Decifrando imagens do passado

RedVC

#420
Citação de: Theroux em 29 de Abril de 2016, 23:56


Imagem por decifrar.

Bela imagem. Obrigado pela partilha.

Não sei decifrar convenientemente mas há alguns pontos a referir.

Ainda assim alguns elementos para melhor perceber a fotografia

Jogo rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira

O Benfica já parece jogar com a camisola vermelha e calças brancas. Isto significa que já não jogou com o equipamentos do Desportos Benfica (todo branco). A absorção dos Desportos de Benfica, em 17/09/1916.

Estreia do hóquei no nosso Clube em  3 de Junho de 1917.

O equipamento do adversário parece ser tricolor. Aliás existe uma bandeira tricolor. A outra bandeira talvez seja a nossa.



Do blogue EDB de Alberto Miguéns:


Equipa em 1917. Ainda com os equipamentos herdados do "Desportos de Benfica", embora Ilídio Vaquinhas Nogueira (guarda-redes) já jogasse de Glorioso Emblema ao peito. Em 1921, Cosme Damião exigiu camisola vermelha embora continuassem a jogar de calças brancas. Durante um ano. Em 1922 já se jogava de calções, embora pelos...joelhos. Foi difícil reduzir o tecido nas pernas!

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/hoquei-em-patins-honrem-os-ases-que-nos.html


Outra fotografia do blogue de Alberto Miguens:


O rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira, local do 1.º SLB vs Paço de Arcos Hockey Club

Diz ainda Alberto Miguéns: "18 de Julho de 1939, quando para a 6.ª jornada do Campeonato de Lisboa, no rinque da nossa Sede na Avenida Gomes Pereira, ao vencermos, por 5-0, a equipa do famoso clube de hóquei em patins da linha."

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/vai-jogar-o-clube-mais-antigo-do-mundo.html


Eu diria que o jogo deve ser de 1921-1922.


RedVC

#421
Ainda do que se extrai do que Alberto Miguéns nos diz, é bastante provável que a fotografia tenha registado um jogo entre o Sport Lisboa e Benfica e o Recreios da Amadora.

Já falei aqui em tempos dessa excelente colectividade (nº 22 - A Taça da Amadora") mas na altura não encontrei as cores, o símbolo e a bandeira. Não ficaria admirado se confirmassem a teoria.



Resta dizer que nesses tempos tanto quanto sei os três grandes clubes do hóquei seriam o Recreios da Amadora, o Desportos de Benfica (que em 1917 deixou de ser filial e  foi absorvido pelo Sport Lisboa e Benfica) e o Hockey Clube de Portugal.


Emblema do Desportos de Benfica

Fonte: https://rinkhockeynews.wordpress.com/


RedVC

#422
-101-
As Gloriosas fazendas d'Alcântara.

A "Casa do Povo d'Alcântara".

Uma gravura que fazia parte de um cartaz publicitário do início do século XX.


Detalhe (esquerda) de um cartaz publicitário (direita) da Casa do Povo d'Alcântara. O cartaz é de algures do princípio do século. Foram estas as oficinas de Alfaiataria que forneceram as 12 primeiras camisolas do nosso Clube. Fonte: Museu Cosme Damião.

No dia 18 Fevereiro de 1905 foi a esta a casa comercial que Manuel Gourlade pagou 12 mil reis. Tinha passado menos de um ano depois da fundação do Sport Lisboa, e nesse dia o então tesoureiro do Clube, pagava assim a compra de 12 camisolas de flanela vermelha.

Essas foram as 12 primeiras camisolas cuja existência está oficialmente registada no nosso Clube (documento nº 40). A factura ainda existe e tem um merecido lugar de destaque no acervo do nosso Museu.



Factura da Casa do Povo d'Alcântara datada de 18 de Fevereiro de 1905. Factura relativa ao fornecimento pelas oficinas de Alfaiataria de 12 camisolas de flanela. Fonte: Em Defesa do Benfica.



Réplica da primeira camisola oficial do nosso Clube. Fonte: Loja online do SLB.



A Casa do Povo d'Alcântara


Como se percebe pelo cartaz publicitário, a Casa do Povo d'Alcântara tinha como proprietário o Sr. João de Oliveira Miguéns, figura destacada entre os Republicanos daquela época, que morreu em Janeiro de 1907. Assim se explica que pouco depois da implantação da Republica, julgou por bem a CML atribuir o seu nome a uma Rua adjacente à sua antiga propriedade.


Fonte: Hemeroteca de Lisboa

A este propósito diz-nos o sítio da internet Toponímia de Lisboa acerca de João Oliveira Miguens:

Em Junho de 1913, quase três anos após a implantação da República, a Câmara Municipal de Lisboa perpetuou na memória da cidade João de Oliveira Miguéns, conhecido republicano e comerciante de Alcântara.

Foi pelo Edital de 6 de junho de 1913 determinado «que a antiga rua Cascaes passe a denominar-se rua de João d' Oliveira Miguéns», com início na Avenida 24 de Julho e fim na Rua Prior do Crato, sita então nas Freguesias dos Prazeres e de Alcântara. Quatro anos mais tarde, por edital municipal de 25/05/1917, foi desanexada da Rua João de Oliveira Miguéns a parte compreendida entre a Rua Fradesso da Silveira e a margem do Tejo ficando com a antiga denominação de Rua Cascais.

João de Oliveira Miguéns (1867-07.01.1907) era o proprietário da Casa do Povo d'Alcântara, na antiga Rua do Livramento (hoje Rua Prior do Crato), ocupando os nºs 137, 139, 141 e 143, uma loja virada sobretudo para os tecidos e roupas. Refira-se que os fregueses dos Armazéns da Casa do Povo d'Alcântara também recebiam pratos-brinde executados pela Fábrica de Louça de Alcântara (fundada em 1885). Após a morte de João de Oliveira Miguéns em Janeiro de 1907, sobre o edifício dos Armazéns foi construída a sede do Atlético Clube de Portugal, da autoria de Guilherme Francisco Baracho.
Oliveira Miguéns pertenceu ao directório do Partido Republicano Português, foi Grão-Mestre da Maçonaria e, em 1902, por ocasião do Convénio, organizou uma tentativa de levantamento armado em Alcântara.

João de Oliveira Miguéns recebeu uma cerimónia de homenagem um ano após o seu falecimento, no dia 7 de Janeiro de 1908, na Sociedade Promotora de Instrução (depois, de Educação Popular), então sediada no nº 6 da Rua de Alcântara, na qual discursaram Inácio da Conceição Estrela, Fernão Boto Machado, Fernão Pires, Joaquim Ferreira da Silva, Joaquim Ribeiro Moita e Arnaldo de Carvalho. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres junto de um monumento erguido por subscrição pública e com o seguinte epitáfio: «Ao Livre Pensador, Sincero Democrata e Honrado Cidadão João d'Oliveira Miguéns, os seus amigos, correlegionários e admiradores. 1909».


Fonte: https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/01/30/joao-de-oliveira-miguens-o-republicano-comerciante-de-alcantara/



Prato-brinde para os Clientes da Casa do Povo d'Alcântara. Ao lado está o selo estampado e gravado no verso do prato. Era a marca da porcelana da produzida pela Fábrica de Loiça de Alcântara (1885-1936) situada ali bem ao lado. Na produção das suas peças era utilizado o barro de Leiria bem como materiais ingleses. A loiça era estampada ou pintada à mão, sendo a sua maior produção a loiça de uso comum. Fonte: http://mercadoantigo.weebly.com/alcantara.html



Edifício do Atlético Clube de Portugal/Antigos Armazéns da Casa do Povo de Alcântara. Aspecto da zona já em 1940. Fica hoje entre a Rua Prior do Crato (antiga Rua do Livramento), 135-137; Rua João de Oliveira Miguéns (antiga Rua Cascaes), 76-84. "O projecto realizado (1906), procurou reabilitar e renovar a área industrial em que se ia implantar e onde se tinha acabado de construir um outro exemplar significativo da 'arquitectura do ferro' - o mercado de Alcântara (1904)". Fonte: CML.



Cupão de desconto da Casa do Povo d'Alcântara de 1962. Nota-se que o prédio já é o que actualmente existe, sede do Atlético Clube de Portugal.



As camisolas e as cores

As 24 camisolas terão sido pagas pelos 24 fundadores o nosso Clube, ou seja cada um terá financiado meia camisola, presumindo-se pagando a quantia de 500 Reis (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/08/benfica-e-arte-feliz-escolha-das-cores.html). As camisolas eram consideradas propriedade do Clube sendo fornecidas aos jogadores aquando dos jogos (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html).

Dessa forma, nos dias em que jogavam sucessivamente a primeira e segunda categoria, as camisolas tinham de ser partilhadas e por isso entregues já bem suadas aos jogadores que jogavam depois. Tempos de amor à camisola... suada.



A equipa da 3ª ou (eventualmente 2ª) categoria do Sport Lisboa, algures entre 1905-1907. Fotografia tirada nas terras do Desembargador às Salésias. Com grande probabilidade estão aqui 10 das 12 camisolas de flanela vermelha compradas à Casa do Povo d'Alcântara. Imagem colorida artificialmente. Fonte: AML.


Felizmente quem quiser pode estar perto e ver uma dessas 12 camisolas originais. Uma dessas míticas camisolas está exposta no nosso Museu, na zona dedicada a Cosme Damião. Por lá nos é dito que foi envergada por aquele Glorioso fundador.



Uma das relíquias supremas do nosso Clube. O manto sagrado de Cosme Damião. Uma das 12 camisolas originais compradas em 1905.


Na verdade tendo em conta a prática de partilha acima descrita, não foi bem assim. Para além de Cosme Damião, a dita camisola de flanela vermelha terá com certeza sido envergada por outros jogadores do Glorioso.



A combinação de cores vermelha e branca foi definida desde o início por proposta de José da Cruz Viegas. Não sendo um dos 24 fundadores, foi – tanto quanto a sua vida de militar lhe veio a permitir – um dos mais decisivos desses primeiros dias. Para além das cores terá sido também por sua proposta que se evitou que o Clube se viesse a chamar "Grupo Futebol Lisbonense" com a alegação que a sigla GFL poderia ser interpretada como Guarda Fiscal de Lisboa...



José da Cruz Viegas, ele mesmo envergando um dos doze mantos sagrados originais. Fotografia registada depois de um jogo em 1907 contra o CIF. Fonte: AML.


José da Cruz Viegas foi um grande defesa, geralmente jogando do lado direito ao lado ou de Emílio de Carvalho ou de Henrique Costa. Sendo militar, a sua vida profissional acabou por o impedir de jogar por diversas vezes sendo pelo menos numa dessas ocasiões – no torneio Viúva Senna disputado em 1906 - substituído por Cosme Damião, então jogador da segunda categoria.

Não tendo sido um fundador, a relevância de José da Cruz Viegas é em meu entender a demonstração da existência de um núcleo de homens determinantes para o nascimento do Sport Lisboa. Uma demonstração de que o Clube foi fundado pela acção e inspiração de mais do que um conjunto de 24 homens. De facto, os Casapianos mais velhos, António Couto, Daniel Queiroz dos Santos, Januário Barreto, Emílio de Carvalho, Silvestre da Silva, Francisco dos Santos, José Neto, David da Fonseca, entre outros, não fizeram parte dos 24 fundadores mas já por lá andariam nos primeiros dias do Clube. Muitos deles foram titulares do primeiro jogo oficial e foram ainda as principais figuras da nossa equipa 1ª categoria durante os 3 primeiros anos, de 1904 a 1907.

O vermelho e o branco foram propostos por representarem a alegria, o colorido e a vivacidade como base do entusiasmo na luta em desporto (ver o excelente texto de Alberto Miguéns: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/08/benfica-e-arte-feliz-escolha-das-cores.html). Luta leal, luta ardorosa, luta dentro dos campos no respeito pelas regras e pelo adversário. Luta ganhadora. Luta à Benfica! E assim nos conservámos fiéis a esse ideal ao longo destes 112 anos de vida do Glorioso.


O primeiro equipamento?

Voltando à data de aquisição das 12 camisolas, percebe-se que ao olhar para 18 de Fevereiro de 1905 se existe um hiato de cerca de um ano, ou seja entre Fevereiro de 1904 e Fevereiro de 1905. Que equipamento terá sido usado?

Pelos registos de Gourlade sabe-se que durante os primeiros 12 meses o nosso Clube fez 24 treinos. Provavelmente não terão sido usados equipamentos formais. Mas já nada se sabe relativamente ao que se passou no primeiro jogo oficial da nossa história, disputado contra o Campo de Ourique em Janeiro de 1905 (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/01/um-minuto-de-silencio.html). Qual terá sido o equipamento usado naquele primeiro dia de Janeiro de 1905? Provavelmente nunca se saberá a resposta definitiva mas ainda assim talvez existam pistas.

De facto, Daniel dos Santos Brito, funcionário da Farmácia Franco terá falado num equipamento com quadrados vermelhos e brancos. Algumas interpretações recentes acerca dessa afirmação foram no sentido de propor que esse equipamento inicial seria um pouco à maneira do Boavista mas com vermelho e branco. Uma camisola de "Boavista vermelho e branco"...



Terá sido este o primeiro equipamento do Sport Lisboa em 1904? Pouco provável... Fonte: Vitórias e Património.


Esta proposta apresentada num dos episódios do Vitórias e Património, tem desde logo um detalhe absurdo que é a colocação do emblema mais recente do nosso Clube. Depois parece-me que pensar que o equipamento tinha estes quadradinhos é uma outra suposição absurda, uma proposta pouco reflectida.

Sujeito a opinião mais informada, parece-me que é desde logo absurda uma vez que a estampagem por questões técnicas não era algo corrente nessa época em equipamentos desportivos. Também por isso a tradição da época era de equipamentos com quadrados grandes, conforme alguns clubes Ingleses da época. Aliás a escolha da equipa da AFL deveu-se justamente à influência de Guilherme Pinto Basto que fez a sua formação em Inglaterra. e não esquecer que essa equipa estava carregada de jogadores Ingleses. Existem vários sítios da internet com essa informação sobre os "jerseys" do futebol em tempos "Vitorianos": http://www.historicalkits.co.uk/Articles/Olde_Curiosity_Shoppe.htm




Alguns exemplos de equipamentos dos primórdios do futebol em Inglaterra. Note-se o equipamento aos quadrados vermelho e branco.


Em nenhum caso me parece que tenha existido algo parecido com um Boavista do século XIX. Até o Boavista começou a usar os quadrados pequenos a partir 29 de Janeiro de 1933. Pensar neste tipo de equipamento em 1904 é absurdo. Não havia precedentes históricos. Como se fosse Portugal a inovar nesse aspecto mesmo que os equipamentos tivessem sido feitos em Portugal e não importados de Inglaterra.

E de facto se atentarmos, esses equipamentos aos quadrados a terem existido poderão ter sido similares aos equipamentos usados pela primeira selecção de Lisboa liderada por Guilherme Pinto Basto e pelos irmãos Vilar (Carlos e Joaquim). Em 1894 essa equipa venceu uma selecção de jogadores da cidade do Porto. Conforme nos diz Manuel de Sousa no seu magnífico livro "As origens do Futebol" na página 179, esta equipa de 1894 envergou camisolas "escarlate com grandes quadrados brancos".


Assim este modelo parece-me bem mais credível para o que terá sido o primeiro manto sagrado:







"As origens do futebol" de Manuel Sousa. Um belo livro que merece um merecido destaque. Edição Oro Faber. 2004. In-8.º de 270-IV págs. Encadernação editorial em tecido. Profusamente ilustrado.


Seria essa a cor das camisolas da fotografia em baixo apresentada e muito provavelmente o modelo que terá sido escolhido para o primeiro equipamento do Sport Lisboa. Se há que especular sobre as afirmações de Daniel Santos Brito então que se faça levando em conta o contexto e a moda da altura. Sem outro testemunho mais concreto ou uma documentação fotográfica esta ideia parece-me muito mais razoável.



Equipa de Lisboa que disputou em 1894 um jogo contra uma equipa do Porto. Comandada por Guilherme Pinto Basto (com a bola), considerado o introdutor do futebol em Portugal (1888). Está presente Carlos Villar, outro pioneiro relevante. Vê-se também a Taça que foi oferecida ao vencedor pelo Rei D. Carlos I e que foi justamente conquistada após a vitória desta equipa lisboeta sobre a equipa da cidade do Porto. Fonte: AFL.


A evolução dos modelos

No nosso Clube, já depois da fusão e correndo a época de 1909-1910 deu-se a introdução de uma nova camisola. Vermelha como sempre o foi desde 1905. Esta camisola era feita de algodão e tinha um modelo diferente, apresentando uma gola com atilhos. Réplicas das duas camisolas podem ser admiradas e adquiridas na loja do nosso Clube.



Os dois primeiros mantos sagrados. O primeiro modelo (esquerda), de flanela, foi utilizado entre 1905 e 1909. O segundo modelo (direita), de algodão,  foi com pequenas diferenças de estilo, usado entre 1909 e 1928. Fonte: loja online do Sport Lisboa e Benfica.


O contraste entre os dois modelos torna mais interessante e evidente o regresso fugaz de António Rosa Rodrigues, um dos 24 fundadores de 1904 ao nosso Clube. Depois da sua partida juntamente com mais sete companheiros para o SCP no decurso da crise de Maio de 1907, apenas dois jogadores regressariam para volta a envergar o manto sagrado.

O primeiro foi o grande Henrique Costa que durante mais de uma década foi o primeiro grande defesa da nossa História. O segundo foi justamente António Rosa Rodrigues, um dos irmãos Catatau, conhecido por "Neco". E como se vê o "Neco" conservava a sua camisola de flanela vermelha. E utilizou-a mostrando claramente que para ele o Sport Lisboa e Benfica e o Sport Lisboa eram o mesmo Clube. O Clube que ele tinha ajudado a fundar e que tinha abandonado em Maio de 1907. Apesar dos regressos terem sido fugazes (dois jogos em 1909-1910, contra o CIF em 21 de Novembro de 1909 e contra o Gilman em 27 Março de 1910) tiveram uma importância simbólica muito grande.



António Rosa Rodrigues (1º modelo) um dos 24 fundadores do Sport Lisboa evoluindo perto de Carlos Homem de Figueiredo (2º modelo). Jogo disputado no campo de Alcântara contra o CIF em 21 de Novembro de 1909. Vitória do SLB por 2-0 golos de Cosme Damião e do... "Neco"! Fonte: Benfica TV.


Mas o contraste entre esses modelos ficou evidenciado por outras situações ao longo de mais anos. Isso deveu-se em parte à escassez de recursos dos clubes Portugueses nessa época, escassez essa que se acentuaria com as convulsões políticas e económicas e mais tarde com o deflagrar da I Guerra Mundial. Tempos difíceis.

Para além disso deve salientar-se que em alguns casos essas camisolas mais antigas eram também orgulhosamente envergadas por jogadores da velha guarda. Conferiam estatuto. Em alguns casos eram envergadas por jogadores que, não admitiam sequer usar as mais novas tais como o Glorioso David da Fonseca a quem não se conhece outro manto sagrado apesar de ter jogado num tempo em que já se usava o segundo modelo. David foi um dos que saiu em 1907 mas não para o SCP. Saiu para o Cruz Negra durante um anos regressando ao Clube logo que percebeu que o nosso Clube sobrevivia à grande crise de 1907. E voltou para encarnar por mais alguns anos um dos primeiros exemplos da grande de mística Benfiquista revelando literalmente um inultrapassável amor à camisola.



Alguns dos resistentes que utilizaram do modelo mais antigo da nossa Gloriosa camisola para lá de 1909-1910 (época de transição).


Por isso quando envergarem o vosso manto sagrado orgulhem-se da cor vermelha e da águia ao peito. Lembrem-se de quem definiu as cores e o símbolo. Lembrem-se de que muito antes de vocês outros usaram o seu manto com enorme paixão. Por vezes em tempos difíceis mas sempre com paixão e sempre assente num Ideal definido em 28 de Fevereiro de 1904. Os pioneiros do primeiro manto sagrado. Honra à sua memória.


Theroux

Citação de: RedVC em 12 de Julho de 2014, 16:36
-4-
Os mestres Ingleses na Feiteira

1910, Campo da Feiteira, Benfica

Sport Lisboa e Benfica vs Carcavellos SC

Imagens disponíveis não sei se são relativas ao jogo do campeonato de 1910 ganho pelo Benfica  ou se do segundo, um particular, ganho em desforra pelo Carcavelos SC. Resolução fracota a partir de imagens da Torre do Tombo (com marca de água):

Spoiler

Fonte: Digitarq
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Em duas fotografias distingue-se a figura inconfundível de Cosme Damião.

Capturas de imagens do periódico Ilustração Portugueza:
Spoiler




Fonte: Hemeroteca de Lisboa
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nota-se uma maior participação de diversos jogadores mais avançados do Benfica, e por isso presumo em atitude ofensiva (está um Inglês encostado a um poste). Está um outro Inglês de calções pretos, presumo ser o guarda-redes. O tamanho do Inglês mais à esquerda era mesmo de impor respeito.


Em qualquer dos casos penso tratarem-se de fotografias tiradas pelo grande fotógrafo Joshua Benoliel:

http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765
Fonte: Fórum Ser Benfiquista

Na assistência notam-se pessoas sentadas no chão, notam-se chapéus de chuva (jogo em Janeiro). O detalhe de pessoas a assistir na varanda da vivenda é delicioso. O primeiro camarote VIP num campo em que... não havia bancadas. O árbitro o Sr. Charles Etur parece estar com um chapéu branco.

Por último, da leitura do texto da Ilustração Portugueza, percebe-se que Jorge Rosa Rodrigues, o quarto e último dos Catataus a sair para o SCP, era um temperamental. A minha interpretação é que desagradado com a decisão do árbitro decidiu abandonar o seu lugar de guarda-redes, o que provavelmente quer dizer o campo. Naquele tempo a especialização do lugar de guarda-redes não era uma norma e por isso deverá ter sido substituido nesse lugar por um dos colegas.

Ai Catatau, Catatau...
Spoiler
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Numa época em que os ingleses eram os "mestres" do futebol, o Sport Lisboa e Benfica conseguiu impor-se com uma equipa exclusivamente portuguesa. Esta imagem equestre, oferecida por Bernardino Costa em 1911, representa a vitória sobre os ingleses do Carcavellos Club e pode ser vista na área 1 - Ontem e Hoje.

RedVC

#424
Citação de: Theroux em 04 de Maio de 2016, 09:10
Citação de: RedVC em 12 de Julho de 2014, 16:36
-4-
Os mestres Ingleses na Feiteira

1910, Campo da Feiteira, Benfica

Sport Lisboa e Benfica vs Carcavellos SC

Imagens disponíveis não sei se são relativas ao jogo do campeonato de 1910 ganho pelo Benfica  ou se do segundo, um particular, ganho em desforra pelo Carcavelos SC. Resolução fracota a partir de imagens da Torre do Tombo (com marca de água):

Spoiler

Fonte: Digitarq
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Em duas fotografias distingue-se a figura inconfundível de Cosme Damião.

Capturas de imagens do periódico Ilustração Portugueza:
Spoiler




Fonte: Hemeroteca de Lisboa
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nota-se uma maior participação de diversos jogadores mais avançados do Benfica, e por isso presumo em atitude ofensiva (está um Inglês encostado a um poste). Está um outro Inglês de calções pretos, presumo ser o guarda-redes. O tamanho do Inglês mais à esquerda era mesmo de impor respeito.


Em qualquer dos casos penso tratarem-se de fotografias tiradas pelo grande fotógrafo Joshua Benoliel:

http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765
Fonte: Fórum Ser Benfiquista

Na assistência notam-se pessoas sentadas no chão, notam-se chapéus de chuva (jogo em Janeiro). O detalhe de pessoas a assistir na varanda da vivenda é delicioso. O primeiro camarote VIP num campo em que... não havia bancadas. O árbitro o Sr. Charles Etur parece estar com um chapéu branco.

Por último, da leitura do texto da Ilustração Portugueza, percebe-se que Jorge Rosa Rodrigues, o quarto e último dos Catataus a sair para o SCP, era um temperamental. A minha interpretação é que desagradado com a decisão do árbitro decidiu abandonar o seu lugar de guarda-redes, o que provavelmente quer dizer o campo. Naquele tempo a especialização do lugar de guarda-redes não era uma norma e por isso deverá ter sido substituido nesse lugar por um dos colegas.

Ai Catatau, Catatau...
Spoiler
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Numa época em que os ingleses eram os "mestres" do futebol, o Sport Lisboa e Benfica conseguiu impor-se com uma equipa exclusivamente portuguesa. Esta imagem equestre, oferecida por Bernardino Costa em 1911, representa a vitória sobre os ingleses do Carcavellos Club e pode ser vista na área 1 - Ontem e Hoje.

o Troféu Bernardino Costa. Pai do Tótinhas. É um dos textos que comecei e tentarei acabar um dia destes. Quando era pequeno este era considerado o primeiro troféu da história do Benfica. O museu fez um belo trabalho de recuperação da peça.






Ginkgo

Não é uma imagem do Benfica, mas não podemos ignorar esta data histórica dos 71 anos do final da 2ª Guerra Mundial

(do blog entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/)




Como é sabido, também se festejou em Portugal. Multidões saíram à rua com bandeiras dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e do Benfica. Estas últimas substituíam as da União Soviética – um dos vencedores da guerra na Europa –, obviamente proibidas... Em Almada, depois dos patrões ingleses de algumas fábricas de Cacilhas darem 1/2 dia feriado, também houve desfile com as bandeiras dos vencedores e um pau sem nada.



http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/

RedVC

Bela evocação. O Sport Lisboa e Benfica sempre foi um farol de liberdade em Portugal. Mais do que a cor da bandeira soviética
acho que também o facto de ser um Clube com uma tradição democrática em Portugal desde a sua fundação.

Por muito que tentem emporcar com as suas manhas, ódios, invejas e provocações, o que é um facto é que o Benfica teve sempre em tempos de Monarquia, da Republica, do Estado Novo e na Democracia de Abril, o Sport Lisboa e Benfica teve sempre a mesma tradição. A Direcção e os restantes corpos sociais foram sempre eleitos em votação democrática dos sócios.

Apenas a primeira Direcção em 28 de Fevereiro de 1904, Direcção foi nomeada por 24 sócios. Tantos quantos os que existiam.


Benfica é liberdade.


Fonte: AML


É vermelho essencialmente mas também é branco, verde, azul, amarelo e preto.





RedVC

#427
-102-
Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.

O Bronze Bernardino Costa em frente ao Mosteiro dos Jerónimos:


O bronze Bernardino Costa exposto em frente do Mosteiro dos Jerónimos, bem perto do local de onde terá sido oferecido ao Clube.


Esta peça foi durante muito tempo considerado o primeiro troféu conquistado pelo nosso clube. Hoje sabe-se que a verdade histórica é outra. Mas lá iremos.

É uma bela peça, aliás uma das mais bonitas e de maior valor simbólico que consta do acervo do nosso Museu. Uma peça que tem um enorme significado histórico e que por isso mesmo foi alvo de um cuidado trabalho de restauro que não apenas a rejuvenesceu como também a terá salvaguardado de uma degradação crescente provocada por um restauro anterior bastante infeliz. Essa intervenção foi ilustrada no Vitórias e Património dedicado ao Centro de Preservação e Catalogação do acervo do nosso Museu.



Diferentes etapas do excelente restauro do Bronze Bernardino Costa. Trabalho feito pelo Departamento de Restauro do nosso Museu. Trabalho feito com metodologia científica, qualificado e rigoroso. Um exemplo para todos os outros clubes. Fonte: Benfica TV; capturas de ecrã de episódio do Vitórias e Património.



O bronze Bernardino Costa restaurado. Resultado final extraordinário! Fonte: Museu Cosme Damião.

Não sei ao certo que figura representará, que cavaleiro de que civilização mas a peça lembra-me a estátua equestre de Vercingetórix, herói Gaulês do tempo da ocupação Romana.



Estátua equestre de Vercingetórix na Place de Jaude de Clermont-Ferrand. Fonte: http://uk.france.fr/en/discover/clermont-ferrand


Os primeiros troféus

Já por aqui se disse que o troféu Bernardino Costa foi durante décadas considerado o primeiro da nossa história existente no acervo do Clube. No entanto o esforço de catalogação dos últimos anos permitiu corrigir esta ideia. A verdade histórica é outra.

Sabe-se agora que os primeiros troféus terão sido, com grande probabilidade, duas estatuetas conquistadas pelas nossas segundas e terceiras categorias nos campeonatos regionais de Lisboa de 1907. Mais detalhes em: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/06/honraram-o-manto-sagrado.html.



As equipas de futebol da 2ª e 3ª categoria que conquistaram os nossos dois primeiros troféus em 1907. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Os dois bronzes foram oferecidos pelo Clube Internacional de Futebol (CIF), o clube dos irmãos Pinto Basto. Os Pinto Basto foram os grandes pioneiros do Futebol Português. Duas gerações de homens que principalmente entre 1888 e 1914 desenvolveram um trabalho de promoção do futebol (e não só) em Portugal. O desporto Português muito deve a esses homens ilustres. Deviam ser lembrados mais vezes.

Infelizmente esses dois primeiros troféus estão perdidos.

Lamentavelmente os dois bronzes terão sido colocados numa loja de penhores por um funcionário do clube ao tentar acudir a uma crise financeira ou então segundo outra versão foram simplesmente roubados. Infelizmente nunca mais apareceram.

Derretidos? Perdidos? Estarão anonimamente a ornamentar alguma prateleira numa casa Lisboeta? Mistério. Deles resta apenas uma fotografia, a única percepção que podemos ter de como eram esses dois objectos de arte (troféus-estatueta).



Restaurante Bacalhau Julho 1910. Os 44 convivas rodeiam os seis primeiros troféus conquistados pelo Sport Lisboa e Benfica. Esta imagem é o que nos resta dos dois bronzes perdidos. Ali se podem ver os dois bronzes desaparecidos, conquistados em 1907 pelas equipas da segunda e da terceira categoria de futebol. Lá estão imortalizados ao lado de Félix Bermudes e Cosme Damião. Fonte: Tiro e Sport: Ao lado apresenta-se também o troféu Viúva Senna conquistado pelo Lisbon Cricket Club em 1905. Troféu de bronze similar aos nossos.


Os Costa de Belém

Conforme nos disse Alberto Miguéns (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/04/a-titularidade-de-alvaro-gaspar.html), o bronze foi prometido pelo sócio Bernardino Costa para incentivar a equipa a ganhar um difícil jogo em Carcavelos contra os Ingleses do Carcabellos Club também conhecidos por Ingleses do Cabo submarino.

E assim foi! A equipa correspondeu vencendo o Carcavellos Club por 1-0 no dia 19 de Fevereiro de 1911 entrando esta magnífica peça no acervo do Clube.



Recortes da reportagem do grande jogo de 19 de Fevereiro de 1911. Fonte: Sports Ilustrados, nº 36 de 25 de Fevereiro de 1911.


Esta foi a terceira vitória conseguida pelo nosso clube sobre o Carcavellos Clube. Nenhum outro Clube conseguiu este feito. Aliás nenhum outra equipa ou clube depois de 1897 conseguiu sequer uma vitória contra o Carcavellos Club! Nem o CIF, nem o SCP, muito menos o Império, o Cruz Negra ou o S.U. Belenense. Nenhum.

O máximo que conseguiram foi um empate e já na fase de decadência dos Ingleses. Uma decadência provocada pelo retorno a Inglaterra dos homens para integrarem o esforço militar na I Guerra Mundial em terras de França. O único Clube que o conseguiu e logo por três vezes foi o Sport Lisboa e Benfica!


Antes de 1911 as duas vitórias anteriores foram igualmente muito importantes. A primeira (2-1) foi obtida num jogo também disputado em Carcavelos em Fevereiro de 1907. Nesse ano o nosso Clube ainda se chamava Sport Lisboa e a equipa que jogou ainda tinha os homens que desertaram em Maio desse ano para o SCP. A segunda vitória (1-0) foi obtida num jogo disputado em Janeiro de 1910 no nosso campo da Quinta da Feiteira. Uma vitória decisiva para a conquista do campeonato regional desse ano, o primeiro da nossa história.

Os Costa de Belém

Mas em 1911, a terceira vitória traria uma duradoura demonstração do já existente fervor Benfiquista. A oferta de um troféu por António Bernardino Costa. Com esse gesto Bernardino Costa, natural e morador em Belém entrou para sempre na História do SLB. Ao que se sabe, em antecipação ao grande jogo, Bernardino Costa terá prometido oferecer essa peça de bronze ao Clube caso a equipa de futebol conseguisse vencer o grande jogo.

E assim foi. Após a vitória Bernardino Costa converteu num troféu uma peça que inicialmente era um produto de venda exposto na montra da sua loja de bricabraque.



Bernardino Costa, o homem que ofereceu ao Benfica um dos seus primeiros troféus. Fonte: Benfica TV.


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Bricabraque é uma expressão aportuguesada do francês bric-à-brac, por vezes também escrito brique-a-braque ou apenas brique. Refere-se a colecções de diversos tipos de velhos objectos de artesanato ou arte, tais como antiguidades, bijuterias, móveis, vestuários, entre outros. O termo designa também os estabelecimentos em que esses produtos são comercializados. Fonte: wikipedia (adaptado). Essa moda terá começado em França ainda no século XIX, uma vez que se encontram referências na obra de Victor Hugo e particularmente Balzac na personagem Pons criada no romance "Le Cousin Pons". Podemos também encontrar referências a essa moda de coleccionar bricabraque por exemplo nos Maias, a imortal obra de Eça de Queiroz, uma vez que as personagens Carlos da Maia e o Inglês Craft eram coleccionador de bricabraque. E realmente copiando o modelo Francês também em Portugal existia esse tipo de coleccionismo em algum do Portugal Lisboeta.



Não sabemos ao certo como seria nem se localizava a loja de Bernardino Costa mas esta loja de bricabraque em Nantucket (Massachussets, EUA), cerca de 1880, poderá dar algumas pistas.

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Não há muita informação acerca de António Bernardino Costa mas sabe-se que foi um comerciante natural e morador na vila de Belém. Para além da loja de bricabraque terá também sido proprietário de uma taberna igualmente na vila de Belém.

À data de nascimento dos seus filhos, Bernardino e a mulher moravam na Rua Direita em Pedrouços, não muito longe da Rua Direita de Belém, local onde se situava a famosa Farmácia Franco.



Dois aspectos da Rua Direita de Pedrouços em 1938. Longe iam os tempos de Bernardino Costa mas a zona não terá mudado assim tanto. Fonte: AML.


Bernardino Costa teve um outro detalhe notável para o universo Benfiquista. Foi pai de António Costa, o popular Tótinhas, um dos jogadores mais destacados desses tempos pioneiros.

Para além do Tótinhas, teve pelo menos mais quatro filhas, Mariana, Beatriz, Ester e Glória, todas nascidas no bairro de Belém. O Tótinhas nascido em 18 de Julho de 1889 foi provavelmente o único rapaz da família.

Por um feliz acaso, nesse dia de 19 de Fevereiro de 1911 foi o Tótinhas que marcou o golo da vitória! Ou seja o filho marcou o golo e o pai ofereceu o troféu!


Fotografia colorida da equipa que venceu o Carcavellos em 19 de Fevereiro de 1918. Em destaque está António Costa, autor do único golo do desafio conforme se lê no excerto da notícia do Sports Ilustrados. De pé da esquerda para direita: Luís Vieira, Henrique Costa, Alfredo Machado, Francisco Belas, Cosme Damião e Artur José Pereira. Sentados da esquerda para a direita: Germano Vasconcellos, António Costa, José Domingos Fernandes, Carlos Homem de Figueiredo e Virgílio Paula. Fonte: Em Defesa do Benfica. Fotografia colorida a partir de um original de Virgílio Paula.


O Tótinhas jogou geralmente a médio ou a avançado. Foi também um dos poucos jogadores que esteve nos areais de Belém, nas terras das Salésias, na Quinta da Feiteira, Palhavã, Laranjeiras e muito provavelmente ainda no campo de Sete Rios. Jogou na primeira categoria de 1907/1908 até 1913/1914 sendo que em 1911/1912 jogou na segunda categoria.

Terá sido aliás um dos jovens que integrou os treinos do Sport Lisboa nos terrenos das Salésias e nos areais de Belém. Sabemos isso pelo testemunho de Daniel Santos Brito funcionário da Farmácia Franco, conforme atesta um artigo publicado no jornal Echos de Belém. Quem sabe, talvez ainda tenha mesmo chegado a trocar umas bolas no famoso pátio da Farmácia Franco...



Excerto de entrevista a Daniel Santos Brito. Fonte: Em Defesa do Benfica.


O primeiro registo fotográfico que conheço de António Costa mostra-o por volta de 1905-1907 integrado numa equipa de futebol da 2ª ou 3ª categoria do Sport Lisboa. Uma fotografia preciosa pois é a única que captou uma equipa do Glorioso alinhada no campo das Salésias. O Tótinhas estava lá. Ele foi um dos pioneiros das Salésias. Uma honra que poucos tiveram.

Pela disposição dos jogadores percebe-se que actuou como extremo direito, posição em aliás evoluiu com frequência, isto embora nesses tempos a polivalência fosse uma característica comum aos jogadores. Era frequente haver falta de jogadores e às vezes nem a posição de guarda-redes estava salvaguardada pela especialização. Jogava quem estava disponível.



António Costa (em destaque) integrado numa equipa da 2ª ou 3ª categoria do Sport Lisboa. Sentados no primeiro plano, esquerda para a direita: António Costa, António Alves (?), Luís Rodrigues, Eduardo Corga e António Meireles. No 2º plano: Carlos Monteiro, Mário Monteiro e Luís Vieira. No terceiro plano: Henrique Teixeira, Manuel Gourlade e Leopoldo Mocho. Fonte: AML.


Essa equipa das Salésias tinha jogadores de enorme relevância nesses tempos pioneiros. Para começar três fundadores do Clube: Manuel Gourlade, Eduardo Corga e Henrique Teixeira! Depois outros sete que provavelmente só não foram fundadores por razões circunstanciais, uma vez que foram nomeados por Daniel Santos Brito como estando nos treinos pré-fundação: Leopoldo Mocho, Luís Vieira, Mário Monteiro, Carlos Monteiro, Luís Rodrigues, António Alves e António Meireles. Tudo gente ilustre, tudo gente que chegou a jogar na primeira categoria.

Entre eles e para além de Manuel Gourlade, alguns assumiram um papel de grande destaque no nosso futebol nos anos seguintes:

Henrique Teixeira tinha uma menor disponibilidade dado ser militar mas ainda assim jogou ocasionalmente na 1ª categoria até 1911;
Eduardo Corga viria a marcar o primeiro golo da nossa história ao SCP e jogou na 1ª categoria até 1909;
António Meireles irmão do fundador Abílio Meireles fez parte de selecções iniciais de jogadores de Lisboa e jogou na 1ª categoria até 1911;
Leopoldo Mocho foi talvez o melhor defensor Português da primeira década do Séc. XX e cuja contribuição só não foi maior por ter sido deslocado pelos Correios (de que era funcionário) para Arronches. Jogou na 1ª categoria até 1917!
Luís Vieira, avançado, goleador e o segundo jogador Português a jogar numa equipa Brasileira (Botafogo do Rio de Janeiro). Deste último falaremos um dia mais em detalhe. Jogou na 1ª categoria até 1919!

Para além do campo da Quinta Nova em Carcavelos o Tótinhas também brilhou na Quinta Feiteira. Na Feiteira sagrou-se pela primeira vez campeão de Lisboa ao lado de Cosme Damião e restantes companheiros num encontro decisivo contra os Ingleses do Carcavellos Club. Nesse dia vencemos pela segunda vez os Ingleses conquistando o Campeonato Regional. Nesse dia o Benfica ganhava o jogo, e assim o único título regional Lisboa conquistado por uma equipa Portuguesa durante a Monarquia. Com esse triunfo iniciava-se uma década de hegemonia do Sport Lisboa e Benfica.



António Costa (em destaque) com o manto sagrado, alinhado na Quinta da Feiteira antes de um jogo com o Carcavellos Club em Março de 1910. Nesse dia o nosso Clube não seria tão feliz como foi dois meses antes. De pé, esquerda para a direita: António Costa, Henrique Costa, Jorge Rosa Rodrigues "catatau", Cosme Damião, Carlos Homem de Figueiredo, Artur José Pereira. Sentados: Florindo Serras, Luís Vieira, Germano Vasconcellos Júnior, António Meirelles, Virgílio Paula. Fonte: AML.



Três imagens de jogo e um destaque (Tótinhas em plena atitude atacante) do jogo de dia 23 de Março de 1910. Nesse dia perante milhares de pessoas na Quinta da Feiteira SLB perdia o jogo de desforra contra o Carcavellos Club. Mas dois meses antes o Benfica tinha ganho o jogo mais importante e com isso assumido vantagem decisiva para o título regional que efectivamente viria a conquistar. Na primeira fotografia vê-se António Costa e Cosme Damião a disputar a bola aos Ingleses. Na segunda fotografia aparece-nos António Costa a defender vigorosamente a sua baliza de uma investida Inglesa. Fonte: Torre do Tombo; originais de Joshua Benoliel.



RedVC

#428
-103-
Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".

Vamos hoje falar do mais antigo troféu existente na Sala das Taças do Benfica.



Este sim, este é o troféu de posse definitiva mais antigo existente no clube. Fonte: Museu Cosme Damião.


É uma Taça ou jarra em bronze que tem hoje o devido destaque no Museu Cosme Damião. Uma bela taça conquistada após uma vitória do Sport Lisboa e Benfica sobre o Sport União Belenense por 2-1.


Antes do Jogo

Conforme nos diz uma notícia do Sports Ilustrados nº 3 de 25 de Maio de 1910, este jogo deveria ter sido parte de um torneio de futebol integrado nos Jogos Olímpicos Nacionais de 1910. Promovido pela Liga Sportiva dos Trabalhos Athléticos, era um evento a repetir por mais duas vezes até ao ano dos Jogos de Estocolmo 1912.

No entanto o torneio acabou por ficar restrito a... um jogo entre o SLB e o Sport União Belenense (SUB). As razões? As do costume: intriga, má-língua, inveja, maledicência. Antes como agora. O costume.

Campeão regional no ano anterior, sucedendo pela primeira vez ao Carcavellos Club, o Sport Lisboa e Benfica era já nesse tempo o alvo de todas as invejas e intrigas. Cosme Damião tinha sido encarregue pela organização dos JON-1910 de convidar os clubes para o torneio de futebol. Infelizmente todos, à excepção do SUB, se recusaram a participar. Uma vergonha.

O jornal Sports Ilustrados comentando a recusa usou os termos "intriga" e "politiquice". Notava também que até a tradicional e enorme rivalidade entre as colectividades náuticas tinha sido ultrapassada em nome do interesse nacional de forma a todos participarem em eventos prestigiosos como a Taça Lisboa e outras regatas que na altura se realizaram.

No futebol nem pensar. Com esse clima lamentava-se o jornal estava mesmo excluída a hipótese de formar um seleccionado para jogar contra a Espanha. E realmente só três anos depois uma equipa da AFL iria ao Brasil naquilo que para mim foi a primeira selecção nacional de futebol. E só 11 anos depois uma selecção Portuguesa já formalmente constituída jogaria pela primeira vez em Espanha liderada por Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis. Uma vergonha.

"Façam sport puro senhores, e não nos obriguem a assistir a scenas tão lamentáveis" escrevia o repórter Gil Muana, reclamando para si a maior imparcialidade e manifestando o desencanto de ver tão tacanhos comportamentos. Coitado mal sabia ele o que andaria por este país futebolístico 106 anos depois.


O Jogo

O jogo foi disputado no dia 19 de Maio de 1910 no nosso campo da Quinta da Feiteira. A nossa equipa alinhou com um misto entre jogadores da primeira categoria e da segunda categoria.



Duas imagens do jogo. Fonte: Sports Ilustrados nº 3, 25 Junho 1910. Na primeira imagem, lá ao fundo entre os postes, vestido de branco e com chapéu para proteger a moleirina está muito provavelmente Félix Bermudes. Guarda redes de improviso!


O pontapé de saída foi dado já depois das 5 da tarde. A nossa equipa foi capitaneada por Cosme Damião que no ano anterior tinha ascendido ao estatuto de Capitão-Geral. Um cargo algo parecido com o de treinador.Com a mudança do Clube de Belém para Benfica o protagonismo de Gourlade foi declinando tendo Felix Bermudes e principalmente Cosme tomado as rédeas do futebol no Clube.

E assim desde esse tempo e até 1916 Cosme Damião seria capitão-geral e jogador de campo. Depois e até 1926 Cosme seria o protagonismo supremo do Clube. Um homem de talento e paixão mas que actuava não apenas por impulso mas na concretização lógica, coerente de uma visão ambiciosa e sustentada que tinha para o Clube. A visão de um Benfica à escala nacional estava lá. A Lusofonia, a ambição, a organização interna e o modelo de expansão com delegações regionais estava lá. Isso e a exigência e competência desportiva explicam muito da adesão popular e do sucesso global que o nosso Clube teve junto das massas populares. O Benfica foi o maior Clube Português desde o tempo da monarquia. E assim foi até aos dias de hoje.



Os dois capitães de equipa. Francisco Belas (Sport União Belenense) e Cosme Damião (Sport Lisboa e Benfica). Fonte: Sports Ilustrados nº 3, 25 Junho 1910.


Mas voltando ao tema do início, do nosso lado o facto mais notório foi a doença de última hora do habitual titular (presumo Alfredo Machado), facto infeliz que nos obrigou a encontrar uma solução de recurso para a baliza. Espantosamente quem apareceu entre os postes foi... Félix Bermudes!

Assim, um dos mais prestigiados sócios do Clube, que nesse tempo já só fazia algumas aparições esporádicas em equipas de futebol da 3ª categoria, acabou por ter de ocupar a posição mais sensível no campo. Félix Bermudes uns 2-3 anos antes tinha realmente evoluído na 1ª categoria mas como extremo direito... Ainda assim o Benfiquismo e a necessidade da equipa falaram mais alto, impondo essa inesperada contribuição.



A equipa do SLB que disputou e venceu a Taça de futebol dos Jogos Olímpicos Nacionais de 1910.


António Marques e Carlos Costa foram os homens que juntamente com Félix Bermudes que jogaram mesmo sendo menos habituais na primeira equipa. Tinham participação ocasional mas não eram habituais nesse 1º escalão. Alberto Rio também era da 2ª categoria mas estava prestes a iniciar cerca de 8 anos de grande qualidade como extremo esquerdo de águia ao peito. Um jogador de enorme talento que viria a estar no centro de uma enorme confusão que o levaria do SLB ao SCP e depois ao CFB. Pequeno mas buliçoso, pequeno mas conflituoso.

Do outro lado, do lado do Sport União Belenense (SUB), aparecia como Capitão-geral um jogador que pelo seu talento rapidamente se elevaria passando um par de anos depois a envergar o nosso manto sagrado. Francisco Belas, pois é dele que estamos a falar seria nesse jogo Capitão geral e médio ao centro do SUB. No Benfica viria a destacar-se como defesa ao lado de Henrique Costa e atrás de Cosme Damião. Estava ainda presente um futuro Benfiquista (e depois Sportinguista) chamado Francisco Viegas, um bom extremo-direito. Com boa probabilidade todos esses jogadores vestidos de azul seriam filhos de Belém. Era um clube pequeno mas que deixou uma imagem nostálgica. Muito do que o Belenenses depois veio a concretizar nos seus primeiros anos de vida terá sido um revivalismo dos tempos do SUB. Vários nomes foram chave nesse processo. Um deles tinha passado por lá poucos anos antes e estava nesse dia vestido de vermelho. Um homem de talento tão grande como a polémica que causava por onde passava: Artur José Pereira!

E de facto, desde a partida do Sport Lisboa para Benfica dois anos antes, o Sport União Belenense passou a ser o clube com maior ligação a Belém. Mas sê-lo-ia apenas por mais um par de anos, não resistindo ao poderio dos mais fortes.

Voltando ao jogo, o árbitro acabaria por ser um homem já prestigiado, militar de carreira que viria a ser uns anos mais tarde presidente do Sport Lisboa e Benfica, José Maria Moreira Salles.



José Maria Moreira Salles, 1910. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca Lisboa.


Apesar da ligação ao nosso Clube era um homem prestigiado e respeitado por ambos os lados. E de facto foi salientado pelo jornal Sports Ilustrados que teve uma prestação primorosa, manifestando uma "verdadeira compreensão dos seus deveres como refere, chamou os jogadores, antes do pontapé inicial e aconselhou-os, em breves mas enérgicas palavras, a fazerem um jogo correcto, sem violências escusadas, advertindo-os que seria muito severo, castigando o jogador que se excedesse, quando d'isso não há necessidade". Segundo o jornal a prestação do árbitro foi perfeita.

O Benfica deu o pontapé de saída e jogou contra o sol na primeira parte. Aliás, nessa primeira parte a nota dominante seria o calor que se fez sentir. Se repararem nas duas imagens do jogo ao lado da baliza estão dois homens com um deles a usar uma sombrinha para se proteger do sol. Eu desconfio que eles eram duas figuras ilustres do Benfica. Uma delas um certo farmacêutico e a outra um diligente empregado numa farmácia...

Mas joltando ao jogo, sob o olhar de uma assistência numerosa e apesar de se ter visto um jogo bastante dividido, a primeira parte terminaria sem qualquer golo.

Só que na segunda parte e logo no início, Artur José Pereira acabaria por marcar ao seu antigo clube. AJ Pereira antigo jogador do SUB, o seu clube do coração antes da aventura do CFB. O SUB era o clube que representava a sua terra, o seu bairrismo puro e dedicado. O clube onde se terá iniciado no futebol (havendo ainda a hipótese de também ter jogado no Ajudense). Artur José Pereira, foi talvez a maior estrela do futebol até ao aparecimento de Vítor Silva, outro Glorioso no final da década de 20. Nesse jogo AJ Pereira jogou fora do seu lugar habitual de médio esquerdo. Jogou a avançado centro, disso se ressentindo a sua prestação. Ainda assim o primeiro golo da partida teria a sua chancela.

Depois viria o inevitável. Félix Bermudes sem rotina (e provavelmente talento) para o lugar de guarda-redes acabaria por sofrer um golo depois de uma saída dos postes extemporânea. O golo terá sido marcado provavelmente por Salvador Ângelo (o jornal fala do forward outsider esquerdo do SUB).

Com um empate no marcador, o Benfica insistiu e acabou por marcar o golo da vitória pelo inevitável Cosme Damião.

É assim a Cosme Damião que devemos o golo da vitória que nos deu a Taça mais antiga do nosso museu.



Cosme Damião (1885-1947), o maior de todos os Benfiquistas. Fonte: EDB.


Terminava assim o jogo com a nossa vitória! As festividades sido depois animadas com o brio dado pela música da Banda da Euterpe de Benfica.


A Banda da Euterpe de Benfica em 1911. Foi esta banda que abrilhantou a festa desportiva. Fonte: http://riodasmacas.blogspot.pt/2007/11/propsito-de-bandas-filarmnicas.html


No final o nosso Clube receberia a Taça que poucos meses depois seria exibida orgulhosamente no lendário almoço do Restaurante Bacalhau ao lado dos bronzes e de três outras taças correspondentes a vitórias nos torneios de futebol regional.



Restaurante Bacalhau Julho 1910. Os 44 convivas rodeiam os seis primeiros troféus conquistados pelo Sport Lisboa e Benfica. Esta imagem foi obtida menos de dois meses depois da conquista da Taça dos JON-1910. Ali se podem ver também os dois bronzes desaparecidos, conquistados em 1907 pelas equipas da segunda e da terceira categoria de futebol. Lá estão imortalizados ao lado de Félix Bermudes e Cosme Damião. Fonte: Tiro e Sport.



Os Jogos Olímpicos Nacionais em 1910

Algumas palavras breves sobre este evento. Foi promovido pela Sociedade Portuguesa de Educação Física, que no fundo antecederia o Comité Olímpico Português. Visava a promoção do desporto nacional e provavelmente teria já em mente a eventual preparação de atletas de várias modalidades para os Jogos Olímpicos de Estocolmo 1912.

Conforme noticiava o jornal O Século:

Teve eco na imprensa a reunião da comissão executiva responsável pela organização dos primeiros Jogos Olímpicos nacionais, a decorrer no mês de Junho de 1910.

A referida reunião teve lugar nas salas do Centro Nacional de Esgrima e contou com a presença dos tenentes Câmara Lema, Tavares Portugal e Silva Lopes.

Resolveu-se "disputar os Jogos Olímpicos em três sessões no dia 24, juntamente com a corrida pedestre de resistência, e nos dias 25 e 26. Foi também marcado o dia para a realização da primeira conferência de propaganda. Escolheu-se o sábado 29 (...)" de Maio.

"O êxito do certame está garantido. Ao concurso devem assistir milhares de pessoas ávidas de espectáculos emotivos e de aspectos vistosos e artísticos."
Fonte: O Século nº 10 208, 17 de Maio de 1910, p. 2.


O primeiro evento aconteceria ainda durante o reinado de D. Manuel II que aliás pelo que me apercebi terá apreciado o evento.

Os dois eventos seguintes já decorreriam em tempos pós instauração da República. E de facto seria o voluntarismo republicano que levaria o país a participar nos jogos de Estocolmo 1912. Uma participação trágica.

Com se vê pelas fotografias integrou muitas e diversas modalidades



Algumas imagens dos Jogos Olímpicos Nacionais em 1910 disputados em Palhavã. Ao centro a página onde foram retiradas as fotografias. Fonte: Sports Ilustrados nº4 de 2 Julho 1910. Hemeroteca de Lisboa.


A Liga Sportiva dos Trabalhos Athléticos foi encarregue da organização. Disputados na antiga pista de Palhavã nesse ano de 1910 estiveram envolvidos um total de 78 atletas representando 9 clubes, entre eles o nosso. Os jornais reportarão a ideia de que salvo rara excepções a maior parte dos atletas denotava evidente falta de treino. Denotava também comportamentos incompatíveis com a prática desportiva como fumo, ingestão exagerada de água. Desconhecimento e desleixo associado a um amadorismo puro e bastante improvisado.

Atletismo, 100 metros, 800 metros, lançamento do peso, luta de tracção, corrida barreiras, salto em altura, entre outras. Algumas figuras em destaque, o nosso Germano Vasconcelos (SLB mas a representar... o GCP), José, António e Francisco Stromp (todos do SCP), Travassos Lopes (CSI), Kruss Gomes (CIF), Alfredo Camecelha (SLB mas representou... o SCP), Francisco Padinha (SCP ou Real Clube Naval), Mathias de Carvalho (SCP). Tempos diferentes com a ténue linha no que diz respeito à representação clubística.


Houve também festas populares associadas ao evento. Uma festarola desportiva. Corrida de peixeiros, corrida de vendedores de jornais, corrida de burros, corrida de bicccletas. Uma animação bem popular.


Fonte: Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 226. 20 Junho 1910.


RedVC

#429
-104-
Miramons de Portugal

Cyrillo Miramon


Fonte: Tiro Civil, nº 230; 1 Março 1902. Hemeroteca de Lisboa.


Começamos hoje por dar um rosto a um nome conhecido apenas por alguns Benfiquistas mais atentos.

A Cyrillo Miramon está associada uma pequena curiosidade futebolística: a possibilidade de ter sido o primeiro jogador estrangeiro do Benfica, algures na primeira década do século XX.

Apesar disso não ser verdade não deixa no entanto de ser interessante falar nele. Vamos aproveitar para também falar - ainda que brevemente - do seu filho Luís Miramon. Dois Benfiquistas hoje quase esquecidos mas de dedicada contribuição ao Benfica e ao desporto Português.


A família Miramon

Em primeiro lugar interessa desfazer a fábula de ter sido o primeiro estrangeiro a jogar pelo Benfica.

Conforme nos disse em tempos Alberto Miguéns no seu blogue,
(...)quando uma vez Cosme Damião foi questionado acerca desse "assunto", terá respondido que Miramon era tão português como alguém que nascesse na Mouraria. Ao que consta Cyrillo nasceu em Portugal filho de pai francês (não sei se a mãe era portuguesa ou de outra nacionalidade).

Cyrillo pertenceu a uma família de comerciantes que terá vindo de França para Portugal algures por volta de 1860 ou seja ainda no século XIX. Os Miramon terão vindo para Portugal cerca de 20 anos antes do nascimento do Cyrillo Benfiquista.

Podemos também obter mais informação concordante a partir da referência na wikipedia, a Luís Miramon, seu filho:

(...) A empresa C.MIRAMON existe desde 1860, foi passando de geração em geração e, em 1956 mudou de nome para ÓPTICA MIRAMON LDA., com sede na Rua da Prata 269-271 em Lisboa, local onde trabalhou até 2002, ano em que vendeu as suas cotas. A Óptica foi um negócio de família desde 1860, quando seus antepassados vieram de França e se instalaram na Baixa de Lisboa, passando os conhecimentos de Óptica Ocular aos descendentes. A loja Óptica Miramon localiza-se hoje no mesmo local de há 51 anos tendo-se modernizado, continua a laborar atendendo a satisfação dos clientes.


A publicidade em jornais da época permite obter mais alguns elementos. Por ela ficamos a saber que a Casa Miramon esteve inicialmente localizada na Rua do Arsenal nº 124, 1º andar

 

Rua do Arsenal, a primeira localização da loja Miramon. Fonte: Hemeroteca Lisboa e AML.


Em 1903 a Casa Miramon já estava situada na Praça Dom Pedro ou seja no Rossio, uma localização bem central. Nota curiosa que talvez não seja coincidência é que nesse mesmo local em 1912 também o Sport Lisboa e Benfica tinha ali instalado a sua sede (nº 30, 2º esquerdo) no prédio depois ocupado pelo Hotel Metrópole. Desde essa época e por longos anos a sede do SLB esteve situada bem no coração de Lisboa, ali porta com porta com a Casa Miramon.
 


Praça Dom Pedro IV, vulgo Rocio no princípio do século XX, a segunda localização da Casa Miramon. Fonte: BND e AML.

Atentando na publicidade pode perceber-se que o negócio dos Miramon se centrava não apenas em produtos ópticos mas também em equipamentos científicos de precisão para médicos e engenheiros. Incluía igualmente equipamentos de segurança e de telecomunicações cuja instalação estava coberta para todo o país. Facto notável atendendo à realidade nacional dessa época.

Esse facto explica a ligação do pai (ou avô) de Cyrillo à Sociedade Portuguesa de Geografia. O pai (ou avô) de Cyrillo tinha o mesmo nome sendo mencionado no Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia de 1904 como falecido em Abril de 1903. Era sócio da instituição desde 2 de Maio de 1885.



Fonte: Boletim Sociedade Portuguesa de Geographia, 1904.


A Casa Miramon foi uma casa comercial prestigiada sendo ainda hoje possível encontrar referências a objectos daquela que apresentam a sua última localização, na Rua da Prata 269-271, antes de ter sido vendida a uma cadeia internacional de ópticas.
 


Dois exemplos de produtos ópticos e científicos vendidos pela Casa Miramon, Rua da Prata, 269-271. Par de binóculos e lorinhão em metal e bússola em caixa de madeira.



Rua da Prata no princípio do século XX. Terceira e última localização da Casa Miramon. Fonte: AML.


Cyrillo, o futebolista

Cyrillo Miramon foi um desportista com contribuições activas antes e depois da fundação do Benfica. Distinguiu-se como praticante de ciclismo, motociclismo, atletismo e futebol. Viria ainda a ser dirigente do Sport Lisboa e Benfica.

Cyrillo Miramon envergou o manto sagrado como jogador de futebol da primeira categoria. Apenas por uma única vez na na época de 1910/1911. Jogou na sua posição de guarda-redes em apenas um jogo. Foram apenas 90 minutos mas os suficientes para o fixar para sempre na lista dos que envergaram a camisola na 1ª categoria do Glorioso.

Nesse tempo os titulares mais frequentes da baliza do Benfica eram Alfredo Machado e Paiva Simões, com aparições esporádicas de Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos irmãos Catataus, na altura titular da equipa da 2ª categoria. Mário Monteiro assegurava a 3ª categoria enquanto que Cyrillo era o titular da 4ª categoria. A sua contribuição futebolística foi essencialmente feita nas categorias inferiores e sempre como guarda-redes.



Os guarda-redes do Sport Lisboa e Benfica na época de 1910/1911.


Conforme nos disse Alberto Miguéns, http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html, Cyrillo fez parte da 4ª categoria em 1911/1912.



Plantel inscrito na 4ª categoria do SLB em 1910/1911. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Esse plantel tinha um misto de jogadores muito jovens com jogadores prestigiados e veteranos que procuravam dar conhecimento técnico e transmitir a mística do Clube. Entre os jogadores veteranos estava Félix Bermudes que evoluía nessa equipa em posições mais centrais. Félix Bermudes que juntamente com Cosme Damião foi um dos homens-chave da fusão do Sport Lisboa com o Grupo Sport Benfica em Setembro de 1908.

A sua presença era uma garantia do interesse e seriedade competitiva com que o Clube encarava aquela categoria. Era também um elemento para passar a mística e o saber futebolístico da velha para a nova geração.

Mas ainda assim era uma tarefa difícil em alguns casos manter a consistência da equipa. Como nos disse Alberto Miguéns, por inconstância própria da idade ou por via da sua vida pessoal e profissional, alguns desses jovens por vezes não apareciam para os jogos desfalcando a equipa ao ponto de por vezes ter de se apresentar com menos de 11 elementos.


Cyrillo, o dirigente

Cyrillo foi também dirigente do Benfica. Na fotografia apresentada em baixo podemos vê-lo integrado numa comitiva de dirigentes que foi assistir à grande vitória do SLB conquistada sobre o Carcavellos Clube na sua própria casa no dia 19 de Fevereiro de 1911 (ver texto "102 - Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém."). Cyrillo esteve lá.



Fotografia publicada na "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Fonte: CDI


Cyrillo, o pioneiro da velocipedia

Um aspecto interessante é que a primeira referência desportiva a Cyrillo liga-o não ao futebol mas ao ciclismo. Cyrillo destacou-se primeiro como um dos pioneiros do ciclismo em Portugal. Esteve ligado a demonstrações velocipédicas em eventos à porta fechada, saraus desportivos, que na altura fizeram furor no provinciano Portugal desportivo.
Em 1 de Março de 1902 temos a notícia da participação de Cyrillo Miramon em eventos de velocipedia. Recebeu nessa ocasião um diploma de honra por parte da União Velocipédica Portugueza.
 


José Carlos Xavier da Silva Júnior e Cyrillo Miramon. O dois companheiros das actividades velocipédicas. Tiro Civil nº 230. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Ecos de um evento promovido pelo Real Clube Velocipédico de Portugal onde participu Cyrillo Miramon com o seu companheiro de modalidade, José Carlos Xavier da Silva Júnior. Percebe-se a variedade de números que praticavam sobre as bicicletas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Ou seja os dois amigos tinham para lá da paixão pela velocipedia também o desejo e acção de divulgar a modalidade mesmo através de demonstrações em que habilidades e malabarismos faziam as delícias dos espectadores.

Mas em 28 de Outubro de 1903 Xavier da Silva Júnior morria inesperadamente de uma apendicite. Terá sido um duro golpe para Cyrillo que nesse mesmo ano já tinha perdido o seu pai.



Notícia da morte de Carlos Xavier da Silva Júnior. Fonte: Tiro Civil, nº 270 de 1 Novembro de 1903. Hemeroteca de Lisboa


Mais tarde Cyrillo Miramon estaria envolvido em mais actividades velocipédicas, embora agora como cronometrista.


Actividade de Cyrillo Miramon como cronometrista nas festas do Sport Lisboa e Benfica. Erradamente e ao contrário do que oficialmente o Clube sempre considerou, o repórter do jornal "Tiro Civil" fala no 4º aniversário quando deveria estar a falar no 6º aniversário. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


E de facto Cyrillo tinha uma participação activa na vida do Clube:



Fotografia de festa do 6º aniversário do Clube na Quinta de Feiteira em 1910. Cyrillo Miramon esteve presente nessas actividades desportivas e festivas integradas no evento. Penso ser ele que ali está com o chapéu e ao lado de Luís Vieira. Fonte: Ilustração Portuguesa, hemeroteca de Lisboa.


Foi pois um homem activo durante os primeiros e decisivos anos da vida do nosso Clube.
Desconheço por enquanto a data da morte deste glorioso pioneiro do Sport Lisboa e Benfica. Paz à sua alma. Honra á sua memória!


Luis Miramon

Para finalizar uma alusão breve mas merecida à longa dedicação Benfiquista de Luís Miramon, filho de Cyrillo. Luís Miramon foi uma grande figura do râguebi do Sport Lisboa e Benfica.

Conforme podemos ler na wikipedia,

Luís Miramon foi um dos pioneiros do Rugby em Portugal, tendo-se distinguido sempre com as cores do Benfica, exceptuando um intervalo de três anos, em que jogou no CIF, voltando ao seu clube de sempre, o Benfica, onde conquistou vários títulos.

Foi várias vezes Internacional e ainda foi Seleccionador Nacional (...) além de árbitro e treinador. Foi também Presidente do Congresso da Federação Portuguesa de Rugby (actual Assembleia Geral) de 1968 a 1974. (...)

Foi igualmente um praticante e dirigente das Lutas Amadoras, estando registadas diversas contribuições e reconhecimentos públicos à sua acção como dirigente da FPLA, Federação Portuguesa de Lutas Amadoras:
1962  – Presidente da FPLA
1967 – Medalha de Bons Serviços Desportivos
1982 – Homenageado do Ano FPLA
1985 – Sócio de Mérito da FPLA


(fonte: http://www.fplutasamadoras.pt/galeria_presidentes.php?cor=azul&item=10&area=44&menu=46)


Luís Miramon, seleccionador Nacional de râguebi (1º lado direito em pé), 27 Março 1966


A fibra deste homem fica patente neste testemunho:

https://maodemestre.wordpress.com/2010/03/18/portugal-os-202-jogos/

De todos os que estão na fotografia, não posso deixar de referir três:
O mais antigo deles é Luis Miramon, e tenho que lembrar certa vez em que Miramon arbitrava um jogo no campo principal do Universitário de Lisboa, e alguém da bancada o mimoseou com um sonoro " filho da p..!".
Miramon parou o jogo, dirigiu-se à bancada e disse da pista de atletismo:
"O senhor que me insultou, faça o favor de chegar cá abaixo!"
Ninguém teve a coragem de se apresentar, mas até ao final do jogo não se tornou a ouvir um pio daquela bancada!



O Sport Lisboa e Benfica é o Clube Português que há mais tempo pratica ininterruptamente esta modalidade. Desde Outubro de 1924 os XV do SLB praticam este jogo sendo o nosso Clube o terceiro mais titulado com o Campeonato Nacional (9 títulos de Campeão) atrás dos tradicionais CDUL (19) e Direito (11).



1924, a primeira equipa de râguebi do Sport Lisboa e Benfica. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Luís Miramon deu ao Sport Lisboa e Benfica o melhor do seu saber e foi um homem de grande dedicação e competência. Conforme se pode perceber pelo excerto de entrevista que em baixo se apresenta, Luís Miramon, enquanto treinador tinha ideias bem definidas quanto à disciplina e condição física como elementos fundamentais para o sucesso das suas equipas.


Entrevista a Luís Miramon, treinador de râguebi do Sport Lisboa e Benfica em 1968. Fonte: Revista "Maul Rugby".

Luís Miramon faleceu em 8 de Fevereiro de 2007 com 89 anos. Paz à sua alma. Honra à sua memória!


Luís Miramon enquanto treinador de râguebi do Sport Lisboa e Benfica em 1968. Fonte: Revista "Maul Rugby".


marte1904

Não é uma imagem do passado, mas é uma boa imagem para decifrar

RedVC

Citação de: marte1904 em 22 de Maio de 2016, 14:40
Não é uma imagem do passado, mas é uma boa imagem para decifrar


Foi ontem logo é uma imagem do passado.



Só identifico alguns dos nossos.

Em cima; x1, x2, Vitor Paneira, João Manuel Pinto, Rui Águas, António Bastos Lopes, x3, Paulo Santos, x5, x6

Em baixo: x7, x8, x9, Chiquinho, x10, x11, x12, Veloso, Chalana, x13, x15

Alguém ajuda?

Godescalco

Vasco da Gama - Benfica, creio.


RedVC

#433
Citação de: Gottschalk em 23 de Maio de 2016, 00:34
Vasco da Gama - Benfica, creio.



Sim.

Vê-se Carlos Manuel, António Bastos Lopes e Reinaldo (no chão).

Há mais fotografias.



Fonte: http://redpass.blogs.sapo.pt/taca-de-portugal-em-sines-1981-813323


SuperGlorioso

Essa foto contra o Vasco está porreira! Campo pelado, jogo de taça no Municipal de Sines! Ainda nem era nascido.. ?