Decifrando imagens do passado

RedVC

Créditos ao Sr Miguel Soares Lopes que partilhou a imagem

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1068343493255067&set=p.1068343493255067&type=3&theater

"Deixo aqui uma foto de 1962, em caso do meu avô, quando o Benfica foi campeão. Houve matança de porco e muita festa."



Alguém quer legendar o que for possível legendar?



RedVC

#436
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Águias na Guerra (parte I)

Meados de 1916, há 100 anos atrás forças militares do Corpo Expedicionário Português desfilavam na Rua de Belém a caminho do cais de Santa Apolónia.


As forças militares do CEP desfilam à frente da Farmácia Franco na Rua de Belém. Ali à porta vê-se Daniel Santos Brito (usando bata branca) acompanhado de mais alguns homens, quiçá os donos ou quiçá alguns clientes dessa mítica Farmácia. Créditos da fotografia: "Histoire en couleurs"; coloridas por Frédéric Duriez, França, a partir e um original de Joshua Benoliel.


Ali, nesse desfile em frente à Farmácia Franco, deu-se um cruzamento notável entre a história de Portugal e a história do Sport Lisboa e Benfica (ver mais no nº 6 – "À porta da Farmácia Franco").

Portugal agitava-se iniciando a sua triste e dramática participação na I Guerra Mundial. Cerca de 3 anos que marcariam a história do nosso País com sangue e lágrimas.

A Grande Guerra chegava a Portugal 19 meses depois de começar. A Guerra mudaria a vida de milhares de Portugueses. Alguns deles tiveram, antes e depois ligação directa ao Sport Lisboa e Benfica. Neste e no próximo texto falaremos do conflito e de alguns desses Benfiquistas.

A declaração de Guerra

No dia 9 de Março de 1916, quarta-feira de cinzas, o Barão Friedrich Von Rosen, embaixador imperial da Alemanha em Lisboa, entregou uma nota oficial a Augusto Soares, Ministro Português dos Negócios Estrangeiros do Governo Português. Era a Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal.


O Barão Friedrich Von Rosen, embaixador imperial da Alemanha em Lisboa depois de apresentar a Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal. Fonte: Ilustração Portuguesa (Hemeroteca de Lisboa).


O conflito estava já a ter impactos sociais e económicos devastadores na Europa. Seguia-se Portugal.

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Quinta-feira, 9 de Março de 1916

Declaração de guerra por parte da Alemanha

A Alemanha declara guerra a Portugal. Seguiu-se, pouco depois, o corte de relações diplomáticas com a Áustria-Hungria. A resposta da Alemanha prende-se com a requisição que havia sido feita dos vapores surtos em portos nacionais. Antes desta situação, já se haviam verificado numerosos recontros e combates no teatro de guerra africano entre Portugal e a Alemanha, que, no entanto, não haviam motivado o corte de relações diplomáticas e/ou declaração de guerra. O representante da Alemanha entrega a declaração de guerra ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Soares. Na declaração de guerra, o Governo Imperial explicita as suas razões, salientando que desde o início do conflito Portugal apoiara os inimigos do Império Alemão, "por actos contrários à neutralidade". Um dos exemplos dados era a passagem de tropas inglesas através de Moçambique, do mesmo modo que as expedições enviadas para África eram consideradas como hostis à Alemanha. Acrescentava ainda que "A imprensa e o parlamento durante toda a existência da guerra entregaram-se a grosseiros insultos contra o povo alemão sob uma protecção mais ou menos notória do Governo Português." O Governo alemão "(...) numa indulgente deferência para com a difícil situação de Portugal, evitou até tirar sérias consequências da atitude do Governo Português." De facto, em diversas ocasiões, Portugal tratara a Alemanha com uma inusitada dureza. Mas com a apreensão dos navios alemães, "O Governo Imperial vê-se forçado a tirar as necessárias consequências do procedimento do Governo Português. Considera-se de hoje em diante como estando em estado de guerra com o Governo Português."

Fonte: Fundação Mário Soares..
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Caricatura da época. Fonte: Largo dos Correios

Portugal agitado: o CEP

A grande guerra de 1914-1918 foi um conflito funesto pelas vítimas que provocou e pelas feridas económicas, sociais, territoriais, políticas e militares que abriu. Em resposta à declaração de Guerra, Portugal começou a mobilizar homens para iniciar o treino e seguir para a frente de combate.

Interessa dizer que na Grande Guerra de 1914-1918, Portugal combateu na frente Europeia e na frente Africana. Seria aliás em África e na defesa das nossas Colónias que se daria a maior mortandade nas nossas tropas. A guerra em África ainda hoje está mal descrita e o assunto continua bastante doloroso e delicado. A guerra na Europa está mais registada e melhor divulgada. E é sobre esta que vamos falar.

Portugal agitava-se com a mobilização. Nesses dias agitados Joshua Benoliel captou alguns momentos inesquecíveis como os da despedida das tropas em movimento para o cais de Santa Apolónia.



Talvez a imagem mais tocante com que Benoliel imortalizou a partida de tropas do CEP para a Flandres. A despedida entre militares e famílias antes do embarque. Muitos não regressaram. Fonte: Liga dos Combatentes, imagem colorida por Henrique Mart a partir de um original de Joshua Benoliel.

A maior parte do corpo de homens e do material mobilizado para a guerra ficou conhecido como Corpo Expedicionário Português (CEP).

O CEP foi a principal força militar que Portugal, durante a 1ª Guerra Mundial, enviou para França, com a finalidade de, através da sua participação activa no esforço de guerra contra a Alemanha que também ameaçava os seus territórios ultramarinos, conseguir apoios dos seus aliados e evitar a perda daqueles territórios. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_Expedicion%C3%A1rio_Portugu%C3%AAs)




Por terras estrangeiras

Na França e na Flandres a vida dos militares Portugueses foi muito dura. Para alguns terminou mesmo resgatada por balas, bombas e gases tóxicos do inimigo. Mal preparados, mal equipados, numa guerra que não era a deles, os Portugueses tiveram vida dura. Na frente de combate sofreu-se bastante com a escassez de material, muitas vezes obsoleto e desigual perante o inimigo. Sofreu-se ainda mais com as sucessivas faltas de rendição (que estavam previstas e prometidas) e consequentemente o prolongamento do sacrifício.

No dia 9 de Abril de 1918 veio a mais funesta das batalhas. Tentando inverter a tendência de guerra, os Alemães tentaram provocar uma brecha nas linhas aliadas investindo no ponto que julgaram mais fraco. Escolheram o sector Português. O ataque brutal deu-se na zona de Ypres, num local que ficaria eternizado pela funesta batalha que ali se desenrolou: La Lys.


Cemitério Militar Português de Richebourg l'Avoué. Um cemitério militar exclusivamente português, com 1.831 mortos, dos quais 238 são desconhecidos. Fonte: http://www.remembrancetrails-northernfrance.com/


Morreram centenas de militares Portugueses. O número de mortos ainda hoje não está claro. Terá sido o nosso maior desastre militar depois de Alcácer Quibir em 1580. Cerca de 15.000 homens comandados pelo General Gomes da Costa sofreram a investida de oito divisões do 6º. Exército Alemão. Lutando contra 55.000 homens na ofensiva "Georgette".

Entre os mortos esteve o Tenente Joaquim Vidal Pinheiro, jogador do FCP e que liderava uma bateria de artilharia. Terá caído – não vi confirmação - vítima da horrorosa, indigna e brutal guerra química. Transportado para o Hospital por lá viria a sucumbir. Era irmão de Alexandre Vidal Pinheiro, o homem que construiu e deu nome ao campo que o Sport Comércio e Salgueiros usou durante muitas décadas.


Tenente Joaquim Vidal Pinheiro, morto em La Lys no dia 9 de Abril de 1918.





Assim acabam as Guerras. A loucura bruta, desvairada de alguns é a morte cruel de muitos. Duas imagens de dor. Um militar Português morto em La Lys e familiares ou amigos junto a uma campa de um combatente Português. Dois que não voltaram. Fonte: AHM.


Uma guerra ilustrada

Nunca até essa altura, uma guerra foi tão ilustrada e mediática. Em jeito de homenagem a todos os homens que lutaram nesse conflito e principalmente aos que não voltaram ficam aqui diversos registos coloridos de Portugueses nesse conflito disponibilizados pelo Arquivo Histórico Militar, Liga dos Combatentes, entre outros. Também aqui se pode ver muita documentação fotográfica colorida: http://greatwarincolour.tumblr.com/ . Ficam aqui os devidos créditos e agradecimento pela sua disponibilização.

As fotografias foram admiravelmente coloridas apresentando um grande realismo. São registos de enorme significado histórico. Presumo na sua maioria terão sido captados pelo fotógrafo Arnaldo Garcêz que acompanhou o CEP. Neles ficaram fixados diversos aspectos da histórica trágica e heróica dos nossos homens no CEP. De Lisboa à Flandres, lutando em nome da Pátria.









       


Arnaldo Garcêz



Arnaldo Garcêz, fotógrafo junto do CEP.


Arnaldo Garcêz foi um fotógrafo autodidacta que numa fase inicial da sua carreira esteve ligado ao Sport Lisboa e Benfica.

Em 1913 fez parte do conjunto de jornalistas que formaram a primeira redacção do jornal Sport Lisboa, fundado em 1913. E seria essa Redacção a homenagear Arnaldo Garcêz no dia 15 de Novembro de 1913. Desse jantar falamos no nº 39 "Um banquete de notáveis.

De entre os 13 convivas pelo menos três estiveram presentes no CEP cerca de três anos depois deste jantar: Arnaldo Garcêz, Luís Carlos Faria Leal e José Carlos Moreira Sales. O primeiro como fotógrafo e os restantes como militares. Mas lá iremos.



Sobre Arnaldo Garcêz (1885-1964) disse o Público: "...foi o único repórter fotográfico contratado pelo Exército para registar a actividade do Corpo Expedicionário Português na Frente Ocidental. O ofício da sua integração nas operações do CEP especifica que devia ser o Estado-Maior do Campo "a indicar" quais as imagens captadas. O legado visual de Garcêz mostra, no entanto, que a sua acção na frente de combate foi muito além deste espartilho". (Fonte: https://www.publico.pt/multimedia/fotogaleria/i-grande-guerra-337440#/8)

Assegurou o Serviço Fotográfico do Exército entre 1916 e 1921 por convite do ministro Norton de Matos. Decretado o Armistício, Arnaldo Garcêz fotografou os batalhões nacionais que integraram as festas da comemoração da Vitória Aliada em Paris, Londres e Bruxelas, em Julho de 1919. Regressado a Portugal, documentou por fim as cerimónias fúnebres dos Soldados Desconhecidos da Europa e África, que tiveram lugar em Lisboa e no mosteiro da Batalha, a 9 e 10 Abril de 1921. Abandonou a reportagem fotográfica em 1923. Fonte: http://www.portugal1914.org/



1917,
•   Natural de Santarém;
• Alferes graduado (equiparado);
• 17 Fevereiro, embarque;
• 20 Dezembro, licença de campanha por 53 dias;

1918,
• 12 Fevereiro, apresentação no seu posto;
• 5 Setembro, apresentação na delegação Portuguesa em Paris;
• 6 a 9 Outubro, baixa ao hospital;
1919,
• 24 Julho, colocado na Comissão Portuguesa das sepulturas de guerra como fotógrafo;
1920,
• Fevereiro, integrou missão da delegação em Paris.


No próximo texto falaremos de mais 14 Benfiquistas que participaram activamente neste conflito.




RedVC

#438
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Águias na Guerra (parte II)

Benfiquistas na Grande Guerra


O texto anterior fechou falando de Arnaldo Garcez, o notável fotógrafo que participou no CEP. Agora é tempo para falarmos de outros 14 integrantes do CEP com ligação ao Sport Lisboa e Benfica. Para alguns a descrição será sumária dada a ausência de detalhes disponíveis.

Os 15 homens foram:


15 Benfiquistas que integraram o Corpo Expedicionário Português.

Usando os seus registos militares vamos fazer uma descrição sumária do seu percurso no CEP.

José da Cruz Viegas,

Capitão de Infantaria, um homem de quem já aqui destacamos por diversas vezes por ter sido figura chave na definição do nosso emblema e cores. O Capitão José da Cruz Viegas esteve em Neuve-Chapelle, não muito longe de Ypres no fatídico dia 9 de Abril. Sobreviveu embora tenha sido feito prisioneiro pelos Alemães. Foi transferido para a Alemanha, em Breesen, no campo de prisioneiros de Friedrichesfeld. Esse campo era destinado para oficiais. De lá apenas seria libertado no final da guerra. Regressou à Pátria em Dezembro de 1918 por via terrestre. Prosseguiu depois a sua carreira militar tendo chegado ao posto de Major. Nesses anos foi um homem importante para a realização de encontros de futebol internacional entre selecções militares de Lisboa e Madrid. Faleceu em Lisboa em 5 de Fevereiro de 1957. Com 76 anos morria o velho guerreiro, quase 40 anos depois de ter embarcado para a Guerra.


O Capitão José da Cruz Viegas feito prisioneiro no decurso da batalha de La Lys. Fonte: Ilustração Portuguesa; Hemeroteca de Lisboa.


1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Capitão do Exército Português;
•   27 Maio, embarcou para França;
•   Junho, louvado por "zelo, inteligência e competência";
•   10 Agosto a 1 Setembro, baixou ao hospital;
•   15 Outubro a 20 de Novembro, baixou ao hospital;
•   Novembro, 30 dias de licença para convalescer.

1918,
•   Janeiro, 30 dias de licença para convalescer;
•   8 Março, regressou a França para assumir funções de 2º comandante do Batalhão;
•   9 Abril, desaparecido em combate, dado como prisioneiro;
•   22 Dezembro, apresentou-se depois de libertado. Seguiu para Portugal por via terrestre;
•   28 Dezembro, chegou a Portugal;
•   Declarado com tempo de serviço desde 27 de Maio até 19 Dezembro 1917 e depois de 1 Março de 1918 até 28 de Dezembro de 1918.



Luís Carlos Faria Leal,

nome grande, verdadeiramente grande da vida do nosso Clube. Homem do tempo do Grupo Sport Benfica tendo sido presidente de 18/11/1906 a 15/09/1907. Foi o organizador dos Torneios Atléticos em Benfica. De acordo com a informação oficial foi "Ecléctico, empreendedor e organizado". Teve um papel importante no processo de fusão com o Sport Lisboa. tendo ficado como o sócio n.º 4. Em 1909 seria eleito "Sócio Benemérito".

Membro de uma família de militares ele próprio era um militar prestigiado. Em 1911 e 1912 era Alferes de Artilharia no Norte de Angola, em missão junto de seu pai, o General de Brigada José Heliodoro Corte-Real de Faria Leal. Voltaria a Portugal tendo em 1913 estado ligado à fundação do jornal Sport Lisboa em 1913 juntamente com Cosme Damião, entre outros notáveis Benfiquistas.

Em 1915 regressou novamente a Angola interrompendo a sua actividade no clube.  Integrou então o Corpo Expedicionário do Exército Português ao Sul de Angola. Depois viria a sua participação no CEP. Quando embarcou para França, tinha a patente de Tenente miliciano de artilharia. Longe iam os tempos do Grupo Sport Benfica.

Homem solidário e de convicções fortes e coerentes, não terá ficado mais ligado ao nosso Clube por problemas políticos que teve durante o regime de Salazar. Em 1954 desfilou como sócio nº. 1 na inauguração do nosso Estádio da Luz.

Fonte: http://arlindo-correia.com/100810.html


1915,
•   Natural de Luanda, Angola;
•   Tenente miliciano de artilharia
•   Comissão no Sul de Angola;
•   Louvado pelo "cumprimento activo e muito dedicado do serviço";

1917,
•   15 Maio, embarcou para França;
•   21 a 31 Dezembro, baixou ao Hospital;

1918,
•   17 Fevereiro a 10 Abril, licença de campanha;
•   23 Junho 1917 a 15 Fevereiro 1918, completou 239 dias na frente de combate.



José Carlos Moreira Sales,

presidente do Sport Lisboa e Benfica, exercendo mandato de 31/03/1912 a 05/12/1912. De acordo com a informação oficial: "É durante este mandato que o Benfica inaugura a sua primeira sede no Rossio, tornando-se assim mais acessível aos sócios pela sua centralidade."

Cinco anos depois da sua presidência José Carlos Moreira Sales embarcava para a Guerra como Capitão médico miliciano.


1917,
•   Natural de Turcifal de Baixo, Lourinhã;
•   Capitão médico miliciano; antigo aluno do Colégio Militar;
•   8 Agosto, embarcou, via marítima;

1918,
•   27 Março, 40 dias de licença campanha;
•   29 Junho, 60 dias licença para se tratar;
•   30 Agosto, 20 dias licença para se tratar;
•   13 Outubro, apresentou-se na Delegação Portuguesa em Paris;
•   18 Outubro, foi colocado na Estação Hendaya;

1919,
•   31 Agosto, regressou a Portugal, via terrestre;
•   13 Setembro, 10 dias de licença;



José Antunes dos Santos Júnior,

presidente do Sport Lisboa e Benfica de 29/08/1915 - 15/07/1916. De acordo com a informação oficial "Durante a sua presidência, o Benfica alcança o título de campeão de Lisboa, novamente nas três categorias, dois anos após o último título.".

Dois anos depois do seu mandato o Capitão médico miliciano José Antunes dos Santos Júnior embarcava para a Guerra. No dia do seu embarque o fim da Guerra tinha sido oficializado há três dias. Mas havia muito para um médico fazer na frente de combate.


1918,
•   Natural de Ponta Delgada;
•   Capitão médico miliciano;
•   14 Novembro, embarcou para França;

1919,
•   29 Março, desembarcou em Lisboa, via terrestre;
•   Tempo de serviço de 14 Novembro 1918 a 29 Março de 1919.



Júlio Ribeiro da Costa,
 


Jogador e mais tarde presidente do Sport Lisboa e Benfica. Terá cumprido uma missão militar em Angola. Não consegui consultar o seu processo mas terá chegado à patente de Capitão. Figura muito prestigiada, exerceu mandato de 31/07/1938 a 01/08/1939. Segundo a informação oficial "Enquanto presidente da Direcção foi um grande orador, demonstrando sempre uma incansável lealdade pelo Clube, sabendo defender os seus interesses até ao limite das suas forças." Teve uma vida longa, tendo em 1986 chegado a ser o sócio nº. 1 e, em 1991, Águia de Ouro.


Herculano Santos,



Natural de Belém, Lisboa, jogador e mais tarde dirigente do Sport Lisboa e Benfica. Para muitos detalhes da sua vida fica aqui a referência ao excelente trabalho que Alberto Miguéns fez sobre ele: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html. Participou no CEP com a patente de Segundo Sargento.

• Natural de Belém, Lisboa;
• 2º Sargento da 8ª Companhia do CAP
• Casado com Henriqueta dos Santos Carmo
• Morador Rua do meio à Ajuda

1917,
• Embarcou em 2 de Agosto
• Desembarcou em França em 29 de Agosto
• Embarcou para Inglaterra em 11 de Setembro tendo desembarcado em 12 de Setembro. Este período marcou presumivelmente a sua formação em Artilharia, uma das  especialidades mais exigentes desses tempos de guerra.

1918,
• Embarcou para França em 3 de Março de 1918 tendo desembarcado no dia 4.
• Atendendo às datas, terá estado presente na brutal batalha de La Lys.
Há ainda registo de ter estado em diversas localidades (caligrafia de difícil interpretação...):
   • 8 de Março, Haut-Vent (Valónia)
   • 4 de Abril, Calone (?)
   • 13 de Abril, Altiu (?)
   • 1 de Maio, Woenx-les-mimes (?)
   • 25 de Outubro, Phalemfonne (?)
   • 28 de Outubro, Capoche (?)


1919,
• Embarcou a pé para Portugal em 17 de Março tendo desembarcado em Lisboa em 26 de Março de 1919


Marcial Freitas e Costa,

jogador do Sport Lisboa e Benfica de quem já aqui falamos (90 – "Construtor de Catedrais"). Quando embarcou para a Guerra já tinha passado mais de uma década desde a estreia de Marcial com o manto sagrado.


1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes Engenheiro do Exército Português;
•   26 Maio, embarcou em Lisboa para a Flandres;
•   13 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918
•   7 Janeiro, Licença de campanha por 53 dias;
•   9 Fevereiro, foi promovido a Tenente;
•   Louvado pela "forma como comandou a secção automóvel de tiro destacada para o sector Inglês, de Abril a Dezembro, revelando notáveis qualidades de competência e dedicação";

1919
•   4 Agosto, desembarcou em Lisboa.


Álvaro Vivaldo,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Filho de um alferes de administração militar e neto de um General de Brigada. Foi um jogador dedicado no SLB. Fez carreira quase sempre nas categorias inferiores porque jogava na posição de Cosme Damião. Deu consistência e qualidade a essas equipas e quando necessário foi chamado por Cosme à primeira equipa.


1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes miliciano de artilharia;
•   8 Agosto, embarcou para França (Brest), via marítima;
•   3 Outubro, seguiu para a linha da frente onde recebeu instrução;
•   15 Outubro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   31 Março, desembarcou em Lisboa.


Virgílio Paula,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Médico de profissão, filho de um farmacêutico. Jogou no Restelo FC antes de ser nosso jogador de 1909 a 1913. Afastar-se-ia depois para surgir como um elemento de um grupo restrito que deu consistência organizativa ao Clube de Futebol "os Belenenses" quando este foi fundado. Mais tarde seria presidente da comissão nacional de árbitros substituindo em Cosme Damião quando este morreu em 1947. Foi igualmente presidente da AFL. Faleceu em Junho de 1951.



1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes médico;
•   17 Julho, embarcou;
•   24 Setembro, foi promovido a Tenente;

1918,
•   10 Janeiro, 48 dias de licença de campanha;
•   3 a 4 Maio, teve baixa médica;
•   6 Maio, julgado incapaz para todo o serviço;
•   18 Maio, desembarcou;
•   28 Julho, louvado por "ordem e dedicação", mostrando "coragem e sangue frio"; praticou actos médicos e transportou feridos em maca apesar de sujeito a intenso bombardeamento;
•   Dezembro, recebeu a 2ª classe da Cruz de Guerra;



Fausto Peres,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. De naturalidade Goesa, era irmão de Rogério Peres outro homem que jogou nas nossas camadas infantis e depois na primeira categoria, onde se destacou. Fausto, que seria mais novo, teve uma carreira de 1916 a 1923 como jogador da nossa primeira categoria. Penso que era defesa-médio.


1917,
•   Natural de Nova Goa, Pangim;
•   Soldado, serviço telegrafista sem fios;
•   26 Maio, embarcou para França;

1918,
•   9 Setembro, embarcou no Gil Eannes para Portugal;
•   15 Setembro, desembarcou em Lisboa.



Virgílio Valente,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Foi também jogador do CIF. Era defesa tendo feito alguns jogos nas categorias inferiores e muito poucos na primeira categoria.


1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes de administração militar - tesoureiro;
•   21 Março, embarcou para França;
•   17 Outubro, 20 dias de licença de campanha;

1918,
•   11 Maio, recebe 30 dias de licença
•   2 a 3 Julho, baixou ao Hospital;
•   4 Julho, recebeu 90 dias de licença de campanha;
•   15 Agosto, embarcou para Lisboa;
•   20 Agosto, compareceu a uma Junta Hospitalar em Lisboa; recebeu 30 dias de licença para se tratar;
•   16 Outubro, recebeu 20 dias de licença para se tratar de doença agravada pela campanha (bronquite crónica, anemia e suspeita de bacilo pulmonar;
•   22 Novembro, passou à disponibilidade;
•   Tempo de serviço: 21 de Março 1917 até 14 de Agosto de 1918;

1919,
•   11 Janeiro, promovido a Tenente.


Cabeça Ramos,

atleta do Sport Lisboa e Benfica. Natural de Évora veio a distinguir-se no SLB no atletismo, nomeadamente no salto à vara modalidade em que foi recordista nacional entre 1912 e 1927. Veio a ser uma das grandes figuras do comércio e indústria na cidade de Évora.


1917,
•   Natural de Évora
•   Alferes subalterno de bateria
•   8 Setembro, embarcou via terrestre;
•   12 Setembro, desembarcou em França
•   20 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   2 Março, desembarcou no Havre;
•   5 Abril, Punido com 5 dias de prisão disciplinar; por não cumprir prontamente uma ordem dada directa e verbalmente pelo comandante do grupo e também por se pretender manifestar colectivamente contra a prisão de outro oficial que haveria cometido uma infracção grave de indisciplina..."
•   7 Abril, foi transferido para outro grupo;
•   23 Agosto, punido por 3 dias de prisão disciplinar; punido por "fazer críticas que desacreditam o exército e os seus superiores".

1919,
•   Janeiro, "louvado por competência, dedicação em todos os serviços que foi encarregado por ordem do Comando Geral";
•   12 Fevereiro, embarcou para Portugal.



De Romualdo Bogalho (Segundo Sargento Miliciano) e Francisco Pereira (soldado), ambos jogadores do Sport Lisboa e Benfica, não encontrei os processos militares.



Ambos foram jogadores com destaque na primeira categoria e ambos viria a sair para ajudar a fundar o CFB. Francisco Pereira que era irmão de Artur José Pereira, foi destacado para a guerra em África.


Muitas mais histórias terão ficado por contar. De muitos outros homens. Talvez num outro dia, num outro tempo, quando elementos novos surgirem.

Pelo que sei nenhum destes ou dos outros homens ligados ao SLB morreu ao serviço da Pátria neste terrível conflito. Todos voltaram mas provavelmente com marcas que perduraram até ao fim das suas vidas. Milhares de outros Portugueses não tiveram essa sorte. Estiveram entre os milhões de homens que tombaram neste conflito. Paz à sua Alma. Honra à sua memória. Porque esquecer é o maior insulto que lhes podemos fazer.


Futebol em tempo de guerra


É conhecida a imagem de Herculano João dos Santos integrado numa equipa de futebol durante o período em que esteve na Flandres. Na imagem estão também Cabeça Ramos e António Soares (de quem não consegui mais informação).



Herculano e Cabeça Ramos futebolistas durante o seu tempo-militar em França. Fonte: Em Defesa do Benfica.


De facto, o futebol fez parte das actividades lúdicas e de convívio entre alguns dos nossos militares. Existem aliás dois outros registos fotográficos também de Arnaldo Garcêz. Duas fotografias sombrias do futebol em tempo de guerra.

o Marechal de Campo Douglas Haig, um dos Comandantes supremos das forças Inglesas terá dito que não compreendia como é que alguns dos seus homens nos seus tempos de folga preferiam andar a correr atrás de uma bola. Estava um pouco ao lado dos seus homens.

Mas o que é certo é que o futebol era já um fenómeno de massas em Inglaterra e ia pelo mesmo caminho na maior parte dos países Europeus. Também os Portugueses praticaram futebol nesse tempos. Uma vez mais Arnaldo Garcêz nos deixou testemunho disso.


Futebol em tempo de Guerra. Fonte: AHM


As nossas tropas tiveram ainda outras actividades desportivas como corridas, ocasiões em que alguns confraternizaram com Ingleses. Na gíria da época os Ingleses eram "tommies" e os alemães eram "boches".

Quem sabe quantos e quais dos nossos Gloriosos tiveram oportunidade de dar o gosto ao pé em terras de França? Talvez um dia venhamos a saber. E falar disso por aqui.



RedVC

#439
-107-
Águias na Guerra (parte III)

Por fim, e como nem sempre se podem ter identificações conclusivas, fica uma identificação discutível mas com alguma base de probabilidade.
Durante essas actividades lúdicas entre as operações, militares Portugueses e Ingleses conviveram em actividades desportivas. Existe um registo disso:


Militares Portugueses e Ingleses em ambiente de convívio desportivo em tempos de guerra. Original de Arnaldo Garcêz. Colorido por Henrique Mart.


É apenas uma suposição mas atentem:


Será?

Talvez um dia o possamos saber ou talvez nunca.

cernache1

Citação de: RedVC em 03 de Junho de 2016, 20:49
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Águias na Guerra (parte II)

Benfiquistas na Grande Guerra


O texto anterior fechou falando de Arnaldo Garcez, o notável fotógrafo que participou no CEP. Agora é tempo para falarmos de outros 14 integrantes do CEP com ligação ao Sport Lisboa e Benfica. Para alguns a descrição será sumária dada a ausência de detalhes disponíveis.

Os 15 homens foram:


15 Benfiquistas que integraram o Corpo Expedicionário Português.

Usando os seus registos militares vamos fazer uma descrição sumária do seu percurso no CEP.

José da Cruz Viegas,

Capitão de Infantaria, um homem de quem já aqui destacamos por diversas vezes por ter sido figura chave na definição do nosso emblema e cores. O Capitão José da Cruz Viegas esteve em La Lys no fatídico dia 9 de Abril. Sobreviveu embora tenha sido feito prisioneiro pelos Alemães. Foi transferido para a Alemanha, em Breesen, no campo de prisioneiros de Friedrichesfeld. Esse campo era destinado para oficiais. De lá apenas seria libertado no final da guerra. Regressou à Pátria em Dezembro de 1918 por via terrestre. Prosseguiu depois a sua carreira militar tendo chegado ao posto de Major. Nesses anos foi um homem importante para a realização de encontros de futebol internacional entre selecções militares de Lisboa e Madrid. Faleceu em Lisboa em 5 de Fevereiro de 1957.


O Capitão José da Cruz Viegas feito prisioneiro no decurso da batalha de La Lys. Fonte: Ilustração Portuguesa; Hemeroteca de Lisboa.


1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Capitão do Exército Português;
•   27 Maio, embarcou para França;
•   Junho, louvado por "zelo, inteligência e competência";
•   10 Agosto a 1 Setembro, baixou ao hospital;
•   15 Outubro a 20 de Novembro, baixou ao hospital;
•   Novembro, 30 dias de licença para convalescer.

1918,
•   Janeiro, 30 dias de licença para convalescer;
•   8 Março, regressou a França para assumir funções de 2º comandante do Batalhão;
•   9 Abril, desaparecido em combate, dado como prisioneiro;
•   22 Dezembro, apresentou-se depois de libertado. Seguiu para Portugal por via terrestre;
•   28 Dezembro, chegou a Portugal;
•   Declarado com tempo de serviço desde 27 de Maio até 19 Dezembro 1917 e depois de 1 Março de 1918 até 28 de Dezembro de 1918.



Luís Carlos Faria Leal,

nome grande, verdadeiramente grande da via do nosso Clube. Militar prestigiado, homem do tempo do Grupo Sport Benfica, tendo sido presidente de 18/11/1906 a 15/09/1907. De acordo com a informação oficial foi "Eclético, empreendedor e organizado". Teve um papel importante no processo de fusão com o Sport Lisboa. Foi eleito "Sócio Benemérito" (1909).

Não terá ficado mais ligado ao nosso Clube por alguns problemas que teve durante o regime de Salazar. Foi igualmente um homem ligado à fundação do jornal Sport Lisboa em 1913 juntamente com Cosme Damião, entre outros notáveis Benfiquistas. Em 1954 desfilou como sócio nº 1 na inauguração do nosso Estádio da Luz.


1915,
•   Natural de Luanda, Angola;
•   Tenente miliciano de artilharia
•   Comissão no Sul de Angola;
•   Louvado pelo "cumprimento activo e muito dedicado do serviço";

1917,
•   15 Maio, embarcou para França;
•   21 a 31 Dezembro, baixou ao Hospital;

1918,
•   17 Fevereiro a 10 Abril, licença de campanha;
•   23 Junho 1917 a 15 Fevereiro 1918, completou 239 dias na frente de combate.



José Carlos Moreira Sales,

presidente do Sport Lisboa e Benfica, exercendo mandato de 31/03/1912 a 05/12/1912. De acordo com a informação oficial: "É durante este mandato que o Benfica inaugura a sua primeira sede no Rossio, tornando-se assim mais acessível aos sócios pela sua centralidade."


1917,
•   Natural de Turcifal de Baixo, Lourinhã;
•   Capitão médico miliciano; antigo aluno do Colégio Militar;
•   8 Agosto, embarcou, via marítima;

1918,
•   27 Março, 40 dias de licença campanha;
•   29 Junho, 60 dias licença para se tratar;
•   30 Agosto, 20 dias licença para se tratar;
•   13 Outubro, apresentou-se na Delegação Portuguesa em Paris;
•   18 Outubro, foi colocado na Estação Hendaya;

1919,
•   31 Agosto, regressou a Portugal, via terrestre;
•   13 Setembro, 10 dias de licença;



José Antunes dos Santos Júnior,

presidente do Sport Lisboa e Benfica de 29/08/1915 - 15/07/1916. De acordo com a informação oficial "Durante a sua presidência, o Benfica alcança o título de campeão de Lisboa, novamente nas três categorias, dois anos após o último título.".


1918,
•   Natural de Ponta Delgada;
•   Capitão médico miliciano;
•   14 Novembro, embarcou para França;

1919,
•   29 Março, desembarcou em Lisboa, via terrestre;
•   Tempo de serviço de 14 Novembro 1918 a 29 Março de 1919.



Júlio Ribeiro da Costa,
 


Jogador e mais tarde presidente do Sport Lisboa e Benfica. Terá cumprido uma missão militar em Angola. Não consegui consultar o seu processo mas terá chegado à patente de Capitão. Figura muito prestigiada, exerceu mandato de 31/07/1938 a 01/08/1939. Segundo a informação oficial "Enquanto presidente da Direcção foi um grande orador, demonstrando sempre uma incansável lealdade pelo Clube, sabendo defender os seus interesses até ao limite das suas forças." Teve uma vida longa, tendo em 1986 chegado a ser o sócio nº. 1 e, em 1991, Águia de Ouro.


Herculano Santos,



Natural de Belém, Lisboa, jogador e mais tarde dirigente do Sport Lisboa e Benfica. O processo de Herculano não está disponível mas sabe-se teve a patente de Segundo Sargento. Deixo no entanto a referência ao excelente trabalho que Alberto Miguéns fez sobre ele: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html


Marcial Freitas e Costa,

jogador do Sport Lisboa e Benfica de quem já aqui falamos (9x – "Construtor de Catedrais").


1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes Engenheiro do Exército Português;
•   26 Maio, embarcou em Lisboa para a Flandres;
•   13 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918
•   7 Janeiro, Licença de campanha por 53 dias;
•   9 Fevereiro, foi promovido a Tenente;
•   Louvado pela "forma como comandou a secção automóvel de tiro destacada para o sector Inglês, de Abril a Dezembro, revelando notáveis qualidades de competência e dedicação";

1919
•   4 Agosto, desembarcou em Lisboa.


Álvaro Vivaldo,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Filho de um alferes de administração militar e neto de um General de Brigada. Foi um jogador dedicado no SLB. Fez carreira quase sempre nas categorias inferiores porque jogava na posição de Cosme Damião. Deu consistência e qualidade a essas equipas e quando necessário foi chamado por Cosme à primeira equipa.


1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes miliciano de artilharia;
•   8 Agosto, embarcou para França (Brest), via marítima;
•   3 Outubro, seguiu para a linha da frente onde recebeu instrução;
•   15 Outubro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   31 Março, desembarcou em Lisboa.


Virgílio Paula,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Médico de profissão, filho de um farmacêutico. Jogou no Restelo FC antes de ser nosso jogador de 1909 a 1913. Afastar-se-ia depois para surgir como um elemento de um grupo restrito que deu consistência organizativa ao Clube de Futebol "os Belenenses" quando este foi fundado. Mais tarde seria presidente da comissão nacional de árbitros substituindo em Cosme Damião quando este morreu em 1947. Foi igualmente presidente da AFL. Faleceu em Junho de 1951.


1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes médico;
•   17 Julho, embarcou;
•   24 Setembro, foi promovido a Tenente;

1918,
•   10 Janeiro, 48 dias de licença de campanha;
•   3 a 4 Maio, teve baixa médica;
•   6 Maio, julgado incapaz para todo o serviço;
•   18 Maio, desembarcou;
•   28 Julho, louvado por "ordem e dedicação", mostrando "coragem e sangue frio"; praticou actos médicos e transportou feridos em maca apesar de sujeito a intenso bombeardamento;
•   Dezembro, recebeu a 2ª classe da Cruz de Guerra;



Fausto Peres,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. De naturalidade Goesa, era irmão de Rogério Peres outro homem que jogou nas nossas camadas infantis e depois na primeira categoria, onde se destacou. Fausto, que seria mais novo, teve uma carreira de 1916 a 1923 como jogador da nossa primeira categoria. Penso que era defesa-médio.


1917,
•   Natural de Nova Goa, Pangim;
•   Soldado, serviço telegrafista sem fios;
•   26 Maio, embarcou para França;

1918,
•   9 Setembro, embarcou no Gil Eannes para Portugal;
•   15 Setembro, desembarcou em Lisboa.



Virgílio Valente,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Foi também jogador do CIF. Era defesa tendo feito alguns jogos nas categorias inferiores e muito poucos na primeira categoria.


1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes de administração militar - tesoureiro;
•   21 Março, embarcou para França;
•   17 Outubro, 20 dias de licença de campanha;

1918,
•   11 Maio, recebe 30 dias de licença
•   2 a 3 Julho, baixou ao Hospital;
•   4 Julho, recebeu 90 dias de licença de campanha;
•   15 Agosto, embarcou para Lisboa;
•   20 Agosto, compareceu a uma Junta Hospitalar em Lisboa; recebeu 30 dias de licença para se tratar;
•   16 Outubro, recebeu 20 dias de licença para se tratar de doença agravada pela campanha (bronquite crónica, anemia e suspeita de bacilo pulmonar;
•   22 Novembro, passou à disponibilidade;
•   Tempo de serviço: 21 de Março 1917 até 14 de Agosto de 1918;

1919,
•   11 Janeiro, promovido a Tenente.


Cabeça Ramos,

atleta do Sport Lisboa e Benfica. Natural de Évora veio a distinguir-se no SLB no atletismo, nomeadamente no salto à vara modalidade em que foi recordista nacional entre 1912 e 1927. Veio a ser uma das grandes figuras do comércio e indústria na cidade de Évora.


1917,
•   Natural de Évora
•   Alferes subalterno de bateria
•   8 Setembro, embarcou via terrestre;
•   12 Setembro, desembarcou em França
•   20 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   2 Março, desembarcou no Havre;
•   5 Abril, Punido com 5 dias de prisão disciplinar; por não cumprir prontamente uma ordem dada directa e verbalmente pelo comandante do grupo e também por se pretender manifestar colectivamente contra a prisão de outro oficial que haveria cometido uma infracção grave de indisciplina..."
•   7 Abril, foi transferido para outro grupo;
•   23 Agosto, punido por 3 dias de prisão disciplinar; punido por "fazer críticas que desacreditam o exército e os seus superiores".

1919,
•   Janeiro, "louvado por competência, dedicação em todos os serviços que foi encarregado por ordem do Comando Geral";
•   12 Fevereiro, embarcou para Portugal.



De Romualdo Bogalho (Segundo Sargento Miliciano) e Francisco Pereira (soldado), ambos jogadores do Sport Lisboa e Benfica, não encontrei os processos militares.



Ambos foram jogadores com destaque na primeira categoria e ambos viria a sair para ajudar a fundar o CFB. Francisco Pereira que era irmão de Artur José Pereira, foi destacado para a guerra em África.


Muitas mais histórias terão ficado por contar. De muitos outros homens. Talvez num outro dia, num outro tempo, quando elementos novos surgirem.

Pelo que sei nenhum destes ou dos outros homens ligados ao SLB morreu ao serviço da Pátria neste terrível conflito. Todos voltaram mas provavelmente com marcas que perduraram até ao fim das suas vidas. Milhares de outros Portugueses não tiveram essa sorte. Estiveram entre os milhões de homens que tombaram neste conflito. Paz à sua Alma. Honra à sua memória. Porque esquecer é o maior insulto que lhes podemos fazer.


Futebol em tempo de guerra

É conhecida a imagem de Herculano João dos Santos integrado numa equipa de futebol durante o período em que esteve na Flandres. Na imagem estão também Cabeça Ramos e António Soares (de quem não consegui mais informação).



Herculano e Cabeça Ramos futebolistas durante o seu tempo-militar em França. Fonte: Em Defesa do Benfica.


De facto, o futebol fez parte das actividades lúdicas e de convívio entre alguns dos nossos militares. Existem aliás dois outros registos fotográficos também de Arnaldo Garcês. Duas fotografias sombrias do futebol em tempo de guerra.

o Marechal de Campo Douglas Haig, um dos Comandantes supremos das forças Inglesas terá dito que não compreendia como é que alguns dos seus homens nos seus tempos de folga preferiam andar a correr atrás de uma bola. Estava um pouco ao lado dos seus homens.

Mas o que é certo é que o futebol era já um fenómeno de massas em Inglaterra e ia pelo mesmo caminho na maior parte dos países Europeus. Também os Portugueses praticaram futebol nesse tempos. Uma vez mais Arnaldo Garcez nos deixou testemunho disso.


Futebol em tempo de Guerra. Fonte: AHM


As nossas tropas tiveram ainda outras actividades desportivas como corridas, ocasiões em que alguns confraternizaram com Ingleses. Na gíria da época os Ingleses eram "tommies" e os alemães eram "boches".

Quem sabe quantos e quais dos nossos Gloriosos tiveram oportunidade de dar o gosto ao pé em terras de França? Talvez um dia venhamos a saber. E falar disso por aqui.




Trabalho maravilhoso camarada. Grato.

RedVC

#441
Obrigado cernache1 e M1904 O0

RedVC

#442
Citação de: RedVC em 30 de Abril de 2016, 10:18
Citação de: Theroux em 29 de Abril de 2016, 23:56


Imagem por decifrar.

Bela imagem. Obrigado pela partilha.

Não sei decifrar convenientemente mas há alguns pontos a referir.

Ainda assim alguns elementos para melhor perceber a fotografia

Jogo rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira

O Benfica já parece jogar com a camisola vermelha e calças brancas. Isto significa que já não jogou com o equipamentos do Desportos Benfica (todo branco). A absorção dos Desportos de Benfica, em 17/09/1916.

Estreia do hóquei no nosso Clube em  3 de Junho de 1917.

O equipamento do adversário parece ser tricolor. Aliás existe uma bandeira tricolor. A outra bandeira talvez seja a nossa.



Do blogue EDB de Alberto Miguéns:


Equipa em 1917. Ainda com os equipamentos herdados do "Desportos de Benfica", embora Ilídio Vaquinhas Nogueira (guarda-redes) já jogasse de Glorioso Emblema ao peito. Em 1921, Cosme Damião exigiu camisola vermelha embora continuassem a jogar de calças brancas. Durante um ano. Em 1922 já se jogava de calções, embora pelos...joelhos. Foi difícil reduzir o tecido nas pernas!

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/hoquei-em-patins-honrem-os-ases-que-nos.html


Outra fotografia do blogue de Alberto Miguens:


O rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira, local do 1.º SLB vs Paço de Arcos Hockey Club

Diz ainda Alberto Miguéns: "18 de Julho de 1939, quando para a 6.ª jornada do Campeonato de Lisboa, no rinque da nossa Sede na Avenida Gomes Pereira, ao vencermos, por 5-0, a equipa do famoso clube de hóquei em patins da linha."

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/vai-jogar-o-clube-mais-antigo-do-mundo.html


Eu diria que o jogo deve ser de 1921-1922.


Estava a olhar para outro aspecto do nosso hóquei em patins e voltei a olhar para a fotografia.



Parece-me agora que uma das bandeiras tinha ainda o símbolo dos Desportos de Benfica. É pois anterior à junção do Desportos de Benfica ao Sport Lisboa e Benfica.

Assim a fotografia poderá ainda ser anterior a 17/09/1916. Tendo em conta que o processo deixou algumas marcas não me parece que fosse normal que o símbolo do Desportos de Benfica ainda estivesse hasteado após a junção. Assim, repetindo, a fotografia será muito provavelmente anterior a Setembro de 1916.

Ned Kelly

Grande trabalho de pesquisa que vai para aqui! E que gozo deve dar!

Muitos parabéns.

RedVC

Obrigado  O0

Sim Ned Kelly, dá muito trabalho e muito gozo também.

Adaptando "vergonhosamente" a mais famosa frase de Cosme Damião eu diria

"a ideia da partilha seguiu-se ao prazer da pesquisa"

Eu bem devia dedicar mais tempo a outras coisas mas estas decifragens dão mesmo muito gozo.

Já tenho mais umas histórias escritas. Lá para o fim de semana vai aparecer mais uma. Para Benfiquistas e para pastéis.

RedVC

#445
-108-
Olhos de fogo, coração de Belém

No artigo nº 35, intitulado: "Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia" foi apresentada uma proposta para decifrar uma fotografia de grande significado histórico para o Universo Benfiquista.


Sport Lisboa nas Salésias. Lá atrás vê-se a silhueta do Palácio da Ajuda. Fonte: AML. Autor desconhecido (provavelmente Alexandre Cunha).


Trata-se da única fotografia conhecida de uma equipa completa do Sport Lisboa alinhada no campo das Terras do Desembargador às Salésias. Como se disse na altura, essa fotografia é uma preciosidade histórica do nosso Clube e até hoje foi o caso que mais prazer me deu a decifrar.

A decifragem apesar de sólida ainda não está completa mas trouxe já elementos novos ao período inicial da história do nosso Clube. Corresponde a um período fundamental para a definição das bases de um dos maiores clubes do mundo.

Mas há uma outra fotografia interessante desse mesmo fotógrafo (provavelmente Alexandre Cunha) que interessa apresentar e decifrar. Foi também tirada nas Terras do Desembargador às Salésias como se percebe por no horizonte estar a inconfundível silhueta da Igreja da Memória da paróquia da Ajuda. Tenho aliás a forte convicção que as duas fotografias foram tiradas no mesmo dia, imortalizando as duas equipas que muito provavelmente se defrontaram naquele dia nas terras do Desembargador às Salésias.



Sport União Belenense nas terras do Desembargador às Salésias. Lá atrás vê-se a silhueta da Igreja da Memória na Ajuda e um pouco do Palácio Nacional da Ajuda. Fonte: AML. Autor desconhecido (provavelmente Alexandre Cunha).


Esta segunda fotografia é esteticamente muito bela. Mais clara do que a do Sport Lisboa pois o fotógrafo optou por outro ângulo, decisão que favoreceu o resultado final. Os rostos dos jogadores estão perfeitamente definidos; feições claras e juvenis. Aliás, era uma equipa mais juvenil do que a nossa. Uma equipa, vestida de branco com mangas e golas de cor desconhecida, talvez azuis, talvez pretas. Essa equipa que certamente terá defrontado Gourlade e seus pares, era a segunda ou a terceira categoria do Sport União Belenense.

A identificação desta equipa do SUB fez-se por comparação com fotografias publicadas nessa época no periódico Tiro e Sport.



Sport União Belenense em 1909. Equipamento branco igual à da fotografia das Salésias. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Em anos mais avançados da sua curta existência, o Sport União Belenense apresentava-se com camisola azul e calção branco mas, no princípio como se prova pelas duas fotografias anteriores, este grupo apresentava-se com um equipamento branco. Detalhe ainda mais interessante uma vez que esse equipamento era em tudo semelhante ao de um outro clube da mesma zona: o Ajudense Foot-ball Clube. Os dois clubes ainda coexistiram no tempo, facto que torna curiosa a compatibilidade de equipamentos sabendo-se que nesse tempo não era frequente a existência de equipamentos alternativos.

Depois do (Belém) Foot-ball Clube, talvez o grupo mais antigo dessa zona e que esteve na génese do Sport Lisboa, outros dois representantes do genuíno entusiasmo popular pelo futebol em Belém apareceram e tiveram algum destaque: o Ajudense F.C. e o Sport União Belenense.

Dessa época há também alusões a um Vasco da Gama Foot-ball Clube e a um Restelo Foot-ball Clube. Este último em particular terá sido fundado por, entre outros, Virgílio Lopes Paula, que foi nosso jogador de 1908 a 1913. Virgílio Paula, médico de profissão, viria ainda a ser dirigente do CFB, da AFL e do Conselho Nacional de Árbitros. Depois ainda se formariam outros clubes tal como o Bom Sucesso F.C. (fundado em 1913) e provavelmente terão existido outros clubes igualmente efémeros como o Pedrouços FC.

Apesar deste quadro de exuberância clubística, resulta claro que nessa década os grupos de Belém que tiveram maior destaque social e competitivo foram o nosso Sport Lisboa e este Sport União Belenense (SUB). O SUB teve no entanto uma existência breve. Desconheço a data definitiva mas penso que depois de 1913 já não existe registo público de actividades. Extinguiu-se. Mas, como se veria em 1918-1919 com a fundação do Clube de Futebol "os Belenenses" (CFB), o Sport União Belenense deixou sementes e nostalgia. O espírito do SUB teve provavelmente influência na fundação do CFB.
 


Sport União Belenense em 1910. Nesse ano o Clube já se apresentava equipamento com camisola azul e calções brancos.
Fonte: Tiro e Sport.


Identificações

Ao olhar para esta nova fotografia verifica-se que esta segunda (ou terceira) categoria do SUB integrava onze jovens jogadores, alguns deles aliás percebe-se que eram mesmo bastante jovens. Entre eles podemos facilmente reconhecer dois que pouco depois – embora em tempos distintos - viriam a transitar para a primeira categoria do Sport Lisboa e Benfica e por lá atingiram grande notoriedade nacional:


Francisco Belas e... Artur José Pereira



Os muito juvenis Francisco Belas e Artur José Pereira ainda nos seus tempos do Sport União Belenense. Mais tarde foram duas glórias do Sport Lisboa e Benfica. Fonte AML.


Exacto. A presença do grande AJ Pereira é o maior ponto de interesse desta fotografia! AJ Pereira foi o maior e, como disse João Malheiro, "foi o maior e por isso só poderia ser do Benfica"! O mesmo AJ Pereira que se cobriria de glória no Sport Lisboa e Benfica, mas que em 1914 desertaria para o SCP e que em 1919 seria o principal mentor e um dos fundadores do Clube de Futebol "os Belenenses". Ainda hoje e presumo que assim se manterá para sempre, AJ Pereira é juntamente com Pepe, a principal referência desportiva do Clube Futebol "Os Belenenses".

Nascido em Belém, no dia 15 de Outubro de 1888 e sendo a fotografia datada entre 1905-1907, esta fotografia é, tanto quanto sei, aquela que nos apresenta retratado o mais jovem AJ Pereira. Teria entre 17 a 19 anos de idade.

Curiosamente nesta fotografia AJ Pereira aparece-nos como médio à esquerda, posição que aliás ocuparia no Sport Lisboa ao lado de Cosme Damião. O facto é interessante pois existe a ideia que AJ Pereira só veio a jogar na posição mais á esquerda por via da primazia que Cosme para a posição mais central, mais prestigiada e influente. Afinal, talvez a posição original de AJ Pereira talvez fosse mesmo a de médio à esquerda.

Pensando nestas duas fotografias das Salésias levanta-se uma outra hipótese não apenas curiosa mas bastante credível. Nesse dia AJ Pereira terá jogado contra Manuel Gourlade que como vimos anteriormente jogou a guarda-redes. Talvez até AJ Pereira lhe tenha marcado algum golo... Muito provavelmente destacou-se logo pela qualidade do seu futebol. Era um predestinado.

Sabendo-se que nesses primeiros anos Manuel Gourlade tinha funções equivalentes à de treinador de equipa e sabendo-se que era metódico e observador, é possível que tenha sido Manuel Gourlade e não Cosme Damião o homem que recrutou AJ Pereira para o Sport Lisboa. Sabe-se lá...

Segundo é voz corrente AJ Pereira jogou no Futebol Cruz Negra antes de seguir para o Sport Lisboa. Talvez. Mas certo é que não há qualquer fotografia conhecida de AJ Pereira com a camisola do FCN.

De qualquer forma essa aventura a ter acontecido durou muito pouco tempo. O FCN era uma curiosa equipa formada por cisões acontecidas no Campo de Ourique. O clube durou muito pouco tempo. É possível que se AJ Pereira efectivamente ainda jogou com a Cruz negra apenas o terá feito ter em alguns poucos jogos. Aliás nesse tempo era comum os jogadores irem circulando por diversos clubes. Nem sequer havia campeonatos organizados. Os jogos combinados e aconteciam com os jogadores disponíveis.

O que parece mais razoável é que AJ Pereira estaria nessa fase precoce da sua actividade futebolística mais consistentemente ligado ao Clube da sua terra do que ao FCN. Por outro lado em 1907 o Sport Lisboa era ainda um Clube com sede em Belém. E por lá se manteria até à altura da fusão em Setembro de 1908, período a partir do qual se mudou para Benfica, passando a ter como terreno de jogo permanente o Campo da Quinta da Feiteira. AJ Pereira ter-se-à estreado no Sport Lisboa ainda em 1907 ou seja ainda antes da fusão.

Estreou-se ainda quando o nosso Clube se chamava Sport Lisboa. Não terá visto com grande simpatia essa fusão mas lá seguiu para a Glória que conquistaria na Feiteira. Em Benfica, vestido de vermelho.



Olhos de fogo, coração de Belém!


Olhando para o jovem AJ Pereira percebe-se que aqueles olhos não enganavam. Havia fogo no seu olhar. Havia fome de bola, fome de glória, rebeldia. Estava destinado a ser uma estrela, a primeira do futebol Português. Estava destinado à polémica, a fomentar o ardor da paixão clubística. Mas para isso teve que e fazer a conjugação perfeita: AJ Pereira, Cosme Damião e o Sport Lisboa e Benfica. Os grandes atraem os grandes. E assim se cumpriu.

AJ Pereira seria recrutado para o Sport Lisboa ainda em 1907. Por lá se fez estrela, fruto do seu talento e da enorme adesão popular que o clube rubro já tinha. Por lá se envolveria em múltiplas polémicas até à polémica final que ditou a sua saída sem honra e sem glória do Sport Lisboa e Benfica.


Polémicas

Para além do seu talento como futebolista, o temperamento de AJ Pereira foi sempre a sua outra grande vantagem mas também o seu grande problema. Consciente da superioridade do seu talento técnico e do seu jogo virtuoso de perfeito ambidextro, Artur não se mostrava disponível para treinar como os outros. Só que, pelos seus princípios e concepções de jogo, Cosme não poderia aceitar isso. Para Cosme, o Clube estava acima de qualquer homem.

No início aliás, Cosme até terá visto em AJ Pereira um seu sucessor para a liderança da equipa em campo. Artur tinha conhecimentos e carisma para assumir esse papel. Infelizmente o mesmo Cosme cedo também se terá percebido que isso não seria viável. O temperamento conflituoso do jovem belenense não permitia isso. De castigo em castigo, AJ Pereira lá se ia desculpando e pela autoridade e respeito natural que tinha a Cosme, as coisas lá se iam compondo. Com a mudança do Sport Lisboa para Benfica uma insatisfação crescente instalou-se no coração de AJ Pereira.



Talvez a equipa mais brilhante da década de 1910-1920. Artur José Pereira, sentado *a direita em 2º plano, envergando o manto sagrado ao lado de Cosme Damião. Cosme com a bola de jogo nas mãos evidencia a sua atitude de serena liderança. Apesar do respeito existente entre os dois homens os problemas foram permanentes e ditaram a saída conflituosa de AJP.


A força bruta dos Viscondes

Até que, em 1914, surgiu o dinheiro de Alvalade. Situação curiosa. Serve para medir a incongruência e o oportunismo do clube do Lumiar. Vem de longe e assim se mantém.

Concretizando: uns anos antes, dirigentes do SCP a pretexto da "impulsividade" de AJ Pereira no campo alegaram que os Benfiquistas não eram dignos de frequentar as suas instalações. Em boa verdade os tumultos tiveram responsabilidade em ambos os lados mas isso nada contou para a argumentação leonina. Em particular a AJ Pereira imputavam um comportamento em campo que diziam ser violento e anti-desportivo. Um comportamento que instigava a arruaça das assistências.

Criou-se então um nunca visto ruído mediático chegando essa gente ao desplante de exigir que o SLB fosse proibido de competir. E para a "tramóia" se tornar mais viável, ainda colocaram o pobre do SUB no mesmo saco. Na canalhice dos seus argumentos a lógica era que os dois clubes deveriam ser riscados das competições! Ah, se antes como agora essa gente pudesse fazer isso...



Artur José Pereira com a camisola Stromp. É o quarto a contar da esquerda em terceiro plano. Pelo SCP ficaria por 4 temporadas até iniciar a aventura do CF "os Belenenses". Nota-se ainda a presença de António Rosa Rodrigues, fundador do Sport Lisboa. É o segundo, sentado a contar da esquerda.


Bem, antes como agora, a tempestade passou e o Benfica impôs-se. Uns anos depois esse mesmo jogador "anti-desportivo" já poderia transferir-se para o Lumiar... E o pé descalço acabava por passar à frente dos meninos de boas famílias passando a ter prioridade no uso da banheira de água quente e a isso juntava um salário gordo para a época. Ironias do futebol... É assim, passam os anos mas as verdes invejas, as conveniências de ocasião, as deserções pagas a preço de ouro vão continuando a acontecer.



De águia ou de leão ao peito AJ Pereira encheu-se de glória mas no fundo a sua maior aspiração desportiva foi sempre a de voltar jogar num clube que em seu entender representasse a sua terra, a sua gente.


Sonho de uma noite de verão

E assim, numa noite de verão, em 23 de Setembro de 1919, quando já era veterano para o futebol, propôs essa ideia a um pequeno grupo reunido à volta de um banco da Praça Alexandre Albuquerque em Belém. Esse banco está ainda hoje identificado no jardim de Belém. O berço do CFB.


Estava lançada a semente do CFB. AJ Pereira cumpria enfim o seu desejo mais profundo e deixava a sua marca maior no futebol Português. Foi Benfiquista, foi Sportinguista mas foi acima de tudo um grande Belenense. E assim merece ser recordado.

Para lá das polémicas, AJ Pereira foi por muitos anos unanimemente considerado o melhor jogador de sempre do futebol Português. Arrumadas as botas foi depois um treinador ganhador no seu Belenenses. Descobriu e formou jogadores; treinou, foi mentor e até massagista das equipas do seu CFB. Foi tudo menos dirigente pois não tinha nem feitio nem formação para isso.



Artur José Pereira, à esquerda observa atentamente os seus jogadores. Treinador, mentor, formador, massagista; foi tudo no seu CFB. Fonte Belenenses Ilustrado.

   

Três aspectos de Artur José Pereira no CFB, jogador, massagista e treinador. Um líder nato. Fonte: Belenenses Ilustrado.


Muito por via do seu labor, desde o tempo do campo do Pau do Fio até ao Estádio das Salésias, o CFB assumiu por inteiro o seu papel de grande do futebol Português.



Cândido de Oliveira e Artur José Pereira durante o tempo em que o primeiro treinou o CFB. Dois ex-Benfiquistas que foram grandes no futebol Português. Afastaram-se do Benfica mas foi a semente Benfiquista e a filosofia de Cosme que lhes definiu a matriz competitiva ganhadora.


Durante anos foi uma das principais figuras do futebol Português, envolvido em polémicas e estando na base de títulos para o seu CFB. Com ele, mais do que com outro homem, o CFB se fez grande.

A sua preponderância na vida do CFB era tal que não admira vê-lo aqui durante a celebração dos 20 anos do clube do qual ele foi o principal fundador.


Salésias, Setembro de 1939 nas comemorações dos 20 anos do CFB. Artur José Pereira ladeia o veterano Joaquim de Almeida que empunha a bandeira do Clube. O Estádio rebaptizado de Estádio José Manuel Soares tinha sido beneficiado para ter 21.000 lugares e foi o primeiro com um relvado permanente em Portugal. Fonte: Restos de Colecção.


Foi trágica e precoce, muito precoce a perda de AJ Pereira para o CFB. E de facto, em 1945, dois anos antes de Cosme, AJ Pereira morreu. Morria o pai do CFB, morria uma grande figura do futebol Português.


Ecos da morte AJ Pereira num jornal Brasileiro. Eles não se esqueceram de que AJ Pereira tinha por lá passado 30 anos antes! Fonte: Jornal dos Sports 7/09/1943.


Nesse mesmo ano iniciava-se uma época desportiva que viria a resultar na conquista do único campeonato de futebol do CFB. AJ Pereira já não viu essa glória do CFB. Nem viu igualmente a construção e inauguração do Estádio do Restelo. Uma estranha ironia essa pois a partir dessa inauguração o CFB - apesar de alguns fogachos – o CFB nunca mais atingiria patamares antes alcançados. A partir daí foi só descer. A perda das Salésia marcou talvez a perda do verdadeiro CFB. Nunca mais foi o mesmo.



Inauguração do Estádio do Restelo, 23 de Setembro de 1956, data do 37º aniversário do clube. Empunhando o estandarte do clube esteve um Pereira. Artur José tinha morrido 9 anos antes. Se fosse vivo certamente teria sido Artur a empunhar a bandeira. Assim, foi o seu irmão Francisco, outra velha glória Benfiquista e Belenense a merecer a honra desse acto.


A fotografia do mais jovem AJ Pereira é uma nova e interessante peça da história da primeira grande estrela do futebol Português. Temos agora a mais nova e a mais velha fotografia de Artur José Pereira. Entre elas AJ Pereira percorreu um trajecto tumultuoso cheio de polémicas e grandezas efémeras como só o futebol pode dar.

Nascido a 15 de Outubro de 1888, faleceu de tuberculose em 6 de Setembro de 1943. Tinha apenas 55 anos. Filme da vida, filme de imagens de um homem para recordar: Paz e honra à sua alma.


Artur José Pereira
(Belém, 15/10/1888 – Belém, 6/09/1943)


Apêndice: outras identificações

Em apêndice, por serem merecidas ficam aqui as outras possíveis identificações para esta equipa do Sport União Belenense. Em dois casos não foi possível fazer identificações, noutros três subsistem dúvidas mas em 6 deles a identificação é conclusiva. Aqui ficam os nomes destes pioneiros hoje esquecidos.




RedVC

#446
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Em homenagem a Guilherme Pinto Basto

18 de Junho de 1950. Estádio Nacional. Passam hoje 66 anos.


Guilherme Pinto Basto entrega a Taça Latina a Rogério Lantres de Carvalho.


Nesse dia, com 86 anos de idade, Guilherme Ferreira Pinto Basto, entregava com emoção a Taça Latina ao Glorioso Rogério Lantres de Carvalho. Ali se encontravam o mais virtuoso jogador daquela década com o primeiro de todos os pioneiros do futebol Português. E é sobre este ilustre pioneiro do futebol Português que o texto de hoje se desenvolverá. Uma pequena evocação de homenagem ao homem e à família que introduziu o futebol em Portugal.



A Gloriosa equipa que conquistou a Taça Latina em 18 de Junho de 1950. Em cima da esquerda para a direita: Moreira, Félix, Fernandes, Contreiras, José da Costa, Jacinto e Batos. Em baixo: Corona, Arsénio, Julinho, Rogério Pipi e Rosário.



Nesse dia luminoso para o SLB e para o futebol Português, estou certo que também o mais velho e prestigiado dos pioneiros do futebol Português foi Benfiquista. O Sport Lisboa e Benfica terá dado a Guilherme Pinto Basto uma das maiores emoções da sua longa vida desportista. assim, cerca de 62 anos após o dia em que terá acontecido o primeiro desafio de futebol em solo Lusitano e exclusivamente com Portugueses, o velho e ilustre desportista Português entregava a Taça Latina a Rogério Pipi.



Guilherme Ferreira Pinto Basto
(* Lisboa, Santa Catarina, 01.02.1864 † 26.07.1957)

Não sei o que Guilherme Pinto Basto terá dito a Pipi quando lhe entregou aquela linda Taça mas com certeza que a sua voz e palavras terão reflectido uma grande emoção. Ele sabia bem avaliar a importância daquela conquista. Ele que era um dos pais da introdução do futebol em Portugal.

Seis décadas depois do seu nascimento, o futebol Português conquistava por fim a primeira vitória numa competição internacional. O Sport Lisboa e Benfica, o mais popular, mais democrático e mais querido Clube Português conquistava por fim o reconhecimento e a glória Europeia.


O primeiro desafio público de futebol disputado em Portugal continental. O primeiro desafio público de futebol disputado em Portugal continental. Este desafio histórico disputou-se num domingo em Outubro de 1888, em Cascais, no Campo da Parada, num terreno adjacente ao Clube da Parada. Entre o grupo de praticantes participaram entre outros, diversos irmãos Pinto Basto, João Bregaro, o conselheiro Aires de Ornelas, Francisco Alte, Hugo O'Neil, o Visconde de Asseca, o Marquês de Borba, o Conde de S. Lourenço e Francisco Figueira. Fonte: Digitarq.


Não podendo, pela falta de conhecimentos e pela falta de material fazer uma biografia sintética competente ainda assim posso colocar aqui uma série de elementos que demonstram a grandeza e importância da contribuição deste homem ilustre, membro de uma família ilustre que tanto deu ao futebol Português. A família Pinto Basto teve diversos membros cuja contribuição para o desporto Português deverá sempre ser salientada.


Uma família bem relacionada

A família Pinto Basto era uma família rica e aristocrata tendo alguns dos seus membros assumido grande destaque social, comercial e político na sociedade Portuguesa do século XIX e princípio do século XX. Privaram com a família Real Portuguesa em múltiplos eventos políticos, festivos e desportivos.


Junho 1899, Guilherme Pinto Basto ao centro com uma raquete ao ombro. Sentado à sua frente está o Rei D. Carlos I igualmente com uma raquete. O Rei era ele mesmo um "Sportsman". Fonte: Revista Brasil-Portugal nº. 10.



Uma outra fotografia mais tardia com Guilherme Pinto Basto ao lado de D. Luís Filipe e do Inglês Gare. O lawn-tennis sempre como denominador comum. Fonte: AML.


Com essa proximidade, percebe-se que um dos dias mais dramáticos de Guilherme Pinto Basto terá sido o dia 1 de Fevereiro de 1908. Por ter nascido em 1 de Fevereiro de 1864, nesse dia trágico de 1908, Guilherme completava 44 anos de idade. Por volta da cinco da tarde estava no Terreiro do Paço para receber a família real que voltava de Vila Viçosa. Poucos minutos depois da recepção no cais de desembarque, viria a assistir horrorizado ao regicídio. O seu testemunho desse dia foi mais um dos que integrou o dossier de investigação criminal ao regicídio.



1 de Fevereiro de 1908. Desembarque da família Real no Cais das Colunas. Faltavam poucos momentos para o regicídio. Guilherme Pinto Basto esteve lá. Fonte: ocaisdamemoria.com.


A matriz Inglesa

Vários membros de pelo menos duas gerações de Pinto Basto estudaram em Inglaterra e de lá, atentos ao fenómeno social que por já tinha grande dimensão, trouxeram para Portugal continental as primeiras bolas de futebol. Dizem alguns relatos que a primeira bola que terá chegado a Portugal continental trazida por Guilherme Pinto Basto nem sequer terá chegado a servir para o seu fim original. Terá ficado preservada numa vitrina não tendo por isso levado pontapés com mais ou menos talento nem sequer motivado nenhum grito de "goal!" 

Assim se compreende que a matriz cultural dessas gerações de membros da família Pinto Basto era Inglesa. Estudaram em colégios Ingleses e identificavam-se com o espírito de uma educação e vivência virada para a vida ao ar livre e para a prática de desportos de associação (colectivos). Esse facto reflectiu-se também na proximidade com a comunidade Inglesa em Lisboa e a sua integração frequente em actividades desportivas e sociais com essa comunidade.

A primeira geração dos quais os mais destacados foram Guilherme Pinto Basto, Eduardo Luís Pinto Basto e Frederico Pinto Basto, promoveu alguns dos jogos de futebol mais famosos desse tempo e dos quais – para alguns - nos chegaram registos fotográficos. Jogos no mítico espaço do Campo Grande ainda antes da construção da Praça de touros.


Fonte Tiro Civil. Hemeroteca de Lisboa.


Jogo entre Portugueses (foto) e Ingleses em 22 Janeiro de 1889. Jogo disputado no Campo Pequeno, Lisboa. Identificam-se alguns membros da família Pinto Basto entre diversos outros pioneiros do futebol Português. Fotografia tirada num local de grande significado para o futebol Português. Fonte: digitarq


Guilherme Pinto Basto esteve aliás por trás da realização do primeiro desafio Lisboa – Porto em 1894, jogo patrocinado pelo Rei D. Carlos I que ofertou a taça.
 

Equipa de Lisboa que disputou em 1894 um jogo contra uma equipa do Porto. Comandada por Guilherme Pinto Basto (com a bola), considerado o introdutor do futebol em Portugal (1888). Está presente Carlos Villar (sentado à direita), outro pioneiro relevante. Vê-se também a Taça que foi oferecida ao vencedor pelo Rei D. Carlos I e que foi justamente conquistada após a vitória desta equipa lisboeta sobre a equipa da cidade do Porto. Fonte: AFL.

Não sendo aqui nem o tempo nem o espaço para falar deste importante desafio fica aqui um recorte da época



Uma longa e frutuosa contribuição ao Desporto em Portugal

Um outro facto notável e pouco conhecido é que a família Pinto Basto terá nesses anos finais do século XIX distribuído diversas bolas de futebol entre as forças militares da Marinha e do Exército Português. Nesses dias as bolas eram objectos raros e caros (importadas de Inglaterra). Isso diz bem do papel de promotores activos da prática desportiva entre a juventude Lisboeta da altura. Um papel activo de introdução e promoção do futebol que rapidamente se popularizou e expandiu a todo o Portugal.



Marinheiros a praticar futebol nos areais de Belém. Muito provavelmente aquela bola foi ofertada pela família Pinto Basto. Fonte: AML.


Aliás, duas outras contribuições mostram bem como esta família foi generosa e importante para a prática do desporto em Portugal. Em 1912, a viagem de barco da comitiva Portuguesa aos jogos Olímpicos de Estocolmo foi financiada pela família Pinto Basto. O mesmo se repetiria em Julho de 1913 em que uma comitiva de jogadores de futebol da Associação de Futebol de Lisboa se deslocou ao Brasil para jogar contra equipas Brasileiras. Nessa comitiva esteve integrado Eduardo Luís Pinto Basto, guarda redes e chefe da comitiva.
 


A comitiva olímpica (1912, Estocolmo) e de futebol (Brasil, 1913). Em ambos os casos as viagens foram financiadas pela família Pinto Basto. Fonte: digitarq.


Reconhecendo todas essas contribuições em 1938, celebrando os 50 anos do futebol em Portugal vários membros da primeira geração da família Pinto Basto foram homenageados numa festa grandiosa que decorreu no Estádio das Salésias, propriedade do Clube de Futebol "os Belenenses". Festa bem merecida.



Capa da revista Stadium nº 351 de 2 de Novembro de 1938.


Nesse dia de homenagem, Guilherme Pinto Basto terá dito sobre o futebol no seu tempo: "era uma brincadeira, jogava-se apenas entre pessoas que mantinham uma relação de amizade e de cortesia. Tínhamos todos condições e educação aproximadas. Não havia propriamente luta. O futebol era um divertimento próprio da idade. Não se falava nem se sonhava em futebol de campeonato, e menos ainda, de profissionalismo. Era tudo diferente...". Fonte: http://www.cascais.pt/livro/cascais-aqui-nasceu-o-futebol-em-portugal-18881928


Juntamente com membros da família Villar e outros pioneiros, a segunda geração de membros da família Pinto Basto veio a fundar em 1902 o FC Swifts, imediato precursor para que em 1905, fosse fundado o Club Internacional de Futebol. Nessa altura terá sido pensada a hipótese de ressuscitar o Foot-ball Club Lisbonense mas essa hipótese acabou por cair. Estas datas não são totalmente pacíficas e não será este o tempo e espaço para se falar nisso.



As duas gerações da família Pinto Basto que se dedicaram ao futebol. Existiram outros mas estes homens foram os mais destacados. A segunda geração fundou o CIF, Clube Internacional de Futebol, fundado em 1905.


Seria aliás no decurso de dois jogos disputados em finais de 1903 nas terras do Desembargador contra o grupo dos Pinto Basto (futuro CIF) que a rapaziada do Football Club e da Associação do Bem - isto dito de forma extremamente simplista - terá provavelmente tido a ideia de fundar um Clube.

Conforme nos disse Cosme Damião: "a ideia do Clube veio depois do prazer da vitória"

E assim se pode dizer que o grupo dos Pinto Basto esteve intimamente ligado à fundação do Sport Lisboa, mais tarde Sport Lisboa e Benfica.

E assim se cumpriu. Uns meses mais tarde nascia em 28 de Fevereiro de 1904 o Sport Lisboa, que quatro anos mais tarde se uniria com o Grupo Sport Benfica para se passar a chamar Sport Lisboa e Benfica.

Tendo estado na fundação do primeiro rival do Sport Lisboa e Benfica, e tendo sido os principais introdutores e promotores do futebol em Portugal, os Benfiquistas deverão por isso mesmo respeitar muito e admirar a obra da família Pinto Basto e da família Villar na constituição do Clube Internacional de Futebol, o CIF.

Esta rivalidade SLB vs CIF foi uma das primeiras do nosso futebol e sendo intensa foi bem mais saudável do que a que se seguiu. O CIF regeu-se sempre por princípios nobres e de promoção e prática do futebol no seu espírito amador mais puro. Por opção própria o clube rejeitou o profissionalismo cada vez mais voraz que os anos 20 do século XX trouxeram ao futebol Português. O CIF é hoje um clube pequeno mas que respeita as suas nobres tradições, continuando a promover a actividade desportiva amadora no seu parque desportivo em Monsanto, Lisboa.



A primeira rivalidade clubística Lisboeta: Sport Lisboa e CIF. Os jogadores de ambas as equipas posam juntos depois de um jogo ardorosamente disputado. Foram estas as cores dos primeiros dérbis Lisboetas. Fonte: AML.


Durante a sua vida Guilherme Pinto Basto foi um empresário bem-sucedido. Juntamente com outros membros da família desenvolveram uma empresa da família, a E. Pinto Basto & Cª Lda. Foi também sócio gerente da fábrica de porcelanas da Vista Alegre, empresa que aliás tinha sido fundada em 1824 pelo seu avô, José Ferreira Pinto Basto.


Reconhecendo a enorme contribuição pública para o nosso País, Guilherme seria distinguido com diversas condecorações tendo sido nomeado Comendador da Ordem de Cristo em Portugal, Cavaleiro da Legião de Honra de França, e Comendador da Real Ordem do Danebor da Dinamarca.

Ao longo da sua longa e prestigiada vida Guilherme Pinto Basto manteve diversas ligações ao futebol Português e ao desporto Português. Fez parte da primeira Direcção co Comité Olímpico:
Presidente de Honra: Conde de Penha Garcia
Presidente: Dr. Jayme Mauperrin Santos
Vice-presidentes: Dr. António de Lencastre, Charles Bleck e Manuel Egreja.
Secretário-geral: Dr. José Pontes
Secretários: Aníbal Pinheiro, Armando Machado e Duarte Rodrigues
Membros: Álvaro de Lacerda, Dr. António Osório, Daniel Queiroz dos Santos, Fernando
Correia, Guilherme Pinto Basto, D. Manuel da Cunha e Menezes, Pedro del Negro, Dr. Pinto de Miranda e o Dr. Sá e Oliveira.



Fonte: Joao Marreiros - "I Congresso Olimpico Nacional.


Foi também uma figura frequentemente ligada à Associação de Futebol de Lisboa. Foi sempre uma figura ouvida, respeitada e de quem se teve sempre uma contribuição digna e respeitosa.



5 de Junho de 1938. Entrega de prémios de "melhor espírito desportivo" da Associação de Futebol de Lisboa a diversos desportistas. Reconhecem-se os Benfiquistas Manuel da Conceição Afonso e Guilherme Espírito Santos. Guilherme Espírito Santo está em cima à direita. Fonte: digitarq.



Guilherme Pinto Basto e sua família já numa fase avançada da sua vida. Distinguem-se também de entre os seus numerosos ilhos, Fernando e Eduardo Luís, os homens decisivos da 2ª geração de desportistas da família. Desconheço a data e a fonte da fotografia.


Guilherme Ferreira Pinto Basto faleceu em Lisboa a 26 de Julho de 1957 com a idade de 93 anos. Paz e honra à sua memória.



M1904

Mais uma vez vou ter que repetir, excelente trabalho!   O0

Curioso o Team de Lisbonense usar o branco e vermelho segundo a noticia do jornal (quando as cores da cidade são o preto e branco usados desde a idade média). Sempre tive essa duvida, pois já vi referenciado que tinham usado o preto e branco.

Erradamente e propositadamente há quem tente passar esse jogo (entre uma seleção de Lisboa e uma do Porto) como um jogo do FCP contra Lisboa/Club Lisbonense, até para justificar a tal fundação de 1893... estórias dentro da história.

O Porto era constituído por jogadores do Ocriket Clube do Porto e do Velo Clube do Porto, e Lisboa por Carcavelos, Club Lisbonense e Cruz-Quebrada. A taça encontra-se no Museu do CIF, pois ficou na mão de Pinto Basto do Club Lisbonense, a raiz ou uma das raízes do CIF.

Fake Blood

Este Mike arranjou uma foto da Farmácia Franco colorida, epá hands down  :bow2: :bow2: :bow2: :bow2:

RedVC

Citação de: M1904 em 21 de Junho de 2016, 12:26
Mais uma vez vou ter que repetir, excelente trabalho!   O0

Curioso o Team de Lisbonense usar o branco e vermelho segundo a noticia do jornal (quando as cores da cidade são o preto e branco usados desde a idade média). Sempre tive essa duvida, pois já vi referenciado que tinham usado o preto e branco.

Erradamente e propositadamente há quem tente passar esse jogo (entre uma seleção de Lisboa e uma do Porto) como um jogo do FCP contra Lisboa/Club Lisbonense, até para justificar a tal fundação de 1893... estórias dentro da história.

O Porto era constituído por jogadores do Ocriket Clube do Porto e do Velo Clube do Porto, e Lisboa por Carcavelos, Club Lisbonense e Cruz-Quebrada. A taça encontra-se no Museu do CIF, pois ficou na mão de Pinto Basto do Club Lisbonense, a raiz ou uma das raízes do CIF.

Obrigado M1904  O0

A satisfação da partilha equivale à satisfação quando vejo que existe um pequeno grupo de pessoas que aprecia estas pesquisas.

É de facto interessante a escolha das cores. Terá sido intencional ou fortuita? A presença de Ingleses terá influenciado? Simples acaso? Seria o equipamento de outro grupo? Não sabemos.

Aparentemente os três primeiros grupos a praticar o futebol na região de Lisboa terão sido o Foot-Ball Club Lisbonense também designado Club Lisbonense, o Ginásio Clube Português e o Carcavellos Club (tenho ideia que numa primeira fase o seu nome era ligeiramente diferente). Ao que sei jogavam essencialmente no Campo Pequeno e na Quinta Nova em Carcavellos.

Teria de verificar mas tenho ideia forte que as cores destes "teams" era outras que não esta camisola esquartelada vermelha e branca. Por isso o mistério continua.

Ao que parece por volta de 1890 já existiam numerosos grupos a praticar o futebol. Terá existido um primeiro surto de grande exuberância futebolística em Lisboa. Depois com os problemas sociais e económicos e com a questão do ultimatum Inglês o futebol tornou-se mal visto. Isto para além da sociedade ver mal que os jovens andassem a correr uns atrás de outros de cuecas...

É pena o CIF não ter ou não partilhar devidamente o material e conhecimento que têm (terão?) desse período pioneiro. Talvez subsista material por explorar no lado dos descendentes da família Pinto Basto e família Villar.

Seria no principio de 1903 e 1904 que se daria um novo impulso. O Sport Lisboa foi parte fundamental desse novo impulso. Poucos sobreviveram. Nós sobrevivemos por causa de termos gente com cabeça e coragem que não teve medo de prosseguir. Gente que definiu os valores do Clube, as cores e o símbolo. Gente que praticou o futebol nas mais difíceis condições. A mística e a adesão popular vieram cedo. Tudo isso explica que tenhamos sobrevivido. Como naquele filme se dizia "O princípio é um tempo muito delicado". E foi mas sobrevivemos.

Ainda haverá coisas para revelar? Talvez. Vamos em busca. Com o tempo mais virá.