «brinca na areia» chamado Niromar e jogador banais como Albertino, Quinito ou um irlandês chamado Mike Walsh. Ainda por cima, desse primeiro jogo que vi ao vivo, só me lembro quase das costas dos ribeirenses e contumilenses que estavam de pé, tapando a visão a um micro-anão de cinco anos que abanava aquele pau de cotonete só para ouvir o som do pano esticado ao vento, imitando os efeitos sonoros dos filmes de kung-fu quando o lutador voa embalado pelo Vento do Noroeste com o pernil esticado apontado à queixada de outro oriental.
Ora, nessa tarde de Março de 1981, apenas conseguia ouvir os gritos de «Corre, Cenoura!», «Salta, Cenoura», pensando na minha febril infantilidade que o Bugs Bunny que via na televisão estava ali mesmo debaixo do meu nariz a ser invectivado por 20 mil almitas. Só depois ao intervalo é que o meu mano mais velho, na sabedoria eloquente dos seus 12 anitos me explicou que o Cenoura era o Romeu que, nessa tarde, tinha sido adaptado a ponta de lança pelo treinador Hermann Stessl, por lesão do goleador Walsh. Depois do zero a zero da primeira parte e enquanto aqueles traseiros gordos dos espectadores estavam sentados na laje gélida da Superior a mascar bifanas mais duras que a caspa de dois anos que ostentavam naquele couro cabeludo, o jogo reata com um brasileiro já velhote chamado Duda a desmarcar-se no seu meio campo, a dominar uma bola com o braço e a arrancar em direcção à baliza para marcar golo. Os festejos foram inaudíveis, já que o Académico de Viseu era um colosso das Beiras e um candidato ao título nessa época. Quando os festejos acabaram, só me lembro de perguntar ao meu pai:
-Pai, mão na bola não é falta?

Foi aí que o meu progenitor se consciencializou que a batalha não iria ser fácil.
Em Junho de 1981, o meu pai apareceu com uma revista colorida comemorativa dos 15 anos do Mundial de 1966. Era a sua derradeira oportunidade de converter o herege. Ao comigo folhear a revista, deparo-me com duas páginas com fotografias individuais dos jogadores da Selecção. Segundo a opinião do meu pai, o seleccionador Manuel Luz Afonso marginalizara determinados jogador do FCP por ser um treinador benfiquista dos sete costados.
-Pai, quem é este guarda-redes?
-José Pereira, era do Belenenses. O Américo era muito melhor que ele.
-E este preto? (não, não era racista, tinha apenas seis anitos).
-É o Vicente, também do Belenenses. Partiu a perna ao Pelé. O Festa era muito melhor que ele.
-E este com cara de novo?
-É o Simões. O Nóbrega era muito melhor que ele.
De repente, detenho-me num senhor com cara bolachuda (Aos seis anos, usam-se termos que os adultos perdoam devido à sua imbecilidade léxica).
-E este?
-É o Jaime Graça.
(Espero pela comparação do meu pai).
-...Jogava no Benfica. Ninguém passava por ele nem pelo Coluna.
-E não havia ninguém no Porto melhor que eles?
(O silêncio do meu pai foi confrangedor. Saiu da sala e adivinho que partiu o pau de cotonete em lágrimas).

Jaime Graça retirou-se dos relvados em 1978. Já não fui a tempo de assistir à sua grandeza. Mas assisti ao brilhante trabalho que fez na prospecção e formação do Benfica. Tal como Sócrates que morreu no dia de consagração do Corinthians, também estava escrito no firmamento celestial que Jaime Graça teria de partir, vítima dessa doença maldita que é o cancro, no mesmo dia do aniversário do Benfica. E há ainda alguém que se atreva a dizer que Deus não é do Glorioso?!
Que grande texto? É teu?

Holmesreis

Citação de: Chefe em 29 de Fevereiro de 2012, 20:11
Citação de: Holmesreis em 28 de Fevereiro de 2012, 20:05
Tal como Calvino defendia a teoria da predestinação pela Fé, assim eu acredito que são as forças divinas que definem à nascença quais as preferências clubísticas de cada ser humano. No meu caso pessoal, Deus foi irónico: numa família de dezenas de portistas, lá fez nascer a 16 de Fevereiro de 1975 um tímido benfiquista que, ainda por cima, viu a primeira Luz do Dia na mesma data em que o Benfica derrotou o FCP em pleno Estádio das Antas por 3-0.
Aprendi a ler pelos jornais, especialmente pelo extinto «Comércio do Porto». Com 5 anos, já sabia articular arrastadamente algumas sílabas e o meu pai não deve ter achado muita graça quando chegava a casa, exausto do trabalho braçal, e comprovava os progressos de leitura do seu benjamim: «Cha-la-na»!«Né-né»!«Ben-to» e assim por diante. E, nessa altura, o meu pai deve ter interiorizado a decisão de levar o seu filho mais novo ao baptismo das Antas, antes que manchasse o nome da família. Deu-me um trapo azul e branco amarrado a um pau de cotonete e lá fomos no Fiat 850 para as Antas sentarmo-nos na Superior Norte para assistir a um FCP-Académico de Viseu.
Ora, já falei aqui de Jean Calvino e, quatro séculos e meio depois, o insígne religioso deverá concordar comigo que em 1980, um miúdo de 5 anos que já conhecia Chalana-Alves-Nené e Reinaldo não poderia apaixonar-se por uma equipa cujas primeiras figuras eram um «brinca na areia» chamado Niromar e jogador banais como Albertino, Quinito ou um irlandês chamado Mike Walsh. Ainda por cima, desse primeiro jogo que vi ao vivo, só me lembro quase das costas dos ribeirenses e contumilenses que estavam de pé, tapando a visão a um micro-anão de cinco anos que abanava aquele pau de cotonete só para ouvir o som do pano esticado ao vento, imitando os efeitos sonoros dos filmes de kung-fu quando o lutador voa embalado pelo Vento do Noroeste com o pernil esticado apontado à queixada de outro oriental.
Ora, nessa tarde de Março de 1981, apenas conseguia ouvir os gritos de «Corre, Cenoura!», «Salta, Cenoura», pensando na minha febril infantilidade que o Bugs Bunny que via na televisão estava ali mesmo debaixo do meu nariz a ser invectivado por 20 mil almitas. Só depois ao intervalo é que o meu mano mais velho, na sabedoria eloquente dos seus 12 anitos me explicou que o Cenoura era o Romeu que, nessa tarde, tinha sido adaptado a ponta de lança pelo treinador Hermann Stessl, por lesão do goleador Walsh. Depois do zero a zero da primeira parte e enquanto aqueles traseiros gordos dos espectadores estavam sentados na laje gélida da Superior a mascar bifanas mais duras que a caspa de dois anos que ostentavam naquele couro cabeludo, o jogo reata com um brasileiro já velhote chamado Duda a desmarcar-se no seu meio campo, a dominar uma bola com o braço e a arrancar em direcção à baliza para marcar golo. Os festejos foram inaudíveis, já que o Académico de Viseu era um colosso das Beiras e um candidato ao título nessa época. Quando os festejos acabaram, só me lembro de perguntar ao meu pai:
-Pai, mão na bola não é falta?

Foi aí que o meu progenitor se consciencializou que a batalha não iria ser fácil.
Em Junho de 1981, o meu pai apareceu com uma revista colorida comemorativa dos 15 anos do Mundial de 1966. Era a sua derradeira oportunidade de converter o herege. Ao comigo folhear a revista, deparo-me com duas páginas com fotografias individuais dos jogadores da Selecção. Segundo a opinião do meu pai, o seleccionador Manuel Luz Afonso marginalizara determinados jogador do FCP por ser um treinador benfiquista dos sete costados.
-Pai, quem é este guarda-redes?
-José Pereira, era do Belenenses. O Américo era muito melhor que ele.
-E este preto? (não, não era racista, tinha apenas seis anitos).
-É o Vicente, também do Belenenses. Partiu a perna ao Pelé. O Festa era muito melhor que ele.
-E este com cara de novo?
-É o Simões. O Nóbrega era muito melhor que ele.
De repente, detenho-me num senhor com cara bolachuda (Aos seis anos, usam-se termos que os adultos perdoam devido à sua imbecilidade léxica).
-E este?
-É o Jaime Graça.
(Espero pela comparação do meu pai).
-...Jogava no Benfica. Ninguém passava por ele nem pelo Coluna.
-E não havia ninguém no Porto melhor que eles?
(O silêncio do meu pai foi confrangedor. Saiu da sala e adivinho que partiu o pau de cotonete em lágrimas).

Jaime Graça retirou-se dos relvados em 1978. Já não fui a tempo de assistir à sua grandeza. Mas assisti ao brilhante trabalho que fez na prospecção e formação do Benfica. Tal como Sócrates que morreu no dia de consagração do Corinthians, também estava escrito no firmamento celestial que Jaime Graça teria de partir, vítima dessa doença maldita que é o cancro, no mesmo dia do aniversário do Benfica. E há ainda alguém que se atreva a dizer que Deus não é do Glorioso?!
Que grande texto? É teu?
Pois é, é grande, demasiado grande, terei de fazer posts mais pequenos para a próxima :)
É da minha autoria, estou a pensá-lo em usá-lo na minha autobiografia «Mística em terra de corruptos».

SonicYouth

Os meus mais sinceros sentimentos à sua família.
Um até sempre enorme Jaime Graça!

Sequel

#565
Citação de: Holmesreis em 29 de Fevereiro de 2012, 20:21
É da minha autoria, estou a pensá-lo em usá-lo na minha autobiografia «Mística em terra de corruptos».

Que textalhão. No bom sentido :metal:

Editado ;D

diableimage

Fogo, vocês têm de citar esse texto tanta vez? ;D

Chefe


diableimage


Mestre30